“Eis que estou à
porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei
com ele, e ele comigo” (Apocalipse 3:20).
O terceiro capítulo do
Apocalipse traz a mensagem de Jesus através de João à Igreja de Laodiceia,
texto do qual transcrevemos o verso acima. Destaquemos os pontos mais
importantes.
Cristo define a
vivência e as obras da Igreja, as quais ele conhece, afirmando: “Você não é
frio nem quente”. Ser morno, em muitas situações de vida, é realmente
muito desagradável. O alimento, por exemplo, se estiver numa temperatura assim
definida, torna-se intolerável. Espiritualmente falando, Cristo gostaria de
encontrar igrejas que fossem quentes, aquecidas pelo seu Espírito e voltadas
para a missão de pregação do evangelho e manutenção dos resultados. Mesmo
assim, melhor seria “8 ou 80”, ou seja, “que você fosse frio ou
quente!” Como reação divina, o texto nos diz: “Estou a ponto
de vomitá-lo da minha boca”.
É chocante a análise
da situação feita por Cristo para a Igreja. Ela diz numa falsa
autoanálise: “Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada”. A análise
divina é completamente oposta: Você “é miserável, digno de compaixão, pobre,
cego, e está nu”. Quem está nesta situação não pode se considerar rico
e sem necessidade de coisa alguma. Não será esta a situação de muitas igrejas
locais, e mesmo denominações hoje? Para corrigir a situação, Jesus dá dois
conselhos. Primeiramente ele diz: “Compre de mim ouro refinado no fogo,
e você se tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua
vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar”. Ouro
puro de origem espiritual pode tornar a igreja rica, não sob o prisma humano,
mas divino. Roupas brancas podem cobrir a vergonhosa nudez humana diante de
Deus pelo pecado, indumentárias fornecidas pelo próprio Deus após
arrependimento e perdão. O colírio espiritual fornecido por Deus pode ungir os
olhos da igreja, permitindo que ela enxergue sua própria situação e a do mundo.
O Senhor repreende e disciplina aqueles a quem ele ama. Por isso, diz Cristo à
Igreja como último conselho: “Seja diligente e arrependa-se”.
Chegamos finalmente
à parte que exprime a mais dolorosa realidade com relação à Igreja de
Laodiceia: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e
abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.” Usada como
mensagem de apelo em muitas ocasiões através de hinos e de pregadores que
convidam o pecador ao arrependimento e à aceitação de Cristo como Salvador, no
contexto no qual foi proferido, a mensagem foi proferida por Cristo, aquele que
disse que edificaria a igreja e que nada prevaleceria contra ela. A igreja
deixou seu Criador, Edificador e Mantenedor fora das portas, a ponto de ele ter
que bater e solicitar admissão, ou melhor, readmissão! Será que isto realmente
já aconteceu ou está acontecendo? Igreja Cristã sem Cristo?!
Deus sempre contou,
em todos os eventos históricos, com um remanescente fiel, aquele ou aqueles que
não se desviaram ou que procuraram manter o rumo inicial. Também na pior igreja
das sete do Apocalipse, Deus sabe que será assim. Ao que permanecer até o
final, ao vencedor, diz Cristo: “... darei o direito de sentar-se
comigo em meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu
trono.”
Como estamos nós
hoje, como Igreja de Cristo em nossa visão, fé e atuação no mundo? Será que
Laodiceia representa realmente uma visão profética da Igreja dos nossos dias?
Desde a Reforma Protestante até agora, surgiram inúmeros modos diferentes de
ser igreja cristã. Como realidade mais atual, aparecem hoje as igrejas
emergentes, dando maior ênfase a relacionamentos e experiências pessoais e não
a doutrinas. O nome “emergente” provém de cristãos descontentes, que se
envolviam em igrejas evangélicas tradicionais e que emergiram de ideologias e
estruturas de igrejas pré-existentes. Talvez a origem mais remota do movimento
possa ser ligada ao “Movimento Jesus” dos anos de 1970. O foco é trazer o
Reino de Deus à terra através do cuidado pelos pobres, o amor ao próximo e um
encorajamento aos cristãos a crescerem mais profundamente em sua fé. Ideias
como a importância da comunidade e a vida “missional” são temas constantes
no movimento. Em vez de união entre as lideranças conservadoras e a novas, os
grupos têm-se dividido, quando ideias radicais sobre a fé se chocaram com as
novas perspectivas. Chavões como “missional”, “holístico”, “narrativa” e
“conversação” são facilmente identificáveis, mas uma declaração formal de
crença não é fácil de se achar. Constituindo-se em um grupo multifacetado e
informal e por não ser um movimento uniforme, a Igreja Emergente não é fácil
de ser definida ou mesmo entendida. Embora defenda assuntos e procedimentos nos
quais a igreja tradicional realmente estagnou, é preciso conhecer o conjunto da
obra para que se chegue a um consenso a respeito das Igrejas Emergentes.
Se a volta de Cristo
fosse hoje, encontraria ele fé na terra? Como está a sua fé, a minha, a fé da
Igreja? Será que acabaremos nos constituindo em Igreja Cristã sem Cristo? Ele é
o edificador, mantenedor e Senhor da Igreja e deve se constituir sempre no seu
cerne. Sejamos Igrejas cristocêntricas, sem perder o foco do evangelho
apostólico e bíblico, atuando neste mundo pós-moderno e ansiando pelo
arrebatamento.