quinta-feira, 9 de julho de 2020

34. WESLEY, MORÁVIOS E O METODISMO

No século XVIII, numa viagem para a América, durante uma terrível tempestade, encontraram-se em um navio um grupo de morávios e um jovem chamado John Wesley. Ele já era ministro anglicano, tendo sido ordenado aos 25 anos, e já pregava o evangelho, mas morria de medo de morrer. Em contraste gritante, o grupo morávio, em uma viagem missionária, calmamente cantava seus hinos a Deus em meio às ondas tempestuosas. Após a tempestade e tendo conversado com os morávios, Wesley declarou em seu diário ter sido aquele seu dia mais glorioso até então.

Wesley foi o décimo quinto entre 19 irmãos, parecendo na infância ser o menos indicado para se tornar a bênção que se tornou. Como um "tição tirado do fogo" em um incêndio que houve em sua casa quando era criança, Wesley se converteu somente aos 35 anos, justamente em uma reunião de outra comunidade morávia na Inglaterra, quando sentiu seu coração "estranhamente aquecido" ao ouvir uma mensagem baseada em Romanos.

A história resumida dos morávios começa com o Pietismo de Philip Spener em meados do século XVII, passa por August Francke e leva ao conde Nicolau von Zinzendorf, que havia sido aluno dos dois anteriores na Universidade de Halle, na Alemanha. “Herrnhut”, localizada na Alemanha, propriedade do conde, abrigou já no século XVIII cerca de 300 pessoas perseguidas na Morávia, adeptas de Jan Huss, da irmandade chamada “Irmãos Unidos” (Unitas Fratrum). Foi o início de muitas viagens de missões transculturais. Segundo Earl Cairns, “o pietismo acentuava um retorno interior, subjetivo e individual ao estudo bíblico e à oração. A verdade bíblica se manifestaria diariamente numa vida de piedade, tanto de leigos quanto de ministros”. Kenneth Mulholland afirmou: “Os morávios foram os primeiros cristãos a colocar em prática a ideia de que a evangelização dos perdidos é dever de toda a igreja, não apenas de uma sociedade ou de alguns indivíduos”. Em cento e cinquenta anos de atividade missionária, os morávios estabeleceram 700 centros missionários, batizaram 83 mil pessoas, enviaram 335 missionários ativos e orientaram 1500 obreiros nacionais. A visão cristocêntrica que os Irmãos Morávios tinham mostrou a Wesley, a bordo do navio em viagem para os Estados Unidos, que ele ainda não havia “nascido de novo” e que estava vivendo uma religiosidade vazia, embora já fosse ministro anglicano. Depois disso, Wesley fez uma visita a Herrnhut para conhecer o trabalho dos Irmãos Morávios e padronizou o Metodismo de acordo com o modelo que ali vivenciou.

George Whitefield antecedeu a Wesley na pregação do evangelho ao povo inglês a céu aberto. Após hesitação inicial, quando Wesley começou a pregar, teve resultados tão impressionantes quanto os de Whitefield e mesmo os de Jonathan Edwards, que os antecedeu. Havia uma oposição de posicionamento doutrinário entre os dois pregadores, sendo Wesley arminiano e Whitefield calvinista, mas ambos souberam conviver com a diferença com mútuo respeito. Por isso, duas correntes foram formadas quando a Igreja Metodista se organizou, uma arminiana e outra calvinista. "Viverei e morrerei como membro da igreja da Inglaterra", afirmou Wesley, e isso ocorreu com ele e com seus seguidores nas Ilhas Britânicas; a Igreja Metodista inglesa somente foi organizada após sua morte em 1791. A independência americana forçou Wesley a nomear bispos para os Estados Unidos e a Igreja Metodista na América foi organizada antes da inglesa. Alguns dos mais conhecidos compositores de hinos na Cristandade são metodistas, sendo o mais notável Charles Wesley, irmão de John, que compôs mais de seis mil hinos durante sua vida.

John Wesley deixou quatro pontos fundamentais para o entendimento da fé metodista: 1) O ser humano é livre não somente para rejeitar a salvação, mas também para aceitá-la num ato de livre arbítrio; 2) todas as pessoas que obedecem ao evangelho de acordo com a medida do conhecimento que lhes foi dado serão alvas; 3) o Espírito Santo assegura a um cristão sua salvação diretamente, através de uma experiência interior (segurança da salvação); 4) os cristãos são capazes nesta vida de perfeição cristã e são ordenados por Deus a persegui-la.

O último ponto, que diz respeito à possibilidade de se atingir a perfeição cristã neste mundo por um ser humano, ultrapassou a época de Wesley, provocando discussões e pesquisas que, no início do século XX, acabaram por gerar outro despertamento conhecido por Pentecostalismo, que acabou por definir os dons carismáticos como caminho para se conseguir tal objetivo, começando pelo dom de línguas.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...