segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Reflexão 2. A IGREJA E AS DIFERENTES ERAS HISTÓRICAS

Na história da humanidade, a Idade Antiga (ou Antiguidade) é o período que se inicia com o desenvolvimento da escrita pelos sumérios (cerca de 4000 anos a.C.) e termina com a queda do Império Romano do Ocidente (em 476 da Era Cristã). O período compreende as civilizações egípcia, a mesopotâmica, a hebraica, a fenícia e a persa. Também foi na Antiguidade que surgiu a civilização grega, bem como o Império Romano. Os gregos trouxeram contribuições importantíssimas à cultura ocidental, com a criação do teatro, da matemática, da história, da medicina e das artes plásticas, todas essas realizações, porém, partindo da filosofia.

Filosofia significa “amor à sabedoria”, ciência iniciada na Grécia Antiga, a partir do século VI a.C., com alguns pensadores que, com esforço pessoal, intelectual e intuitivo, chegaram a conclusões sobre a natureza humana e o universo. Tales de Mileto e Pitágoras foram filósofos matemáticos, sendo seus teoremas utilizados até hoje. Surgiram os sofistas, como Protágoras, que afirmava: "O homem é a medida de todas as coisas". Foram criadas as escolas socrática, platônica e aristotélica.

O Cristianismo surgiu na Antiguidade, quando tudo isso já estava elaborado e exercendo grande influência no Império Romano, inclusive sobre a Província da Judeia. Jesus Cristo foi um mestre sem precedentes. É espantosa a oralidade dos seus ensinos e a fidelidade aos mesmos demonstrada por seus apóstolos e discípulos. Quando a Igreja começou no Pentecostes, não dispunham seus líderes de nenhum texto evangélico escrito que pudesse ser consultado, a não ser o Antigo Testamento, que refletia as crenças do judaísmo e as profecias que anunciavam a vinda do Messias. Foi esse o material utilizado por Pedro, por Estêvão e pelos demais líderes cristãos na propagação inicial do evangelho, além de poderem compartilhar sua própria experiência pessoal com o Senhor Jesus. No entanto, se o Novo Testamento ainda seria redigido no primeiro século, a filosofia grega já tinha seus textos e suas escolas devidamente formadas e organizadas. Não foi, portanto, sem razão que os líderes cristãos iniciais quisessem adaptar a mensagem do evangelho do evangelho àquilo que os gregos entendiam como válido.   

A Patrística, do segundo século em diante, foi um período que se caracterizou pelo resultado dos esforços iniciais dos apóstolos e também dos chamados “Pais da Igreja”, para conciliar a nova religião com o pensamento filosófico mais corrente da época entre os gregos e os romanos. Justino, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de Nazianzo, Basílio, Gregório de Nissa e outros representam a primeira tentativa de aproximar o cristianismo de determinados princípios da filosofia grega. Quanto ao governo, Igreja e poder imperial andaram juntos, quando Papas e Imperadores se influenciavam mutuamente na liderança dos respectivos poderes.

Já em plena Idade Média, a Escolástica, a partir do século onze, foi um período no qual o Cristianismo sofreu bastante influência do pensamento socrático e platônico. A Renascença, nos séculos XIV a XVI, redescobriu trabalhos de grandes autores e artistas gregos e romanos da Antiguidade, além de introduzir o antropocentrismo.

No século XV, ocorreram grandes acontecimentos históricos, como a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453, a criação da imprensa móvel por Gutemberg em 1456, as grandes navegações transoceânicas empreendidas por povos europeus, começando por Portugal e Espanha, além do já citado Renascimento, que teve seu apogeu na época, iniciado que fora anteriormente ao século XV.

O mundo ocidental começou a passar por grandes transformações, que vão ocasionar o surgimento da Modernidade. A Reforma Protestante a partir de Lutero aconteceu no início do período moderno, com a expansão marítima europeia, a revolução comercial, o mercantilismo, o colonialismo europeu nas terras recém-descobertas, o absolutismo e o iluminismo. Já no século XVIII, revoltas populares na França culminaram com a Revolução Francesa, em 1789, trazendo novos parâmetros para o pensamento político, econômico, filosófico e religioso da época, os quais exercem grande influência no mundo ocidental, mesmo nos dias de hoje. Alguns historiadores costumar considerar os acontecimentos posteriores à Revolução Francesa como Era Contemporânea. Preferimos estender a Modernidade até o início do século XX. Acontecimentos como a Revolução Industrial e a independência de muitas colônias que se constituíram nos países atuais, inclusive o Brasil, marcaram o período, com o amadurecimento das ideias iluministas disseminadas pela Revolução Francesa e o progresso científico na busca de novos conhecimentos para entender o homem e a sociedade. Buscaram-se então novas alternativas para a convivência social, como o sistema comunista de Karl Marx, além da reivindicação pela quebra do estado disseminado pelos anarquistas. O capitalismo se consolidou como hegemonia no sistema político e econômico do globo.

Segundo os historiadores, a Idade da Razão foi realmente um dos períodos de maior esperança na história da humanidade. Tudo levava a crer que o século XX seria a era que centralizaria a solução para todos os problemas humanos, transformando a terra num paraíso.

domingo, 5 de agosto de 2018

Reflexão 3. ÉDEN, DESERTO, COTIDIANO


Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre”. (1 João 2:15-17)

Na sua primeira epístola, João nos diz que “aquele que diz que está nele”, em Cristo, “também deve andar como ele andou”. É fácil “andar como Cristo andou” neste mundo? É fácil estar no mundo, mas não ser do mundo? Temos as mesmas necessidades do ser humano comum. Como então procurarmos estar livres do pecado? Como é que o pecado entra no ser humano, na igreja, no mundo? Baseados no texto acima, existem três portas de entrada para o pecado: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Vamos examinar como estas portas foram usadas em três situações na história da humanidade: no Éden, no deserto e no nosso cotidiano.

Concupiscência é definido como “desejo intenso de bens ou gozos materiais, soberba”. Deus criou os céus e a terra no princípio, e tudo era na avaliação divina “muito bom”. O homem foi criado sem pecado, sem imperfeição, “à imagem e semelhança de Deus”. Colocado no Éden, tinha todas as condições para lá viver eternamente na presença de Deus. Bastava tão somente não comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. No entanto, entre a árvore da vida e a da ciência, o homem preferiu ter o conhecimento do que desfrutar da eternidade. Gênesis 3.6 assim afirma: “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela”. Aí estão as três portas já citadas:  a mulher viu que aquela árvore era boa para se comer (concupiscência da carne), agradável aos olhos (concupiscência dos olhos) e árvore desejável para dar entendimento (soberba da vida). No Éden, representando toda a raça humana, a mulher entrou pelas três portas.

Embora tendo Deus criado tudo de modo perfeito, com a queda do homem e entrada do pecado no mundo, o Criador providenciou desde logo um caminho de redenção para a humanidade: da semente da mulher, através de um povo seu criado para a sua glória, veio o Redentor, Jesus, o Cristo de Deus. No início do seu ministério, o próprio Salvador foi tentado pelo Diabo, que utilizou as três portas. Após um jejum de 40 dias, tendo Jesus fome, o diabo lhe fez três propostas: a primeira, dar ordem para que as pedras se transformassem em pães (concupiscência da carne); a seguir, que ele adorasse ao demônio, recebendo como recompensa todos os reinos do mundo (concupiscência dos olhos); finalmente, que Jesus se lançasse do pináculo do templo abaixo para ser salvo pelos anjos, um espetáculo que as pessoas pudessem ver a aplaudir (soberba da vida). “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. “Não tentarás ao Senhor teu Deus”. Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele servirás”. Às tentações satânicas com base em citações bíblicas, Jesus respondeu com a Palavra de Deus.

No Éden e no deserto as três portas de entrada do pecado foram utilizadas, ou pelo menos sugeridas. E na nossa vida, no cotidiano enfrentado por cada um de nós, como temos resistido às provações e tentações que apelam para a concupiscência, para a cobiça da nossa carne, dos nossos olhos e para a soberba, para a ostentação que muitas vezes somos tentados a buscar? Assim como Jesus fez, vamos buscar na Palavra de Deus a resposta a essas indagações: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Paulo escrevendo aos romanos). O nosso culto racional diante de Deus é a apresentação do nosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável, numa tentativa de caminharmos rumo à santificação de vida. E isto pode acontecer ao não nos conformarmos, não tomarmos a forma deste mundo, mas se formos além da forma mundana (transformai-vos) pela renovação do nosso entendimento. Parece que tudo pode acontecer de modo satisfatório não apenas por procurarmos não fazer o que é reprovado diante de Deus, mas por permitirmos, através da ação do Espírito Santo de Deus, a renovação do nosso entendimento. A nossa visão de mundo, herdada de nossos pais através da carne, é secular, humanista, racional, imperfeita, pecaminosa. A cosmovisão que o Espírito implanta em nós é divina, completa, eterna, perfeita, santa. É a nossa cosmovisão que define nossas ações, nossas escolhas, nossos pensamentos, quem nós somos, enfim. Enquanto a cosmovisão humana for egocêntrica, veremos o mundo como as pessoas do mundo o veem, estaremos usando as três portas de entrada do pecado em nossa vida. Se buscarmos a cosmovisão que Deus quer nos proporcionar, estaremos mais perto de cumprir a mensagem de Paulo aos romanos, e conhecermos mais proximamente “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Vamos buscá-la?   

Reflexão 4. LAODICEIA E A IGREJA ATUAL

“Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Apocalipse 3:20).

O terceiro capítulo do Apocalipse traz a mensagem de Jesus através de João à Igreja de Laodiceia, texto do qual transcrevemos o verso acima. Destaquemos os pontos mais importantes.

Cristo define a vivência e as obras da Igreja, as quais ele conhece, afirmando: “Você não é frio nem quente”. Ser morno, em muitas situações de vida, é realmente muito desagradável. O alimento, por exemplo, se estiver numa temperatura assim definida, torna-se intolerável. Espiritualmente falando, Cristo gostaria de encontrar igrejas que fossem quentes, aquecidas pelo seu Espírito e voltadas para a missão de pregação do evangelho e manutenção dos resultados. Mesmo assim, melhor seria “8 ou 80”, ou seja, “que você fosse frio ou quente!” Como reação divina, o texto nos diz: “Estou a ponto de vomitá-lo da minha boca”.

É chocante a análise da situação feita por Cristo para a Igreja. Ela diz numa falsa autoanálise: “Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada”. A análise divina é completamente oposta: Você “é miserável, digno de compaixão, pobre, cego, e está nu”. Quem está nesta situação não pode se considerar rico e sem necessidade de coisa alguma. Não será esta a situação de muitas igrejas locais, e mesmo denominações hoje? Para corrigir a situação, Jesus dá dois conselhos. Primeiramente ele diz: “Compre de mim ouro refinado no fogo, e você se tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar”. Ouro puro de origem espiritual pode tornar a igreja rica, não sob o prisma humano, mas divino. Roupas brancas podem cobrir a vergonhosa nudez humana diante de Deus pelo pecado, indumentárias fornecidas pelo próprio Deus após arrependimento e perdão. O colírio espiritual fornecido por Deus pode ungir os olhos da igreja, permitindo que ela enxergue sua própria situação e a do mundo. O Senhor repreende e disciplina aqueles a quem ele ama. Por isso, diz Cristo à Igreja como último conselho: “Seja diligente e arrependa-se”.

Chegamos finalmente à parte que exprime a mais dolorosa realidade com relação à Igreja de Laodiceia: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.” Usada como mensagem de apelo em muitas ocasiões através de hinos e de pregadores que convidam o pecador ao arrependimento e à aceitação de Cristo como Salvador, no contexto no qual foi proferido, a mensagem foi proferida por Cristo, aquele que disse que edificaria a igreja e que nada prevaleceria contra ela. A igreja deixou seu Criador, Edificador e Mantenedor fora das portas, a ponto de ele ter que bater e solicitar admissão, ou melhor, readmissão! Será que isto realmente já aconteceu ou está acontecendo? Igreja Cristã sem Cristo?!  

Deus sempre contou, em todos os eventos históricos, com um remanescente fiel, aquele ou aqueles que não se desviaram ou que procuraram manter o rumo inicial. Também na pior igreja das sete do Apocalipse, Deus sabe que será assim. Ao que permanecer até o final, ao vencedor, diz Cristo: “... darei o direito de sentar-se comigo em meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu trono.”

Como estamos nós hoje, como Igreja de Cristo em nossa visão, fé e atuação no mundo? Será que Laodiceia representa realmente uma visão profética da Igreja dos nossos dias? Desde a Reforma Protestante até agora, surgiram inúmeros modos diferentes de ser igreja cristã. Como realidade mais atual, aparecem hoje as igrejas emergentes, dando maior ênfase a relacionamentos e experiências pessoais e não a doutrinas. O nome “emergente” provém de cristãos descontentes, que se envolviam em igrejas evangélicas tradicionais e que emergiram de ideologias e estruturas de igrejas pré-existentes. Talvez a origem mais remota do movimento possa ser ligada ao “Movimento Jesus” dos anos de 1970. O foco é trazer o Reino de Deus à terra através do cuidado pelos pobres, o amor ao próximo e um encorajamento aos cristãos a crescerem mais profundamente em sua fé. Ideias como a importância da comunidade e a vida “missional” são temas constantes no movimento. Em vez de união entre as lideranças conservadoras e a novas, os grupos têm-se dividido, quando ideias radicais sobre a fé se chocaram com as novas perspectivas. Chavões como “missional”, “holístico”, “narrativa” e “conversação” são facilmente identificáveis, mas uma declaração formal de crença não é fácil de se achar. Constituindo-se em um grupo multifacetado e informal e por não ser um movimento uniforme, a Igreja Emergente não é fácil de ser definida ou mesmo entendida. Embora defenda assuntos e procedimentos nos quais a igreja tradicional realmente estagnou, é preciso conhecer o conjunto da obra para que se chegue a um consenso a respeito das Igrejas Emergentes.

Se a volta de Cristo fosse hoje, encontraria ele fé na terra? Como está a sua fé, a minha, a fé da Igreja? Será que acabaremos nos constituindo em Igreja Cristã sem Cristo? Ele é o edificador, mantenedor e Senhor da Igreja e deve se constituir sempre no seu cerne. Sejamos Igrejas cristocêntricas, sem perder o foco do evangelho apostólico e bíblico, atuando neste mundo pós-moderno e ansiando pelo arrebatamento.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...