“Minha oração não é
apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da
mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em
ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17.20 -21).
Antes de enfrentar a cruz, Jesus orou por si
mesmo, pelos discípulos ali presentes e pelos seus seguidores futuros, tendo
por base a afirmação "para que todos sejam um". Sua
preocupação era que, no futuro, a unidade da sua mensagem de salvação, que ele
tinha direcionado durante seu ministério, fosse mantida pela igreja ao longo
dos séculos. A história mostra que a unidade da igreja tem sido algo que
manteve uma uniformidade apenas com a atuação agregadora do Espírito Santo, já
que os homens são desagregadores, dada à sua natureza pecaminosa. Assim, desde
a Igreja Primitiva, passando pelo Catolicismo, pela Reforma Protestante,
chegamos ao século XXI com o Cristianismo totalmente dividido.
Na Modernidade, houve uma tentativa de
unificação do Cristianismo, no movimento conhecido como Ecumenismo, movimento que
se mostrou ser, desde logo, mais político do que teológico. O credo autorizado
e aprovado na assembleia feita em Nova Déli, na Índia, em 1961, afirma: "O
Concílio Mundial de Igrejas é uma congregação de igrejas que confessam o Senhor
Jesus Cristo com Deus e Salvador segundo as Escrituras Sagradas e que, por
isso, buscam seguir juntas ao seu chamado, para glória do único Deus, Pai,
Filho e Espírito Santo". O início da frase, em letra itálica normal,
era a declaração primeira; o acréscimo (que no texto está em negrito) foi
colocado para, diplomaticamente, agradar à Igreja Ortodoxa russa e aos
Protestantes. O exposto até agora está documentado e reflete o espírito da
assembleia do Concílio Mundial de Igrejas reunido em Nova Délhi. Ecumênico significa
mundial ou universal, tal como católico. O primeiro esforço para
cooperação entre os protestantes surgiu em Londres em 1846. Com a diminuição do
entusiasmo inicial, surgiu em 1908 o Concílio Federal de Igrejas dos Estados
Unidos, mas a expressão mais significativa do Ecumenismo foi a de 1948, em
Amsterdã, na Holanda, com a criação do Conselho. Como decorrência de sua
criação, foram constituídos muitos conselhos, conferências, alianças e
federações, reuniões de diferentes segmentos da Igreja que a ela aderiram.
Os mais persistentes críticos do Ecumenismo
foram os evangélicos conservadores, que sustentam a autoridade bíblica e
reconhecem que Jesus orou e pregou pela unidade de seus seguidores, mas
questiona a forma federativa dessa união, que assume muitas vezes caráter
político, sem compromisso com o evangelismo. George Whitefield, pregando na
Filadélfia, nos Estados Unidos, levantando os olhos para o céu, exclamou em um
de seus sermões: "Pai Abraão, quem está com você nos céus?" Após
mencionar diferentes denominações, o avivalista afirmou sobre seus ouvintes: "Todos
os que estão aqui são cristãos. É este o caso? Então, Deus, ajude-nos a
esquecer o nome de grupos e a nos tornarmos cristãos de verdade". Assim,
esquecendo o nome de grupos, creio que a verdadeira união entre os cristãos
acontece centralizando-se a fé em Cristo e contando com atuação agregadora do
Espírito Santo de Deus no meio do seu povo.
Qual é a sua religião? De cristão a ateu, esta pergunta encontra uma diversidade maior de respostas, principalmente na atual pós-modernidade que defende a pluralidade em tudo, principalmente no aspecto religioso. Como desenvolver um movimento ecumênico, mundial ou universal em um mundo cristão tão dividido como o atual. Levando-se em conta o sentido etimológico da palavra “religião”, de origem latina ligada ao verbo “religare” (religar, ligar de novo), creio que a melhor resposta é: minha religião, aquilo que me religa a Deus é Cristo, o “cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. O que segue é o nome da congregação local com a qual a pessoa coopera, numa tentativa importante de manter sua fé compartilhando-a com outros que creem de forma semelhante. Cristocentrismo e correta administração das ordenanças deixadas pelo Senhor da Igreja são os dois elementos indicados por Calvino como indispensáveis para que uma igreja se diga cristã.