O advento inaugurou
o processo chamado de globalização, denominação que resume as recentes
mudanças culturais, política e religiosas ocorridas em todo o mundo. A
expressão "aldeia global" foi criada para definir a nova tecnologia
com poder de transmitir informação que atinge o mundo todo ao mesmo tempo,
tornando para as notícias o mundo em uma imensa aldeia. O Oriente comunista e o
Ocidente democrático passaram a conviver mais pacificamente com suas
diferenças. Acordos de livre comércio passaram a ser assinados, baseados na
produção compartilhada, na qual um bem de consumo poderia ter suas peças
fabricadas em diferentes países. As forças de trabalho manual diminuíram nos
países desenvolvidos e aumentaram nos países em desenvolvimento, numa
globalização de mercados e mão de obra.
A globalização abriu
oportunidade para que as igrejas cristãs tomassem consciência da existência de
pessoas de crenças completamente diferente das suas ao redor do mundo. A
religião e a política influenciaram-se reciprocamente. A Rússia e suas
repúblicas-satélite desistiram do estado moderno sem Deus, a Alemanha dividida
uniu a parte oriental à parte ocidental e a Albânia, a mais stalinista
sociedade da Europa Ocidental, tornou-se exemplo de mudança. Líderes cristãos
de igrejas ecumênicas, que antes louvavam a "nobre revolução
socialista", emudeceram diante da súbita queda. "O que são 200
prisioneiros num país de 200 milhões de pessoas?", questionara
anteriormente um líder ecumênico, querendo menosprezar uma lista de
prisioneiros batistas na antiga URSS. Numa carta de 1991, o Soviete Supremo
convidou a liderança evangélica para que fossem a Moscou assessorar o governo
na reconstrução dos "valores morais do cristianismo". Foi o
"Projeto Ponte Cristã". Aberta a oportunidade, vários grupos cristãos
diferentes aproveitaram-na, levando professores, Bíblias e literatura para as
escolas russas. Houve problemas iniciais de integração cristã entre as igrejas
ortodoxas e os demais grupos que lá passaram a atuar.
A ideologia do totalitarismo
comunista somente permaneceu na China, na Coreia do Norte e em Cuba, além das
ameaças mantidas em outros países, como no Brasil. No entanto, o totalitarismo
se fez sentir no final do século e início do atual através do fundamentalismo
islâmico, no norte da África e no Oriente Médio. O Irã se tornou um país de
governo islâmico a partir da década de 1980. A palavra fundamentalismo
assumiu um uso mais abrangente, ao referir-se não somente ao Islamismo, mas
também ao Judaísmo e ao Cristianismo. Os líderes cristãos passaram a definir
justiça de modo contemporizado com o momento vivido e a abrandar os métodos
para explicar o evangelismo a este mundo pluralista atual. Nas últimas décadas
do século XX, os Estados Unidos e outros países criaram um número crescente de pessoas
que olham para o mundo e para suas próprias vidas sem terem a perspectiva e o
benefício de nenhuma visão religiosa. Pluralismo religioso, o grande fluxo de
hispânicos e a tecnologia que criou uma maior independência de vida, além de
outros fatores, contribuíram para que isso acontecesse. Hoje há um confronto entre
grande variedade de experiências espirituais e religiosas, que querem cada uma definir
a realidade, mas nenhuma consegue impor-se às outras. Sentimentos internos
elaboram a fé religiosa atual. A fé cristã ainda é relevante nesta sociedade
pluralista por razões familiares, mas as igrejas cristãs mudaram profundamente;
fidelidade a uma determinada igreja ou denominação cristã deixou de ser
certeza, criando na sociedade pluralista atual uma situação de mercado
religioso, onde a fé e seus serviços são bens de consumo.
No final do século XX, a liquefação da Modernidade na era que passou a ser considerada pós-moderna gerou para a Igreja do século XXI uma nova série de confrontos e conflitos que a visão religiosa pluralista advinda da globalização tende a agravar, num questionamento de identidade cristã: afinal, o que é seguir a Cristo nos dias de hoje?