segunda-feira, 13 de julho de 2020

12. OS BÁRBAROS

As invasões e a conversão dos bárbaros ao Cristianismo são episódios históricos muitas vezes envoltos em lendas. Um dos fatos é o de Bonifácio, enviado pelo Papa para evangelizar a Alemanha e que, na floresta sagrada de Thor, derrubou o imponente carvalho consagrado ao deus bárbaro erguendo seu machado e provocando uma lufada de ar soprada por Deus. Segundo Shelley, “os monges missionários venceram a magia dos bárbaros invocando poderes superiores: Deus soprou e a árvore caiu”. Com a madeira da árvore foi construída uma capela consagrada a Pedro. Na conversão dos bárbaros, a civilização que surgiu das ruínas da invasão tinha caráter cristão somente porque os invasores submeteram ao Cristianismo os seus deuses, não os seus exércitos.

Inicialmente, para os gregos, bárbaro era todo aquele que não falava a sua língua. Com a Grécia dominada pelo império romano, Roma encampou o conceito. Historicamente, os germânicos eram originários da Escandinávia e espalharam-se pelo norte da Europa, tendo diferentes nomes, como vândalos, francos, anglos, saxões, godos, lombardos, borgonheses e outros. Segundo o historiador Tácito, os germânicos eram “beberrões e jogadores”, porém também eram “homens corajosos, respeitadores da mulher, sem os vícios romanos, apreciadores das lendas de seus heróis e deuses”. Eram ainda belicosos e fiéis a seus comandantes. Inicialmente, eles sofreram influência do comércio romano e entraram no Império como escravos; passaram a ocupar terras desocupadas, serviram no exército romano e tornaram-se maioria na corporação e na liderança.

A invasão dos bárbaros germânicos no século IV se deu em ondas, com três mais significativas. A primeira delas aconteceu em 410, com Alarico e seus visigodos; a segunda foi liderada por Genserico e seus vândalos, em 455. Entre as duas, aconteceu o episódio do Papa Leão I, que negociou com Atila fora dos muros de Roma, salvando a cidade da destruição. 476 marcou o fim do Império Romano do Ocidente com a terceira invasão. Nela, Odoacro matou o bárbaro Orestes, que havia colocado seu filho Rômulo Augusto como imperador romano. Odoacro destronou o último imperador.

Quanto à conversão dos bárbaros ao Cristianismo, ela aconteceu de acordo com dois pontos de origem: diretamente do paganismo; indiretamente, da “heresia ariana”, que começou no final do século IV com Úlfilas, o missionário entre os godos, cuja fé se propagou por outras tribos. Da Irlanda, Patrício pregou aos celtas no início do século V. O monge irlandês Columba construiu um monastério em Iona. Inicialmente, o Cristianismo cresceu nas Ilhas Britânicas de forma independente do poder papal. Agostinho de Canterbury ali atuou enviado pelo papa romano no final do século VI, começando pela região de Kent e prosseguindo para o norte. Da Inglaterra surgiu Bonifácio, chamado de Vinfredo, enviado pelo Papa no final do século VIII para evangelizar a Alemanha, cujo relato inicia esse texto.

“Se me concederes a vitória, crerei em ti e me farei batizar”. Dita antes de uma batalha decisiva, esta frase de Clóvis (c. 466-511), o primeiro rei dos Francos a unir todas as tribos francas sob um único governante, alterando a forma de liderança de um grupo de chefes tribais para um governo de um único rei e assegurando que o reinado era passado para os seus herdeiros, soa muito parecida com a experiência da “conversão” de Constantino, mais e um século antes.

A "conversão individual" a Cristo do início do Cristianismo, seguida do batismo, aceita e praticada até hoje pelos protestantes conservadores, foi sendo substituída na história da Igreja pela "conversão em massa", inicialmente por conveniência social a partir da oficialização do Cristianismo, aconteceu novamente na época ora focalizada com os bárbaros, por conveniência de expansão da fé cristã. Ela parece se assemelhar a uma barganha com Deus, algo que aparentemente não desapareceu na prática cristã de nossos dias.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...