quinta-feira, 21 de maio de 2020

47. VATICANO II E "AGGIORNAMENTO"


Desde os primórdios, a Igreja tem realizado concílios, reuniões de líderes eclesiásticos para deliberar sobre questões de fé, costumes, doutrina ou disciplina. Com o advento do Catolicismo, os concílios têm sido presididos pelo papa para promulgar novos dogmas, bem como para estabelecer mudanças em doutrinas e práticas da igreja. O Concílio de Trento havia dado ao catolicismo uma imagem de fortaleza inexpugnável sob o ataque das forças do secularismo, modernismo e individualismo. Pouco mais de uma década antes do Vaticano II, o Papa Pio XII, numa encíclica, censurou a tentativa de alguns teólogos para revisão dos ensinamentos da igreja. O Concílio Vaticano II revelou ao mundo a forte presença dentro do catolicismo romano de um novo espírito clamando por mudanças na Era das Ideologias; reunido de 1962 a 65, o concílio apresentou uma nova imagem, falando da igreja como um "povo peregrino", movendo-se pelo mundo juntamente com outros peregrinos e cuidando dos fracos e dos cansados.

O Papa João XXIII, responsável pelo Concílio, afirmou que a ideia lhe ocorreu como súbita inspiração do Espírito Santo. Durante sua caminhada como sacerdote, ele tinha tido oportunidade de conviver com católicos e não católicos, como judeus e muçulmanos; isso e outras tendências que revelou em sua vida fizeram com que ele encaminhasse o Concílio promovendo um "aggiornamento", uma atualização na igreja, tornando-a mais afinada com o seu tempo. Houve um número maciço de presença de cardeais, patriarcas, bispos e abades para o início dos trabalhos. O discurso de abertura anunciou um concilio mais pastoral que doutrinário, mais a favor de reformas do que contra algumas heresias. As comissões permanentes eleitas eram equilibradas e internacionais, tendo sido rejeitada de início a eleição direcionada para os peritos da Cúria Romana, que haviam feito o trabalho preparatório. Os dois grupos de bispos, os conservadores e os progressistas, tiveram a oportunidade de debater e mesmo de entrar em conflito em muitos dos tópicos abordados no Concílio.

Muitos conservadores não queriam o Concílio e tentaram mesmo sabotá-lo ou atrasar seus preparativos. Eram em sua maioria italianos idosos, localizados no Vaticano, distantes do mundo moderno e com grande influência histórica sobre os papas e o Catolicismo no mundo todo. Os progressistas eram na maioria não italianos, provenientes de várias partes do mundo e sem liderança única. Em meio às reuniões, morreu o Papa João XXIII, sendo substituído por Paulo VI, que deu continuidade aos trabalhos. No final, os 16 decretos do Concílio, com poucas exceções, refletiram a conciliação alcançada com dificuldade entre conservadores e progressistas. Ele representou uma ruptura com o espírito intransigente de Trento e com a posição defensiva do Vaticano I, voltando a face da Igreja Romana para o mundo, não em ira, mas em solicitude, em boa vontade.

As mudanças ocorridas por causa do Concílio causaram questionamentos no mundo católico. Nova liturgia com o altar vindo para frente, sacerdotes de frente e olhando para congregação, linguagem do povo em lugar do latim e interação entre os participantes foram as primeiras mudanças sentidas. Na autoridade da Igreja, poucas mudanças aconteceram, mantendo-se a estrutura piramidal, do poder do Papa para baixo. Setores progressistas da igreja se frustraram e continuam lutando para que o papado deixe de lado a postura que tinha assumido desde a Idade Média; segundo os progressistas, o papa não devia agir como alguém que estivesse fora da igreja ou acima dela. Questões como o aborto e o divórcio são impostas de cima para baixo e não se discute. Por causa de tudo isso, a igreja sofreu um êxodo de padres e freiras; a identidade dos sacerdotes parece ter sido a principal causa do êxodo, pois o caráter sagrado do sacerdócio parecia estar desaparecendo. A renovação carismática católica enfatizava o cristianismo pessoal e introduziu o batismo pentecostal, como o “falar em línguas”. No final da década de 1970, uma década depois do Vaticano II, a igreja de Roma havia, de vários modos, se distanciado de sua fortaleza medieval estabelecida em Trento. Sua jornada na Era das Ideologias tem sido uma perigosa e às vezes incerta peregrinação, na companhia de seus "irmãos afastados" protestantes.

Neste século XXI, a peregrinação continua, em um mundo cada vez mais tendente a estabelecer uma “nova ordem mundial”, de ideologia socialista, que gerou regimes comunistas em alguns lugares do mundo, com resultados nada animadores e perseguindo os seguidores da religião cristã, o “ópio do povo”, expressão divulgada por Karl Marx.  

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...