A origem de qualquer movimento novo
é sempre uma tarefa muito difícil de se definir com clareza na história.
Conforme já foi dito, sempre que a igreja dormiu, envelheceu ou pareceu ter
morrido, houve reações que a história registra como despertamentos, renovações ou reavivamentos.
Com o luteranismo, denominação protestante que se formou a partir do reformador
inicial, houve uma decadência com o passar do tempo, tendo surgido no seio da
igreja o pietismo, que recebeu e influenciou os morávios, que impactaram a vida
de John Wesley.
Muitos historiadores veem o pentecostalismo
como consequência do movimento metodista wesleyano, antes do surgimento do
avivamento Holiness (Santidade), na segunda metade do século XIX, também de
origem wesleyana. Segundo Justo Gonzáles, quando o avivamento de rua
Azusa começou, “muitas igrejas viram-se obrigadas a tomar uma decisão a
respeito. Muitas delas rejeitaram o que estava ocorrendo como obra demoníaca…
(mas) muitos outros grupos do movimento Holiness abraçaram o avivamento...”
Segundo um historiador, foi a partir de Wesley
que o movimento Holiness desenvolveu a teologia da “segunda bênção”. John
Fletcher, seguidor das ideias wesleyanas, chamou esta segunda bênção de
“batismo no Espírito Santo”, uma experiência que, segundo ele, traz poder
espiritual e limpeza interior para aquele que a recebe. A interpretação teológica do “batismo com o Espírito”
relacionada à glossolalia foi dada por Charles Fox Parham.
Da chamada “experiência do coração aquecido” de
Wesley vieram as ideias de plenitude de vida ou do
Espírito. A doutrina da perfeição cristã teve origem com
John Wesley, que tentou sintetizá-la da seguinte forma: “De um ponto de
vista, é pureza de intenção, dedicação da vida inteira a Deus... De outro ponto
de vista, é possuir toda a mente que estava em Cristo, habilitando-nos a andar
como Cristo andou”. Para John Wesley, perfeição cristã não é a
instantânea e absoluta ausência de pecado, mas sim o processo pelo qual nossa
vida experimenta a santificação e a “perfeição em amor”, isto é, estar em
Cristo e Cristo em nós.
Há pelo menos duas similaridades básicas entre
o pentecostalismo e o metodismo: os dois movimentos se desenvolveram no meio da
pobreza, na linha extrema da exclusão social, procurando ajudar a resolver as
carências; ambos os movimentos reconheceram a importância do leigo na igreja,
provendo “liderança que fosse espiritualmente viva, doutrinariamente
sonora e missiologicamente ativa” (Heitzenrater).
No alvorecer do século XX, com o surgimento do
avivamento da rua Azusa, o pentecostalismo passou a ser conhecido a partir da
Califórnia, nos Estados Unidos, atraindo a atenção de outros países, que
enviaram líderes evangélicos para conhecerem o que acontecia ali. A difusão
pelo mundo todo tomou tal vulto que, de um mero punhado de cristãos em 1900, no
final do século XX, 500 milhões de indivíduos eram pentecostais ou carismáticos, nomes
que se diferem pela época de surgimento. Pentecostais são os
que se organizaram em igrejas que dão ênfase aos dons especiais do Espírito
Santo; hoje existem inúmeras denominações pentecostais, que se agruparam sob
lideranças e ideias específicas dentro do movimento. Carismáticos são
os que iniciaram a prática dos dons do Espírito dentro de denominações e
igrejas tradicionais, provocando ruptura no segmento. Os dois nomes
acima abrem caminho para as três ondas históricas do Pentecostalismo:
1ª
onda: Pentecostalismo Denominacional, iniciado na década de
1900, com a criação de novas denominações – Assembleia de Deus, Evangelho
Quadrangular, do Nazareno e outras.
2ª
onda: Renovação Carismática, iniciada na década de 1950/1960
caracterizada por infiltração em igrejas mais tradicionais (católica, batista,
presbiteriana, etc.), que mantinham o nome principal acrescentando-se
“Renovada".
3ª
onda: Neo-Pentecostalismo, iniciado na década de 1960/1970
entre os pentecostais e caracterizada por algo físico, proveniente da
superstição pagã ou do demonismo, na forma de dentes de ouro, sopro do
Espírito, gargalhada de Toronto, latidos santos, água magnetizada, óleo de
Israel, fogueira santa, amuletos e outras crendices. A ênfase na
Teologia da Prosperidade e em apego a coisas físicas comuns ao ocultismo são
enfatizadas em mega-igrejas e tele-cultos, com líderes como Hinn, Hagin,
Macedo, Soares, Rodovalho, Milhomens, Castellano e outros. Palavras e
expressões estranhas ao Cristianismo surgiram com a onda, como ordenar
para Deus, tomar posse da bênção, amarrar demônios e outras. A ênfase
é pregação na área financeira, profissional, da saúde, matrimonial, espiritual,
ou qualquer outra, deixando-se de lado a pureza da pregação do evangelho
neotestamentário da salvação em Cristo.
Apesar de ter renovado a visão da igreja cristã em muitos aspectos, o movimento carismático é por muitos tradicionais criticado por aproximar-se, em alguns aspectos, do Catolicismo combatido pelos reformadores. O catolicismo aceita as Escrituras e também a tradição oral como base doutrinária. O Pentecostalismo parte das Bíblia, mas coloca sentimentos, pensamentos, emoções e experiências ao lado das Escrituras, crendo que a revelação pessoal também é base doutrinária de fé, o que provoca muitas distorções. Precisamos voltar ao “Sola Scriptura” da Reforma Protestante.