quinta-feira, 9 de julho de 2020

40. LIBERALISMO PROTESTANTE


O liberalismo como movimento desafiou a ortodoxia de toda a Europa e da América do Norte. A Igreja Congregacional, surgida num primeiro momento no Novo Mundo como resultado da visão puritana, a partir da segunda metade do século XIX foi responsável pela divulgação do liberalismo cristão.

Tendo surgido no início do século XVIII e contrariando o poder da religião institucionalizada, o liberalismo é fruto do Iluminismo. As pressuposições filosóficas do movimento eram o racionalismo de Descartes, Spinoza e Leibniz e o empirismo de Locke, Berkeley e Hume. O efeito da combinação dessas duas filosofias é que Deus tem de ficar de fora do conhecimento humano. Como resultado da invasão do racionalismo na teologia, afirma-se que “o sobrenatural não invade a história”, que passou a ser vista simplesmente como uma relação natural de causas e efeitos. O conceito de que Deus se revela ao homem e de que intervém e atua na história humana foram logo excluídos.

O liberalismo protestante tentou introduzir a Igreja no novo mundo da ciência, filosofia e história modernas, procurando tornar o homem ao mesmo tempo um ser modernista e um cristão respeitável. Porém, como dar significado à fé cristã dentro de um mundo de pensamento materialista, sem destruir ou distorcer o evangelho? Como impedir a hipótese de que, no liberalismo, um Deus em ira trouxesse o homem sem pecado a um reino sem julgamento pelo ministério de um Cristo sem cruz, conforme sugeriu Niebuhr? A imanência de Deus confundiu-se com panteísmo e sua transcendência com o deísmo. O desafio de Darwin e o criticismo bíblico foram desafios enfrentados pela igreja a partir do século XIX. O criticismo lançou dúvidas sobre a crença de que a Bíblia é autoridade infalível para fé e prática cristãs. Os liberais cristãos, considerando-se "modernos inteligentes", passaram a defender um Deus do Antigo Testamento diferente do Pai amoroso que Cristo apresentou. Deixando de lado as doutrinas tradicionais da ortodoxia, os críticos se apoiavam na "experiência cristã". Um sentimento de dependência do universo baseava a experiência cristã, defendida principalmente por Schleirmacher e Ritschl, teólogos alemães. Nessa linha, a experiência religiosa era concentrada no Jesus histórico, deixando de lado a ideia de Filho de Deus, nascimento virginal e messianismo.

A fé cristã histórica sempre acreditou que os milagres bíblicos realmente ocorreram como narrados. Milagres como o nascimento virginal de Cristo, os milagres que o próprio Cristo realizou, sua ressurreição física dentre os mortos, os milagres do Antigo e Novo Testamentos, de maneira geral, são todos considerados fatos. O teólogo liberal faz distinção entre historie (história, fatos reais) e heilsgeschichte (história santa, ou história da salvação). Temas como criação, Adão, queda, milagres, ressurreição, entre outros, pertencem à história salvífica e não à história real. Assim, o que eles querem afirmar com isso é bastante diferente daquilo que a fé cristã histórica acredita. Na verdade, eles consideram que os relatos bíblicos dos milagres são invenções piedosas do povo judeu e dos primeiros cristãos, mitos e lendas oriundos de uma época pré-científica, quando ainda não havia explicação racional e lógica para o sobrenatural.

Como outros movimentos de pensamento surgidos na Modernidade, o liberalismo procura se apresentar com sua face mais cristã para adequar-se à prática do cristão nos nossos dias. Tudo o que é puramente humano é relativo, ligado à sua realidade de vida, desde que o homem foi resultado da Criação de Deus, sofreu a Queda pelo pecado adâmico e precisa da Redenção providenciada pelo próprio Deus em Cristo Jesus. O cuidado da Igreja nessa adequação é não permitir que essas filosofias humanas relativas venham a interferir com as verdades absolutas da Palavra de Deus.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...