quarta-feira, 20 de maio de 2020

50. CRISTIANISMO E GLOBALIZAÇÃO


Após 74 anos de imposição ditatorial, em 1989, o marxismo, o maior experimento social da história, caiu de podre, de dentro para fora. O marco inicial foi a queda do Muro de Berlim, sem que qualquer tiro tivesse sido disparado. Era o fim de uma "estrada que não leva a lugar nenhum", conforme reconheceram os russos anos depois. Mikhail Gorbachev foi seu último líder que, com sua política de reestruturação (Perestroika) e abertura (Glasnost) reativou a economia da Rússia. As igrejas daquela sociedade até então ateia tiveram permissão para reabrir e pregar o evangelho, podendo utilizar até a TV. A Rússia tornou-se um dos maiores e mais abertos campos de missões do mundo.

O advento inaugurou o processo chamado de globalização, denominação que resume as recentes mudanças culturais, política e religiosas ocorridas em todo o mundo. A expressão "aldeia global" foi criada para definir a nova tecnologia com poder de transmitir informação que atinge o mundo todo ao mesmo tempo, tornando para as notícias o mundo em uma imensa aldeia. O Oriente comunista e o Ocidente democrático passaram a conviver mais pacificamente com suas diferenças. Acordos de livre comércio passaram a ser assinados, baseados na produção compartilhada, na qual um bem de consumo poderia ter suas peças fabricadas em diferentes países. As forças de trabalho manual diminuíram nos países desenvolvidos e aumentaram nos países em desenvolvimento, numa globalização de mercados e mão de obra.

A globalização abriu oportunidade para que as igrejas cristãs tomassem consciência da existência de pessoas de crenças completamente diferente das suas ao redor do mundo. A religião e a política influenciaram-se reciprocamente. A Rússia e suas repúblicas-satélite desistiram do estado moderno sem Deus, a Alemanha dividida uniu a parte oriental à parte ocidental e a Albânia, a mais stalinista sociedade da Europa Ocidental, tornou-se exemplo de mudança. Líderes cristãos de igrejas ecumênicas, que antes louvavam a "nobre revolução socialista", emudeceram diante da súbita queda. "O que são 200 prisioneiros num país de 200 milhões de pessoas?", questionara anteriormente um líder ecumênico, querendo menosprezar uma lista de prisioneiros batistas na antiga URSS. Numa carta de 1991, o Soviete Supremo convidou a liderança evangélica para que fossem a Moscou assessorar o governo na reconstrução dos "valores morais do cristianismo". Foi o "Projeto Ponte Cristã". Aberta a oportunidade, vários grupos cristãos diferentes aproveitaram-na, levando professores, Bíblias e literatura para as escolas russas. Houve problemas iniciais de integração cristã entre as igrejas ortodoxas e os demais grupos que lá passaram a atuar.

A ideologia do totalitarismo comunista somente permaneceu na China, na Coreia do Norte e em Cuba, além das ameaças mantidas em outros países, como no Brasil. No entanto, o totalitarismo se fez sentir no final do século e início do atual através do fundamentalismo islâmico, no norte da África e no Oriente Médio. O Irã se tornou um país de governo islâmico a partir da década de 1980. A palavra fundamentalismo assumiu um uso mais abrangente, ao referir-se não somente ao Islamismo, mas também ao Judaísmo e ao Cristianismo. Os líderes cristãos passaram a definir justiça de modo contemporizado com o momento vivido e a abrandar os métodos para explicar o evangelismo a este mundo pluralista atual. Nas últimas décadas do século XX, os Estados Unidos e outros países criaram um número crescente de pessoas que olham para o mundo e para suas próprias vidas sem terem a perspectiva e o benefício de nenhuma visão religiosa. Pluralismo religioso, o grande fluxo de hispânicos e a tecnologia que criou uma maior independência de vida, além de outros fatores, contribuíram para que isso acontecesse. Hoje há um confronto entre grande variedade de experiências espirituais e religiosas, que querem cada uma definir a realidade, mas nenhuma consegue impor-se às outras. Sentimentos internos elaboram a fé religiosa atual. A fé cristã ainda é relevante nesta sociedade pluralista por razões familiares, mas as igrejas cristãs mudaram profundamente; fidelidade a uma determinada igreja ou denominação cristã deixou de ser certeza, criando na sociedade pluralista atual uma situação de mercado religioso, onde a fé e seus serviços são bens de consumo.

No final do século XX, a liquefação da Modernidade na era que passou a ser considerada pós-moderna gerou para a Igreja do século XXI uma nova série de confrontos e conflitos que a visão religiosa pluralista advinda da globalização tende a agravar, num questionamento de identidade cristã: afinal, o que é seguir a Cristo nos dias de hoje?

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...