No Velho Testamento, a cidade de Samaria era a capital do Reino de Israel da parte norte após a divisão. Devido à sua posição estratégica no alto de um monte, os assírios só puderam capturá-la depois de um cerco de três anos. Séculos após, Herodes reconstruiu-a e chamou-a Sebaste. Na época do Novo Testamento, Samaria era o nome dado a todo o distrito central da Palestina a oeste do Jordão. Povo bíblico que viveu em Samaria depois que os assírios levaram cativo o Reino do Norte, os samaritanos tinham sangue tanto israelita quanto gentio, sendo sua religião uma mistura de crenças e práticas judaicas e pagãs. A “Parábola do Bom Samaritano” mostra o ódio que os judeus tinham aos samaritanos por não serem puramente da nação judaica. O Senhor Jesus orientou os apóstolos para que pregassem o evangelho aos samaritanos. Apesar de Lucas indicar que Jesus foi rejeitado em uma aldeia de samaritanos, seu evangelho mostra que havia boas qualidades neles; foi um leproso samaritano que voltou para agradecer a Cristo por sua purificação. Atualmente, um pequeno grupo de samaritanos continua residindo em Nablus e em Jafa, hoje um subúrbio de Telavive. Em 1972, havia cerca de 500 deles em Holon e em Nablus (Siquém), onde vive o sumo sacerdote samaritano. O monte Gerizim continua sendo sua montanha sagrada e o sábado é rigidamente observado.
Portanto, samaritano
nos tempos do Novo Testamento representava o descendente de judeus que, por
circunstâncias históricas, havia deixado de ser puramente filho de Abraão e
seguidor do judaísmo; era um judeu diferenciado. Nos nossos dias,
existem seres humanos diferenciados, formando por vezes grupos
minoritários desprezados pela sociedade e pelo governo, que enfrentam tremendas
dificuldades na vida que lhes foi imposta ou, às vezes, por eles mesmos
escolhida. As cidades possuem em suas ruas moradores sem teto, grupos
sem-terra, drogados que dependem do uso de substâncias nocivas para viverem.
São seres humanos como nós, pessoas pelas quais Jesus morreu e que precisam ser
alcançados pelo evangelho. Atuando na sociedade organizada ou entre os
samaritanos atuais, a mensagem do evangelho nos garante que, por meio de Jesus,
Deus veio a este mundo tal como é, para estar nesta terra de misérias,
desespero, crimes, corrupção e sujeira.
O sistema econômico
atual, as condições de vida impostas à sociedade e o próprio relacionamento
familiar dos seres humanos, muitas vezes, têm gerado a existência de grupos
minoritários formados por seres humanos diferenciados. Os excluídos da
sociedade formam um mundo próprio, separado, com sua própria cultura e relações
sociais. A cultura dos excluídos está presente nas cidades, constituída muitas
vezes de fragmentos da cultura rural desintegrada em meio a uma cultura
dominante que não os aceitou. Talvez seja mais difícil ser missionário no mundo
dos excluídos do próprio país e da própria cidade do que ser missionário na
África ou na Ásia, porque a resistência psicológica é maior. É mais fácil
reconhecer a diferença da cultura indiana ou chinesa do que a diferença da
cultura dos excluídos próximos a nós.
Quem penetra numa
cultura desconhecida, logo fica perturbado pelos seus vícios e imperfeições. A
primeira coisa que se percebe são os defeitos. Foi isso que aconteceu no
passado, quando missionários alcançaram a América, a Ásia e a África: ficaram
chocados com os vícios e com a miséria corporal, moral e espiritual dos povos
primitivos que pretendiam evangelizar. Ainda hoje os esforços fracassam porque
não conhecem a cultura e não sabem como entrar nesse novo ambiente. Pessoas ali
convivem com a miséria física na forma de fome, carências e insegurança, na
falta de condições mínimas para o desenvolvimento normal da vida humana; além
da miséria física, existe a miséria moral, numa cultura na qual quadrilhas
geram roubo, violência, drogas, prostituição, estupro e crianças abandonadas.
Não podemos nos
iludir, pensando que atuar junto a famílias de presidiários, por exemplo, seja
uma tarefa fácil. É difícil e perigosa, conforme já ouvimos testemunhos de
missionários que lá atuam, principalmente diante do que o crime organizado no
Brasil tem feito com a igreja evangélica, aproveitando-se dela para atingir
seus propósitos mais reprováveis e ilegais. Vejam o que o pastor Edmar
Pedrosa afirma no seu livro “PCC e Igreja Evangélica – um casamento até que a
Bíblia os separe”: “Aproveitando a maneira de pensar desta geração atual,
integrantes do PCC, usando linguagem cristã, porém desprovida e abolida
completamente de conteúdo cristão, indiretamente trouxeram para o meio
evangélico uma visão de que é completamente possível ser um cristão fiel e usar
drogas ao mesmo tempo, sem o menor problema e sem a menor incompatibilidade
entre ambos. Em alguns casos, chegam a defender que uma coisa não só
complementa a outra como é 'conditio sine qua non' para se
viver com Deus e receber a iluminação e o entendimento das Escrituras”. Segundo
lemos na obra, há uma verdadeira identificação entre o criminoso atual e o
ladrão arrependido da cruz de Cristo, pois entendem eles que, assim como Cristo
perdoou o ladrão, ele faz o mesmo com os integrantes do crime organizado hoje;
eles se esqueceram de um pequeno detalhe que está nas Escrituras: a necessidade
de arrependimento. Esta é, sem dúvida, uma das Samarias mais problemáticas que
precisa ser alcançada pelo evangelho.
Igrejas locais já
acompanharam ou ainda acompanham a deterioração do centro de cidades e a
formação de grupos como aqueles que foram citados, nossa Samaria de hoje nas
grandes metrópoles. No passado, começando por Jerusalém, o evangelho foi
pregado na Judeia, em Samaria e alcançou os confins do Império Romano e da
terra. Em nossos dias, isto precisa continuar a ser feito. Ao lado da cruz de
Jesus Cristo estava pregado o ladrão que foi salvo e que tem sido tão
erradamente usado como exemplo pelo crime organizado; ele ilustra bem o alcance
da obra de Cristo, pois, até na hora extrema, o homem pode se arrepender de
seus pecados e ser salvo, se realmente permitir o novo nascimento e a
regeneração pelo Espírito de Deus.