domingo, 2 de setembro de 2018

Reflexão 1. EMERGENTE: A IGREJA DA PÓS-MODERNIDADE

“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12.2).

Utopia é uma palavra que provém do  grego e equivale a lugar que não existe; a palavra nomeia uma de obras de Thomas More, escritor inglês, inspirada talvez por Américo Vespúcio, navegante que voltava de sua expedição à América e falava sobre uma ilha paradisíaca, o lugar ideal para a construção da sociedade perfeita. Com as grandes conquistas da modernidade, no século XIX, o homem do mundo ocidental criou um objetivo semelhante, imaginando que, com tanto avanço da ciência, a razão humana seria capaz de criar uma sociedade com progresso constante, onde todos os problemas humanos seriam resolvidos. Muitas mudanças ocorreram após a Revolução Francesa e esperava-se que o século XX fosse o período áureo da história da humanidade.

Iniciado o novo século, o que se viu foi uma sucessão de guerras (I, II, Vietnã, Coreia, Guerra Fria) e catástrofes (Grande Depressão Econômica, Holocausto, início da Era Atômica, terrorismo), que acabaram por demolir as ideias utópicas modernas, substituindo-as por uma grande frustração pós-moderna. De repente, valores como o bem e a verdade não são mais absolutos, eternos, universais ou imutáveis; ao contrário, são social e historicamente construídos, tão mutáveis quanto a vida humana. Não há mais bem ou mal, não há crenças universais que deem sentido ao mundo, casamento e educação se transformaram. Convivemos com o caos, a relativização e a instantaneidade das coisas, com a deterioração da legitimidade da autoridade. Valores da civilização ocidental foram postos em dúvida, substituídos por novas ideologias presentes na vida do homem pós-moderno: materialismo, edonismo, permissivismo,  relativismo, nihilismo, consumismo, pluralismo, secularização. Crendo na inexistência da verdade absoluta e da ética comum, a pós-modernidade provoca o surgimento de uma nova religião e de uma nova ética, apontando para um novo tempo, ainda não delineado, mas de superação da atual condição. “Que estratégias devem ser usadas para levar o evangelho à geração pós-moderna? A igreja institucional tem sido boa representante de Cristo? Qual o limite entre a contextualização e o sincretismo religioso? Até que ponto devemos mergulhar nas diferentes culturas urbanas para pregar o evangelho?” Perguntas sinceras merecem consideração e o relacionamento igreja-cultura precisa ser discutido. Conforme já se afirmou, na história da Igreja, houve uma tendência de adequação ao pensamento, valores e ideologias nas diferentes eras pelas quais a organização tem passado. No mundo pós-moderno, a igreja emergente é uma dessas tentativas.

O que é uma igreja emergente? Um site ligado ao movimento responde: “A igreja emergente é um movimento da igreja protestante (...) com a finalidade de alcançar a geração pós-moderna. Refletindo as necessidades e os valores percebidos desta geração, as igrejas emergentes enfatizam o autêntico, a expressão criativa e uma perspectiva sem julgamentos, procurando reavaliar as doutrinas”. Buscando honrar e servir a igreja em todas as suas formas – católica romana, protestante, pentecostal, reformada, luterana, e procurando ser receptivos e inclusivistas com todos os irmãos em Cristo, “ao invés de elitistas e críticos”, alguns grupos têm ido além da irmandade cristã, na inclusão de muçulmanos, budistas, crenças hindus, num ecletismo preocupante. Uma das propostas é: “Queremos oferecer às pessoas um local onde elas possam se sentir parte antes mesmo de acreditar”. Embora o movimento seja decentralizado, em 2006 foi fundada a Convenção Brasileira de Igrejas Emergentes, nos seguintes termos: “Foi iniciada no dia 2 de janeiro de 2006, com apoio da Emergent Village dos EUA, a Convenção Brasileira de Igrejas Emergentes, com o propósito de apoiar pessoas que desejam iniciar novas Igrejas no Brasil, proporcionar contatos de líderes brasileiros com líderes americanos e fornecer material para pessoas interessadas em Igrejas Emergentes.”

O Cristianismo Ortodoxo tem identidade denominacional, com ênfase na Palavra e na ação de crer, num sistema doutrinário definido, com zelo pela tradição; é restritivista quanto à salvação e pratica o conservadorismo teológico num culto teocêntrico. A Igreja Emergente não tem identidade, focaliza sua ênfase nos relacionamentos e na ação de pertencer, não possui sistema doutrinário definido e protesta contra a tradição; quanto à salvação é universalista, num liberalismo teológico e na prática de um culto antropocêntrico. Em nome da forma, não se pode comprometer o conteúdo do evangelho. Ser relevante culturalmente é bom, mas o evangelho sempre será loucura e escândalo para os incrédulos e, ao tentar torná-lo mais atraente, podemos acabar convertendo-o em algo que ele não é. Conforme afirma Walter Henegar: “Os escritores emergentes podem diagnosticar corretamente as sensibilidades pós-modernas, mas suas prescrições tendem a se conformar e não a transformar”. Transformação e não conformação deve ser a postura do cristão e da Igreja em qualquer época histórica, inclusive na Pós-Modernidade.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...