Ideologia é o conjunto de convicções filosóficas,
sociais, políticas, morais ou de outra natureza defendida por um indivíduo ou
grupo de indivíduos; é ainda o sistema de ideias sustentadas por um grupo
social, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e
compromissos institucionais. A palavra “ideologia” foi criada por
Destutt de Tracy, filósofo francês do final do século XVII, proveniente de dois
termos gregos: idea (imagem, aparência)
e logos (estudo). O estudo sistemático do assunto tomou vulto a partir da
Revolução Francesa.
Nazismo, comunismo, americanismo,
individualismo, nacionalismo, muitos são os "ismos" que refletem as
ideologias do século XX. Foi em nome do nacionalismo sérvio, por exemplo,
que um extremista assassinou o príncipe da coroa austro-húngara, em 1914, dando
início à Primeira Guerra Mundial. Sendo a Alemanha a grande derrotada da
Guerra, surgiu o nazismo como uma espécie de desejo de vingança.
Preocupado com a raça como ponto central de sua ideologia e ressaltando
as ideias de solo e sangue como fronteiras entre alemães e outros
povos, o nazismo elegeu, na sua xenofobia, o povo judeu com responsável por
seus problemas. Hitler considerava capitalismo e marxismo como
dois resultados da conspiração judaica, colocando no mesmo patamar também o
cristianismo. Estimativas confiáveis apontam em 6 milhões o número de judeus
mortos pelo nazismo na Alemanha e em países por ela ocupados. Começando com um
acordo com os cristãos e com os católicos romanos, acabou sendo apoiado por
líderes eclesiásticos, que muitas vezes traziam para suas paróquias as ideias
nazistas. Hitler abandonou todos os princípios cristãos nos quais fora criado,
trocando-os pela nova fé na regeneração do povo alemão através do
nacional-socialismo. Como reação à postura de alguns teólogos, surgiu a Igreja
Confessional, que procurou chamar a igreja de volta às verdades centrais
do cristianismo, rejeitando as determinações totalitárias do Estado. A Igreja
Confessional foi perseguida pelo nazismo, sendo muitos dos seus pastores presos
ou mesmo mortos.
Enquanto nascia e se firmava o nazismo, nas
décadas de 1920 e 30, na Rússia, os bolcheviques criaram um novo regime
totalitário de esquerda, o comunismo. O sistema se parecia muito com o
nazismo de Hitler: liderança ditatorial, um único partido no poder, terror,
propaganda, censura, economia centralizada e hostilidade à religião. Lenin foi
o líder inicial da Revolução Russa, que pregava a mobilização como meio de
mudança social, sucedido por Stalin. O regime de Stalin foi mais cruel que o de
Hitler, com polícia secreta, terror, campos de trabalho forçado e eliminação de
potenciais rivais, além de confronto implacável com o cristianismo, visto como
um reflexo do mundo resultante da divisão de classes. No tempo dos czares, a
religião ortodoxa russa era a igreja do estado, sendo o czar seu líder. A
Igreja foi limitada em sua ação pelos decretos comunistas e reagiu a isso,
declarando guerra ao estado; como consequência, mais de mil padres e bispos foram
mortos, numa repressão que quase desintegrou a Igreja.
No Ocidente, houve revolta contra o regime da
União Soviética, tendo o catolicismo se oposto ao comunismo. Em 1939, forças
nazistas invadiram a Polônia, iniciando a Segunda Guerra Mundial. Hitler,
Mussolini e os dirigentes militares japoneses se uniram no Eixo, uma aliança
que, num primeiro momento, assinou um acordo de não-agressão contra Stalin.
Rompido o acordo, a União Soviética foi forçada a fazer aliança com os aliados
ocidentais e entrar na guerra contra o Eixo.
Como no primeiro conflito mundial, os cristãos
estavam dos dois lados da guerra. O cristianismo na Alemanha convivia com uma
dúbia situação, pois alguns setores apoiavam o nazismo, enquanto outros
segmentos eram por ele perseguidos. Isso fez com que o entusiasmo cristão pela
causa alemã fosse diminuído nas tropas germânicas em relação à Primeira Guerra.
Na Rússia, percebendo a importância do sentimento religioso para seus esforços
de guerra, Stalin amenizou durante o conflito o tratamento dado anteriormente à
Igreja Ortodoxa.
No cômputo geral da guerra, o cristianismo sofreu muito no conflito, tanto no aspecto físico como no moral: igrejas destruídas, clérigos mortos e crentes perseguidos levaram a opinião pública cristã a questionar se existiria uma guerra justa. Após o calor de duas guerras mundiais, iniciou-se a Guerra Fria. O Mundo dividiu-se ideologicamente em duas porções: de um lado o chamado imperialismo americano e do outro o regime ditatorial soviético. O mundo cristão já estava dividido, tendo o chamado socialismo cristão feito seus estragos, com a acomodação do cristianismo ao comunismo através da Teologia da Libertação, por exemplo. O Muro de Berlim, derrubado no final da década de 1880, continua de certa forma em pé no mundo do Século XXI, dividindo ideologicamente as questões políticas dos povos e também a cristandade nas questões eclesiásticas e espirituais, já que os dois lados do conflito defendem suas convicções de forma firme e decidida. “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro”, alertou o Senhor Jesus no Sermão do Monte. Embora seja difícil, é preciso que o cristão identifique numa ideologia se ela não prejudica a fé cristã, embora ideologia humana e evangelho divino sejam áreas que estejam em campos tão diferentes.