“Não ameis o
mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está
nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência
dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E
o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus
permanece para sempre”. (1 João 2:15-17)
Na sua primeira
epístola, João nos diz que “aquele que diz que está nele”, em
Cristo, “também deve andar como ele andou”. É fácil “andar como
Cristo andou” neste mundo? É fácil estar no mundo, mas não ser do mundo? Temos
as mesmas necessidades do ser humano comum. Como então procurarmos estar livres
do pecado? Como é que o pecado entra no ser humano, na igreja, no mundo?
Baseados no texto acima, existem três portas de entrada para o
pecado: a concupiscência da carne, a concupiscência
dos olhos e a soberba da vida. Vamos examinar como estas
portas foram usadas em três situações na história da humanidade: no Éden, no
deserto e no nosso cotidiano.
Concupiscência é definido como “desejo intenso de bens ou gozos materiais, soberba”.
Deus criou os céus e a terra no princípio, e tudo era na avaliação divina
“muito bom”. O homem foi criado sem pecado, sem imperfeição, “à imagem e
semelhança de Deus”. Colocado no Éden, tinha todas as condições para lá viver
eternamente na presença de Deus. Bastava tão somente não comer do fruto da
árvore da ciência do bem e do mal. No entanto, entre a árvore da vida e a
da ciência, o homem preferiu ter o conhecimento do que desfrutar da eternidade. Gênesis 3.6 assim afirma: “E viu a
mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore
desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a
seu marido, e ele comeu com ela”. Aí estão as três portas já
citadas: a mulher viu que aquela árvore era boa para se
comer (concupiscência da carne), agradável aos olhos (concupiscência
dos olhos) e árvore desejável para dar entendimento (soberba da
vida). No Éden, representando toda a raça humana, a mulher entrou pelas três
portas.
Embora tendo Deus criado tudo de modo perfeito, com
a queda do homem e entrada do pecado no mundo, o Criador providenciou desde
logo um caminho de redenção para a humanidade: da semente da mulher, através de
um povo seu criado para a sua glória, veio o Redentor, Jesus, o Cristo de Deus.
No início do seu ministério, o próprio Salvador foi tentado pelo Diabo, que
utilizou as três portas. Após um jejum de 40 dias, tendo Jesus fome, o diabo
lhe fez três propostas: a primeira, dar ordem para que as pedras se
transformassem em pães (concupiscência da carne); a seguir, que ele adorasse ao
demônio, recebendo como recompensa todos os reinos do mundo (concupiscência dos
olhos); finalmente, que Jesus se lançasse do pináculo do templo abaixo para ser
salvo pelos anjos, um espetáculo que as pessoas pudessem ver a aplaudir
(soberba da vida). “Nem só de pão viverá o homem,
mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. “Não tentarás ao Senhor teu
Deus”. Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele servirás”. Às tentações satânicas com base em citações bíblicas, Jesus
respondeu com a Palavra de Deus.
No Éden e no deserto
as três portas de entrada do pecado foram utilizadas, ou pelo menos sugeridas.
E na nossa vida, no cotidiano enfrentado por cada um de nós, como temos
resistido às provações e tentações que apelam para a concupiscência, para a
cobiça da nossa carne, dos nossos olhos e para a soberba, para a ostentação que
muitas vezes somos tentados a buscar? Assim como Jesus fez, vamos buscar na
Palavra de Deus a resposta a essas indagações: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela
compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este
mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Paulo
escrevendo aos romanos). O nosso culto racional diante de Deus é a
apresentação do nosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável, numa
tentativa de caminharmos rumo à santificação de vida. E isto pode acontecer ao
não nos conformarmos, não tomarmos a forma deste mundo, mas se
formos além da forma mundana (transformai-vos) pela renovação do nosso
entendimento. Parece que tudo pode acontecer de modo satisfatório não apenas
por procurarmos não fazer o que é reprovado diante de Deus, mas por
permitirmos, através da ação do Espírito Santo de Deus, a renovação do
nosso entendimento. A nossa visão de mundo, herdada de nossos pais através da
carne, é secular, humanista, racional, imperfeita, pecaminosa. A cosmovisão que
o Espírito implanta em nós é divina, completa, eterna, perfeita, santa. É a nossa
cosmovisão que define nossas ações, nossas escolhas, nossos pensamentos, quem
nós somos, enfim. Enquanto a cosmovisão humana for egocêntrica, veremos o mundo
como as pessoas do mundo o veem, estaremos usando as três portas de entrada do
pecado em nossa vida. Se buscarmos a cosmovisão que Deus quer nos proporcionar,
estaremos mais perto de cumprir a mensagem de Paulo aos romanos, e conhecermos
mais proximamente “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Vamos
buscá-la?