Em 1054, o Papa
Leão IX, líder da Igreja Católica Romana, e o Patriarca do Oriente se
excomungaram mutuamente, após um longo e complicado processo, originando o
primeiro cisma oficial do Cristianismo. O Catolicismo Ortodoxo, menos conhecido
e estudado que o Ocidental, é mais do que um “catolicismo sem papa”.
O sistema ortodoxo
comporta hoje 15 igrejas distintas, a maioria na Europa Oriental, com uma fé e
uma história comuns. A característica mais marcante é a presença do ícone no
lugar da imagem tridimensional católica, pois o oriental entende que o homem
foi criado à imagem de Deus e carrega um ícone de Deus dentro de si. Por isso,
ao chegar ao templo, o adorador vai primeiro ao iconostasis, a parede de
quadros que separa o santuário da nave, onde beija o ícone do santo de sua
preferência.
Constantinopla foi
fundada por Constantino como a "Nova Roma, Cidade do Imperador e do
Senado", tendo sido levada para lá a capital do Império Romano. Teodósio,
um dos sucessores de Constantino no final do século IV, foi o responsável pela
oficialização do Cristianismo como religião do Estado do Império, bem como pela
sua divisão oficial, após sua morte, criando o Império Romano Ocidental, com a
capital em Roma, e o Oriental, com a capital em Constantinopla. Os dois
segmentos ficaram nas mãos dos dois filhos de Teodósio. A partir de então,
Oriente e Ocidente passaram a trilhar caminhos diferentes. Pouco menos de um
século após, em meados do século quinto, a parte ocidental do império deixaria
de existir, caindo nas mãos dos bárbaros germânicos; a parte oriental
continuaria a existir por mais dez séculos, caindo Constantinopla nas mãos
muçulmanas dos turcos otomanos.
No século sexto, o
Imperador Justiniano deu origem ao estilo que combinava lei humana, fé cristã e
filosofia helenística, a chamada arte bizantina. O exemplo arquitetônico
maior foi a reconstrução da “Igreja da Sagrada Sabedoria de Constantino”, a
Haja Sofia. Justiniano definiu o futuro da ortodoxia oriental, unindo império e
igreja. Sua missão como Imperador foi assim por ele resumida: "Manutenção
da fé cristã em sua pureza e proteção da Sagrada igreja católica e apostólica
contra qualquer perturbação".
A presença e
veneração do ícone na igreja acabou por provocar uma verdadeira idolatria, que
com o tempo eclodiu na "Reforma Iconoclasta", com seu apogeu no
século VIII, sob o domínio do Imperador Leão III. Após algum tempo, houve um
equilíbrio no conflito. O cisma ocorreu em 1054, tendo por cenário Haja Sofia
em Constantinopla. Após a separação oficial, com as pressões da Europa Católica
Romana no Ocidente e do Islã no Oriente, um estreito corredor se abriu para o
Norte, onde Boris, rei dos búlgaros, e Wladimir, Príncipe de Kiev e de toda a
Rússia, abriram as portas para o catolicismo ortodoxo em toda região,
tornando-se Moscou líder do mundo ortodoxo. Após a primeira Roma Romana, a
segunda bizantina em Constantinopla, surgiu a terceira em Moscou, onde o
Imperador atribuiu a si mesmo um título inspirado em Roma: o Czar Russo, que
tem como origem o César Latino.
Sintetizando as diferenças entre o
catolicismo ocidental e oriental, no primeiro a autoridade
máxima é do papa no último não há uma autoridade máxima na igreja, sendo sua
hierarquia mais alta um colegiado de bispos presidido pelo Patriarca de
Constantinopla. O celibato é obrigatório para todos os sacerdotes católicos
romanos, enquanto no oriental tal exigência é apenas para os bispos e liderança
maior. O calendário gregoriano é o adotado por Roma e aqueles que a seguem, já
que foi estabelecido pelo Papa romano Gregório no século XVI; a Igreja Oriental
usa o calendário juliano, do Império Romano, que possui uma diferença de 13
dias em relação ao gregoriano. A cruz tradicional com apenas uma barra
horizontal é romana e a ortodoxa possui 3 barras, uma menor para a inscrição
(em latim INRI), outra maior para os braços e uma terceira, mais abaixo, para
os pés. Ainda no Império Romano, o latim era usado no Ocidente e o grego no
Oriente; na Igreja Romana, anteriormente era utilizado o latim na missa, hoje
se emprega a língua local; os ortodoxos utilizam o idioma local. Com relação
aos dogmas, a Igreja Ocidental introduziu a crença no purgatório, enquanto os
orientais não a aceitaram, assim como outros dogmas romanos, como os ligados a
Maria, por exemplo (virgindade eterna, imaculada concepção, ascensão aos céus,
por exemplo).
O número de
católicos no mundo em 2016 era calculado em 1 bilhão e oitocentos milhões,
cerca de 18% da população mundial, dos quais cerca de 250 milhões são
ortodoxos, principalmente localizados na Europa Oriental.