No século XVIII, numa viagem para a América,
durante uma terrível tempestade, encontraram-se em um navio um grupo de
morávios e um jovem chamado John Wesley. Ele já era ministro anglicano, tendo
sido ordenado aos 25 anos, e já pregava o evangelho, mas morria de medo de
morrer. Em contraste gritante, o grupo morávio, em uma viagem missionária,
calmamente cantava seus hinos a Deus em meio às ondas tempestuosas. Após a
tempestade e tendo conversado com os morávios, Wesley declarou em seu diário
ter sido aquele seu dia mais glorioso até então.
Wesley foi o décimo quinto entre 19 irmãos,
parecendo na infância ser o menos indicado para se tornar a bênção que se
tornou. Como um "tição tirado do fogo" em um incêndio que houve em
sua casa quando era criança, Wesley se converteu somente aos 35 anos,
justamente em uma reunião de outra comunidade morávia na Inglaterra, quando
sentiu seu coração "estranhamente aquecido" ao ouvir uma mensagem
baseada em Romanos.
A história resumida
dos morávios começa com o Pietismo de Philip Spener em meados do século XVII, passa
por August Francke e leva ao conde Nicolau von Zinzendorf, que havia sido aluno
dos dois anteriores na Universidade de Halle, na Alemanha. “Herrnhut”,
localizada na Alemanha, propriedade do conde, abrigou já no século XVIII cerca
de 300 pessoas perseguidas na Morávia, adeptas de Jan Huss, da irmandade
chamada “Irmãos Unidos” (Unitas Fratrum). Foi o início de muitas viagens
de missões transculturais. Segundo Earl Cairns, “o pietismo acentuava um
retorno interior, subjetivo e individual ao estudo bíblico e à oração. A
verdade bíblica se manifestaria diariamente numa vida de piedade, tanto de
leigos quanto de ministros”. Kenneth Mulholland afirmou: “Os morávios
foram os primeiros cristãos a colocar em prática a ideia de que a evangelização
dos perdidos é dever de toda a igreja, não apenas de uma sociedade ou de alguns
indivíduos”. Em cento e cinquenta anos de atividade missionária, os
morávios estabeleceram 700 centros missionários, batizaram 83 mil pessoas, enviaram
335 missionários ativos e orientaram 1500 obreiros nacionais. A visão
cristocêntrica que os Irmãos Morávios tinham mostrou a Wesley, a bordo do navio
em viagem para os Estados Unidos, que ele ainda não havia “nascido de novo” e
que estava vivendo uma religiosidade vazia, embora já fosse ministro anglicano.
Depois disso, Wesley fez uma visita a Herrnhut para conhecer o trabalho dos
Irmãos Morávios e padronizou o Metodismo de acordo com o modelo que ali
vivenciou.
George Whitefield antecedeu a Wesley na
pregação do evangelho ao povo inglês a céu aberto. Após hesitação inicial,
quando Wesley começou a pregar, teve resultados tão impressionantes quanto os
de Whitefield e mesmo os de Jonathan Edwards, que os antecedeu. Havia uma
oposição de posicionamento doutrinário entre os dois pregadores, sendo Wesley
arminiano e Whitefield calvinista, mas ambos souberam conviver com a diferença
com mútuo respeito. Por isso, duas correntes foram formadas quando a Igreja
Metodista se organizou, uma arminiana e outra calvinista. "Viverei e
morrerei como membro da igreja da Inglaterra", afirmou Wesley, e isso
ocorreu com ele e com seus seguidores nas Ilhas Britânicas; a Igreja Metodista
inglesa somente foi organizada após sua morte em 1791. A independência
americana forçou Wesley a nomear bispos para os Estados Unidos e a Igreja
Metodista na América foi organizada antes da inglesa. Alguns dos mais
conhecidos compositores de hinos na Cristandade são metodistas, sendo o mais
notável Charles Wesley, irmão de John, que compôs mais de seis mil hinos durante sua vida.
John Wesley deixou quatro pontos fundamentais
para o entendimento da fé metodista: 1) O ser humano é
livre não somente para rejeitar a salvação, mas também para aceitá-la num ato
de livre arbítrio; 2) todas as pessoas que obedecem ao evangelho de acordo com
a medida do conhecimento que lhes foi dado serão alvas; 3) o Espírito Santo
assegura a um cristão sua salvação diretamente, através de uma experiência
interior (segurança da salvação); 4) os cristãos são capazes nesta vida de perfeição
cristã e são ordenados por Deus a persegui-la.
O último ponto, que diz respeito à possibilidade de se atingir a perfeição cristã neste mundo por um ser humano, ultrapassou a época de Wesley, provocando discussões e pesquisas que, no início do século XX, acabaram por gerar outro despertamento conhecido por Pentecostalismo, que acabou por definir os dons carismáticos como caminho para se conseguir tal objetivo, começando pelo dom de línguas.