Hoje, Cristianismo é a fé nominal de um terço da população mundial (cerca de dois bilhões e trezentos milhões pessoas) e a fé prática de pelo menos um bilhão de seres humanos. Muitos infelizmente são ignorantes da história da sua igreja e, se no passado não se expunham a muitos confrontos, hoje estão mais vulneráveis a outras ideias, graças aos meios de comunicação de massa. Essa ignorância leva a erros grosseiros sobre sua fé ou à defesa de práticas pagãs como se fossem cristãs. “O desvio de ameaças da existência da fé no mundo atual e a transformação de crises em oportunidades de crescimento ao longo da história têm acontecido por causa da graça e da intermediação do próprio Deus, que não tem permitido a prevalência das ‘portas do inferno’ contra sua igreja” (Bruce Shelley).
Perseguições limparam e limpam a Casa
da Fé e o confronto com heresias torna mais claras as crenças básicas da
igreja. O caminho para o avanço inclui um olhar determinado para o passado,
para a imagem de Deus revelada na história de Jesus e a divulgação dessa imagem
de salvação ao longo da existência da igreja. Foi o que procuramos fazer até
aqui. A época apostólica foi importante, os acontecimentos seguintes também
foram significativos para que o evangelho chegasse aos confins da terra, e
atingisse não apenas o Império Romano. Houve controvérsias que geraram
polêmicas, como a igreja das catacumbas transformada em igreja palaciana em
menos de um século. Grandes concílios, criação de mosteiros, casamento
entre Igreja e Estado por uma dezena de séculos, crescimento do poder papal e
outros fatores históricos foram responsáveis por uma Europa Cristã. Durante
esse casamento, a massificação da fé, com uma igreja que representava, por si
só, um império, levou a uma corrupção, na qual a igreja "ganhou o
mundo, mas perdeu a sua alma". Reformistas determinados acabaram
direcionando a história da Igreja para a Reforma a partir de Lutero, a qual
veio com furor. Luteranos, reformados, anglicanos e anabatistas deram origem a
alas que se multiplicaram, afastando a ideia da unidade tradicional de Europa
Ocidental Cristã e criando o pluralismo religioso dos tempos modernos. O
catolicismo reagiu, fechando-se em seus dogmas a partir de Trento e enviando
ondas missionárias à Ásia, África e América Latina. As ondas protestantes
criaram o conceito denominacional de igreja, gerando congregações como
sociedades voluntárias separadas do Estado. Escolas de pensamento surgiram com
o Modernismo, questionando a existência e a necessidade de Deus
e endeusando a razão humana: Deus passou a ser uma questão de escolha
pessoal. Avivamentos evangélicos procuraram restaurar a ideia de Deus na vida
pública. Novos deuses surgiram na Era das Ideologias, pedindo a lealdade do
homem secular: nazismo, comunismo e democracia endeusavam, pela ordem, o
estado, o partido e os direitos individuais. A Guerra Fria dividiu o mundo
desenvolvido em duas partes, surgindo o Terceiro Mundo, com nações em (ou
sem muito) desenvolvimento. Justamente deste Terceiro Mundo surgiram lideranças
cristãs fortes, uma esperança de novos tempos para a antiga fé.
Cristianismo só tem sentido se for
centralizado na pessoa de Cristo, cuja imagem parece mudar segundo as
necessidades humanas: a. o Messias aguardado pelos judeus, b. o Filósofo dos
apologistas gregos, c. o Rei Cósmico da igreja Imperial, d. o "Logos"
Celestial dos concílios ortodoxos, e. o Governador do Mundo das cortes papais,
f. o modelo monárquico monástico da pobreza apostólica, g. o Salvador dos
pregadores evangélicos. Que imagem tem ele na Modernidade e mesmo na era
posterior a ela? "Como podem os cristãos exercer influência moral
em sociedades pluralistas e totalitárias, nas quais as colocações cristãs sobre
a realidade não mais prevalecem?" Este é o questionamento de
Bruce Shelley no Epílogo. Ele termina seu livro afirmando sobre Jesus Cristo, o
edificador da Igreja: "Na verdade, ele é um homem para todos os
tempos. Em um tempo em que era visto por todos com alguém sem importância,
(...) a história da igreja oferece um silencioso testemunho de que Jesus Cristo
não irá sair de cena. Seu título pode mudar, mas sua verdade permanecerá por
todas as gerações". Aleluia por esta fé!