“E não vos conformeis com este mundo,
mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12.2).
Utopia é uma palavra
que provém do grego e equivale a lugar
que não existe; a palavra nomeia uma de obras de Thomas More, escritor
inglês, inspirada talvez por Américo Vespúcio, navegante que voltava de sua
expedição à América e falava sobre uma ilha paradisíaca, o lugar ideal para a
construção da sociedade perfeita. Com as grandes conquistas da
modernidade, no século XIX, o homem do mundo ocidental criou um objetivo
semelhante, imaginando que, com tanto avanço da ciência, a razão humana seria
capaz de criar uma sociedade com progresso constante, onde todos os problemas
humanos seriam resolvidos. Muitas mudanças ocorreram após a Revolução Francesa
e esperava-se que o século XX fosse o período áureo da história da humanidade.
Iniciado o novo século, o que se viu foi
uma sucessão de guerras (I, II, Vietnã, Coreia, Guerra Fria) e catástrofes
(Grande Depressão Econômica, Holocausto, início da Era Atômica, terrorismo),
que acabaram por demolir as ideias utópicas modernas, substituindo-as
por uma grande frustração pós-moderna. De repente, valores como o bem
e a verdade não são mais absolutos, eternos, universais ou
imutáveis; ao contrário, são social e historicamente construídos, tão mutáveis
quanto a vida humana. Não há mais bem ou mal, não há crenças universais que
deem sentido ao mundo, casamento e educação se transformaram. Convivemos com o
caos, a relativização e a instantaneidade das coisas, com a deterioração da
legitimidade da autoridade. Valores da civilização ocidental foram postos em
dúvida, substituídos por novas ideologias presentes na vida do homem
pós-moderno: materialismo, edonismo, permissivismo, relativismo, nihilismo, consumismo, pluralismo,
secularização. Crendo na inexistência da verdade absoluta e da ética comum, a
pós-modernidade provoca o surgimento de uma nova religião e de uma nova ética,
apontando para um novo tempo, ainda não delineado, mas de superação da atual
condição. “Que estratégias devem ser usadas para levar o evangelho à geração
pós-moderna? A igreja institucional tem sido boa representante de Cristo? Qual
o limite entre a contextualização e o sincretismo religioso? Até que ponto
devemos mergulhar nas diferentes culturas urbanas para pregar o evangelho?”
Perguntas sinceras merecem consideração e o relacionamento igreja-cultura
precisa ser discutido. Conforme já se afirmou, na história da Igreja, houve uma
tendência de adequação ao pensamento, valores e ideologias nas diferentes eras
pelas quais a organização tem passado. No mundo pós-moderno, a igreja emergente
é uma dessas tentativas.
O que é uma igreja emergente? Um site
ligado ao movimento responde: “A igreja emergente é um movimento da igreja
protestante (...) com a finalidade de alcançar a geração pós-moderna.
Refletindo as necessidades e os valores percebidos desta geração, as igrejas
emergentes enfatizam o autêntico, a expressão criativa e uma perspectiva sem
julgamentos, procurando reavaliar as doutrinas”. Buscando honrar e servir a
igreja em todas as suas formas – católica romana, protestante, pentecostal,
reformada, luterana, e procurando ser receptivos e inclusivistas com todos os
irmãos em Cristo, “ao invés de elitistas e críticos”, alguns grupos têm
ido além da irmandade cristã, na inclusão de muçulmanos, budistas, crenças
hindus, num ecletismo preocupante. Uma das propostas é: “Queremos
oferecer às pessoas um local onde elas possam se sentir parte antes mesmo de
acreditar”. Embora o movimento seja decentralizado, em 2006 foi fundada a
Convenção Brasileira de Igrejas Emergentes, nos seguintes termos: “Foi
iniciada no dia 2 de janeiro de 2006, com apoio da Emergent Village dos EUA, a
Convenção Brasileira de Igrejas Emergentes, com o propósito de apoiar pessoas
que desejam iniciar novas Igrejas no Brasil, proporcionar contatos de líderes
brasileiros com líderes americanos e fornecer material para pessoas
interessadas em Igrejas Emergentes.”
O Cristianismo Ortodoxo tem identidade
denominacional, com ênfase na Palavra e na ação de crer, num sistema
doutrinário definido, com zelo pela tradição; é restritivista quanto à salvação
e pratica o conservadorismo teológico num culto teocêntrico. A Igreja Emergente
não tem identidade, focaliza sua ênfase nos relacionamentos e na ação de
pertencer, não possui sistema doutrinário definido e protesta contra a
tradição; quanto à salvação é universalista, num liberalismo teológico e na
prática de um culto antropocêntrico. Em nome da forma, não se pode
comprometer o conteúdo do evangelho. Ser relevante culturalmente é bom, mas o
evangelho sempre será loucura e escândalo para os incrédulos e,
ao tentar torná-lo mais atraente, podemos acabar convertendo-o em algo que ele
não é. Conforme afirma Walter Henegar: “Os escritores emergentes podem
diagnosticar corretamente as sensibilidades pós-modernas, mas suas prescrições
tendem a se conformar e não a transformar”. Transformação e não
conformação deve ser a postura do cristão e da Igreja em qualquer época
histórica, inclusive na Pós-Modernidade.