segunda-feira, 25 de maio de 2020

43. SÉCULO DAS IDEOLOGIAS

Ideologia é o conjunto de convicções filosóficas, sociais, políticas, morais ou de outra natureza defendida por um indivíduo ou grupo de indivíduos; é ainda o sistema de ideias sustentadas por um grupo social, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais. A palavra “ideologia” foi criada por Destutt de Tracy, filósofo francês do final do século XVII, proveniente de dois termos gregos: idea (imagem, aparência) e logos (estudo). O estudo sistemático do assunto tomou vulto a partir da Revolução Francesa.

Nazismo, comunismo, americanismo, individualismo, nacionalismo, muitos são os "ismos" que refletem as ideologias do século XX. Foi em nome do nacionalismo sérvio, por exemplo, que um extremista assassinou o príncipe da coroa austro-húngara, em 1914, dando início à Primeira Guerra Mundial. Sendo a Alemanha a grande derrotada da Guerra, surgiu o nazismo como uma espécie de desejo de vingança. Preocupado com a raça como ponto central de sua ideologia e ressaltando as ideias de solo e sangue como fronteiras entre alemães e outros povos, o nazismo elegeu, na sua xenofobia, o povo judeu com responsável por seus problemas. Hitler considerava capitalismo e marxismo como dois resultados da conspiração judaica, colocando no mesmo patamar também o cristianismo. Estimativas confiáveis apontam em 6 milhões o número de judeus mortos pelo nazismo na Alemanha e em países por ela ocupados. Começando com um acordo com os cristãos e com os católicos romanos, acabou sendo apoiado por líderes eclesiásticos, que muitas vezes traziam para suas paróquias as ideias nazistas. Hitler abandonou todos os princípios cristãos nos quais fora criado, trocando-os pela nova fé na regeneração do povo alemão através do nacional-socialismo. Como reação à postura de alguns teólogos, surgiu a Igreja Confessional, que procurou chamar a igreja de volta às verdades centrais do cristianismo, rejeitando as determinações totalitárias do Estado. A Igreja Confessional foi perseguida pelo nazismo, sendo muitos dos seus pastores presos ou mesmo mortos.

Enquanto nascia e se firmava o nazismo, nas décadas de 1920 e 30, na Rússia, os bolcheviques criaram um novo regime totalitário de esquerda, o comunismo. O sistema se parecia muito com o nazismo de Hitler: liderança ditatorial, um único partido no poder, terror, propaganda, censura, economia centralizada e hostilidade à religião. Lenin foi o líder inicial da Revolução Russa, que pregava a mobilização como meio de mudança social, sucedido por Stalin. O regime de Stalin foi mais cruel que o de Hitler, com polícia secreta, terror, campos de trabalho forçado e eliminação de potenciais rivais, além de confronto implacável com o cristianismo, visto como um reflexo do mundo resultante da divisão de classes. No tempo dos czares, a religião ortodoxa russa era a igreja do estado, sendo o czar seu líder. A Igreja foi limitada em sua ação pelos decretos comunistas e reagiu a isso, declarando guerra ao estado; como consequência, mais de mil padres e bispos foram mortos, numa repressão que quase desintegrou a Igreja.

No Ocidente, houve revolta contra o regime da União Soviética, tendo o catolicismo se oposto ao comunismo. Em 1939, forças nazistas invadiram a Polônia, iniciando a Segunda Guerra Mundial. Hitler, Mussolini e os dirigentes militares japoneses se uniram no Eixo, uma aliança que, num primeiro momento, assinou um acordo de não-agressão contra Stalin. Rompido o acordo, a União Soviética foi forçada a fazer aliança com os aliados ocidentais e entrar na guerra contra o Eixo.

Como no primeiro conflito mundial, os cristãos estavam dos dois lados da guerra. O cristianismo na Alemanha convivia com uma dúbia situação, pois alguns setores apoiavam o nazismo, enquanto outros segmentos eram por ele perseguidos. Isso fez com que o entusiasmo cristão pela causa alemã fosse diminuído nas tropas germânicas em relação à Primeira Guerra. Na Rússia, percebendo a importância do sentimento religioso para seus esforços de guerra, Stalin amenizou durante o conflito o tratamento dado anteriormente à Igreja Ortodoxa.

No cômputo geral da guerra, o cristianismo sofreu muito no conflito, tanto no aspecto físico como no moral: igrejas destruídas, clérigos mortos e crentes perseguidos levaram a opinião pública cristã a questionar se existiria uma guerra justa. Após o calor de duas guerras mundiais, iniciou-se a Guerra Fria. O Mundo dividiu-se ideologicamente em duas porções: de um lado o chamado imperialismo americano e do outro o regime ditatorial soviético. O mundo cristão já estava dividido, tendo o chamado socialismo cristão feito seus estragos, com a acomodação do cristianismo ao comunismo através da Teologia da Libertação, por exemplo. O Muro de Berlim, derrubado no final da década de 1880, continua de certa forma em pé no mundo do Século XXI, dividindo ideologicamente as questões políticas dos povos e também a cristandade nas questões eclesiásticas e espirituais, já que os dois lados do conflito defendem suas convicções de forma firme e decidida. “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro”, alertou o Senhor Jesus no Sermão do Monte. Embora seja difícil, é preciso que o cristão identifique numa ideologia se ela não prejudica a fé cristã, embora ideologia humana e evangelho divino sejam áreas que estejam em campos tão diferentes.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...