sexta-feira, 27 de julho de 2018

Reflexão 6. PREGANDO EM SAMARIA NO SÉCULO XXI


No Velho Testamento, a cidade de Samaria era a capital do Reino de Israel da parte norte após a divisão. Devido à sua posição estratégica no alto de um monte, os assírios só puderam capturá-la depois de um cerco de três anos. Séculos após, Herodes reconstruiu-a e chamou-a Sebaste. Na época do Novo Testamento, Samaria era o nome dado a todo o distrito central da Palestina a oeste do Jordão. Povo bíblico que viveu em Samaria depois que os assírios levaram cativo o Reino do Norte, os samaritanos tinham sangue tanto israelita quanto gentio, sendo sua religião uma mistura de crenças e práticas judaicas e pagãs. A “Parábola do Bom Samaritano” mostra o ódio que os judeus tinham aos samaritanos por não serem puramente da nação judaica. O Senhor Jesus orientou os apóstolos para que pregassem o evangelho aos samaritanos. Apesar de Lucas indicar que Jesus foi rejeitado em uma aldeia de samaritanos, seu evangelho mostra que havia boas qualidades neles; foi um leproso samaritano que voltou para agradecer a Cristo por sua purificação. Atualmente, um pequeno grupo de samaritanos continua residindo em Nablus e em Jafa, hoje um subúrbio de Telavive. Em 1972, havia cerca de 500 deles em Holon e em Nablus (Siquém), onde vive o sumo sacerdote samaritano. O monte Gerizim continua sendo sua montanha sagrada e o sábado é rigidamente observado.

Portanto, samaritano nos tempos do Novo Testamento representava o descendente de judeus que, por circunstâncias históricas, havia deixado de ser puramente filho de Abraão e seguidor do judaísmo; era um judeu diferenciado. Nos nossos dias, existem seres humanos diferenciados, formando por vezes grupos minoritários desprezados pela sociedade e pelo governo, que enfrentam tremendas dificuldades na vida que lhes foi imposta ou, às vezes, por eles mesmos escolhida. As cidades possuem em suas ruas moradores sem teto, grupos sem-terra, drogados que dependem do uso de substâncias nocivas para viverem. São seres humanos como nós, pessoas pelas quais Jesus morreu e que precisam ser alcançados pelo evangelho. Atuando na sociedade organizada ou entre os samaritanos atuais, a mensagem do evangelho nos garante que, por meio de Jesus, Deus veio a este mundo tal como é, para estar nesta terra de misérias, desespero, crimes, corrupção e sujeira.

O sistema econômico atual, as condições de vida impostas à sociedade e o próprio relacionamento familiar dos seres humanos, muitas vezes, têm gerado a existência de grupos minoritários formados por seres humanos diferenciados. Os excluídos da sociedade formam um mundo próprio, separado, com sua própria cultura e relações sociais. A cultura dos excluídos está presente nas cidades, constituída muitas vezes de fragmentos da cultura rural desintegrada em meio a uma cultura dominante que não os aceitou. Talvez seja mais difícil ser missionário no mundo dos excluídos do próprio país e da própria cidade do que ser missionário na África ou na Ásia, porque a resistência psicológica é maior. É mais fácil reconhecer a diferença da cultura indiana ou chinesa do que a diferença da cultura dos excluídos próximos a nós.

Quem penetra numa cultura desconhecida, logo fica perturbado pelos seus vícios e imperfeições. A primeira coisa que se percebe são os defeitos. Foi isso que aconteceu no passado, quando missionários alcançaram a América, a Ásia e a África: ficaram chocados com os vícios e com a miséria corporal, moral e espiritual dos povos primitivos que pretendiam evangelizar. Ainda hoje os esforços fracassam porque não conhecem a cultura e não sabem como entrar nesse novo ambiente. Pessoas ali convivem com a miséria física na forma de fome, carências e insegurança, na falta de condições mínimas para o desenvolvimento normal da vida humana; além da miséria física, existe a miséria moral, numa cultura na qual quadrilhas geram roubo, violência, drogas, prostituição, estupro e crianças abandonadas.

Não podemos nos iludir, pensando que atuar junto a famílias de presidiários, por exemplo, seja uma tarefa fácil. É difícil e perigosa, conforme já ouvimos testemunhos de missionários que lá atuam, principalmente diante do que o crime organizado no Brasil tem feito com a igreja evangélica, aproveitando-se dela para atingir seus propósitos mais reprováveis e ilegais. Vejam o que o pastor Edmar Pedrosa afirma no seu livro “PCC e Igreja Evangélica – um casamento até que a Bíblia os separe”: “Aproveitando a maneira de pensar desta geração atual, integrantes do PCC, usando linguagem cristã, porém desprovida e abolida completamente de conteúdo cristão, indiretamente trouxeram para o meio evangélico uma visão de que é completamente possível ser um cristão fiel e usar drogas ao mesmo tempo, sem o menor problema e sem a menor incompatibilidade entre ambos. Em alguns casos, chegam a defender que uma coisa não só complementa a outra como é 'conditio sine qua non' para se viver com Deus e receber a iluminação e o entendimento das Escrituras”. Segundo lemos na obra, há uma verdadeira identificação entre o criminoso atual e o ladrão arrependido da cruz de Cristo, pois entendem eles que, assim como Cristo perdoou o ladrão, ele faz o mesmo com os integrantes do crime organizado hoje; eles se esqueceram de um pequeno detalhe que está nas Escrituras: a necessidade de arrependimento. Esta é, sem dúvida, uma das Samarias mais problemáticas que precisa ser alcançada pelo evangelho.

Igrejas locais já acompanharam ou ainda acompanham a deterioração do centro de cidades e a formação de grupos como aqueles que foram citados, nossa Samaria de hoje nas grandes metrópoles. No passado, começando por Jerusalém, o evangelho foi pregado na Judeia, em Samaria e alcançou os confins do Império Romano e da terra. Em nossos dias, isto precisa continuar a ser feito. Ao lado da cruz de Jesus Cristo estava pregado o ladrão que foi salvo e que tem sido tão erradamente usado como exemplo pelo crime organizado; ele ilustra bem o alcance da obra de Cristo, pois, até na hora extrema, o homem pode se arrepender de seus pecados e ser salvo, se realmente permitir o novo nascimento e a regeneração pelo Espírito de Deus.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...