O liberalismo como movimento
desafiou a ortodoxia de toda a Europa e da América do Norte. A Igreja
Congregacional, surgida num primeiro momento no Novo Mundo como resultado da
visão puritana, a partir da segunda metade do século XIX foi responsável pela
divulgação do liberalismo cristão.
Tendo
surgido no início do século XVIII e contrariando o poder da religião
institucionalizada, o liberalismo é fruto do Iluminismo. As pressuposições
filosóficas do movimento eram o racionalismo de Descartes, Spinoza e Leibniz e
o empirismo de Locke, Berkeley e Hume. O efeito da combinação dessas duas
filosofias é que Deus tem de ficar de fora do conhecimento humano. Como
resultado da invasão do racionalismo na teologia, afirma-se que “o sobrenatural
não invade a história”, que passou a ser vista simplesmente como uma relação
natural de causas e efeitos. O conceito de que Deus se revela ao homem e de que
intervém e atua na história humana foram logo excluídos.
O
liberalismo protestante tentou introduzir a Igreja no novo mundo da ciência,
filosofia e história modernas, procurando tornar o homem ao mesmo tempo um ser
modernista e um cristão respeitável. Porém, como dar significado à fé cristã
dentro de um mundo de pensamento materialista, sem destruir ou distorcer o
evangelho? Como impedir a hipótese de que, no liberalismo, um Deus em
ira trouxesse o homem sem pecado a um reino sem julgamento pelo ministério de
um Cristo sem cruz, conforme sugeriu Niebuhr? A imanência de Deus confundiu-se
com panteísmo e sua transcendência com
o deísmo. O desafio de Darwin e o criticismo bíblico foram desafios
enfrentados pela igreja a partir do século XIX. O criticismo lançou dúvidas
sobre a crença de que a Bíblia é autoridade infalível para fé e prática
cristãs. Os liberais cristãos, considerando-se "modernos
inteligentes", passaram a defender um Deus do Antigo Testamento diferente
do Pai amoroso que Cristo apresentou. Deixando de lado as doutrinas
tradicionais da ortodoxia, os críticos se apoiavam na "experiência
cristã". Um sentimento de dependência do universo baseava a experiência
cristã, defendida principalmente por Schleirmacher e Ritschl, teólogos alemães.
Nessa linha, a experiência religiosa era concentrada no Jesus histórico,
deixando de lado a ideia de Filho de Deus, nascimento virginal e messianismo.
A fé cristã
histórica sempre acreditou que os milagres bíblicos realmente ocorreram como
narrados. Milagres como o nascimento virginal de Cristo, os milagres que o
próprio Cristo realizou, sua ressurreição física dentre os mortos, os milagres
do Antigo e Novo Testamentos, de maneira geral, são todos considerados fatos. O
teólogo liberal faz distinção entre historie (história,
fatos reais) e heilsgeschichte (história
santa, ou história da salvação). Temas como criação, Adão, queda, milagres,
ressurreição, entre outros, pertencem à história salvífica e não à história
real. Assim, o que eles querem afirmar com isso é bastante diferente daquilo
que a fé cristã histórica acredita. Na verdade, eles consideram que os relatos
bíblicos dos milagres são invenções piedosas do povo judeu e dos primeiros
cristãos, mitos e lendas oriundos de uma época pré-científica, quando ainda não
havia explicação racional e lógica para o sobrenatural.
Como outros movimentos de pensamento surgidos na Modernidade, o liberalismo procura se apresentar com sua face mais cristã para adequar-se à prática do cristão nos nossos dias. Tudo o que é puramente humano é relativo, ligado à sua realidade de vida, desde que o homem foi resultado da Criação de Deus, sofreu a Queda pelo pecado adâmico e precisa da Redenção providenciada pelo próprio Deus em Cristo Jesus. O cuidado da Igreja nessa adequação é não permitir que essas filosofias humanas relativas venham a interferir com as verdades absolutas da Palavra de Deus.