Ao longo da
história, o homem foi evoluindo na forma de se organizar e de pensar sobre a
sociedade. Durante a pré-história, o objetivo era a manutenção da
sobrevivência. Na Idade Média, voltava-se para a religiosidade, com a Igreja
Católica monopolizando o pensamento, a ação e a vida das pessoas. Na
Modernidade, um dos momentos mais importantes foi o Iluminismo, no chamado
Século das Luzes.
Do século XVI ao
XVIII, no contexto político e social da época, vigoraram os sistemas
absolutistas centralizando o poder no rei, que mandava prender ou matar os
opositores. O Iluminismo pregava a razão como melhor caminho para atingir a
liberdade, representando uma reação de oposição às influências da Igreja
Católica, às estruturas feudais e à supremacia da monarquia. O Iluminismo
surgiu num primeiro momento após a Reforma Protestante, forçando definição
religiosa em três segmentos cristãos: católico, luterano e reformado (ou
calvinista). Esse período se caracteriza como revolta contra a mistura
de fé e poder, numa época que trouxe uma revolução
intelectual, uma maneira nova de se olhar para Deus, para o mundo e para si
mesmo, com o surgimento do secularismo. Substituiu-se a autoridade
medieval da igreja e o foco protestante da Bíblia pela razão
humana: trocou-se a fé pela razão.
A preocupação básica
do ser humano não era mais a vida eterna futura, mas a felicidade e satisfação
neste mundo, buscando o que registrou na sua época o Barão von Houbach, ao
desejar que o homem "se torne um ser virtuoso e racional, que não fracasse
em se tornar feliz". A Renascença via o homem, não como o pecador decaído
da Reforma, mas de forma positiva, como ser racional capaz de resolver
problemas, sentimento que cresceu durante o Iluminismo.
Entre os anos 1550 e
1650, tivemos o século da intimidação aos conflitos religiosos, com a
guerra civil inglesa, a perseguição aos huguenotes na França e a Guerra
dos 30 Anos na Alemanha. Isso representou oposição ao poder dos clérigos e
repúdio à heresia ou ao misticismo. O preconceito religioso parecia ser mais perigoso
que o ateísmo. No século XVI e XVII, a ciência colocou o homem diante de um
tempo de paz e harmonia, começando por Copérnico e o sol como centro do
sistema, passando por Kepler e a terra girando em torno do sol, e atingindo
Galileu com o telescópio e a nova visão do universo. O mundo universal
medieval de anjos e demônios foi substituído por um universo com leis
físicas e matemáticas. "A natureza e as leis da natureza escondem-se
na noite; Deus disse; 'Haja Newton!' E tudo se fez luz". Esta afirmação de
Alexander Pope está presente no túmulo de Newton. Passou-se a crer então que o
homem tem capacidade de encontrar a verdade por seus sentidos e razão: é
o racionalismo.
A cosmovisão do
homem europeu mudou: a visão bíblica e agostiniana de homem pecador dependente
da graça de Deus passou para o ser humano racional dependente do seu senso
comum. O Cristianismo no início tentou criar uma versão que aceitava algumas
verdades pela razão (a existência de Deus, por exemplo) e outras pela fé (como
a ressurreição de Cristo). Embora mantendo a importância da fé, o Deus de John
Locke é diferente do que é apresentado no Êxodo ou no Novo Testamento: sem
mistério ou emoções, o modelo de Locke é produto de provas racionais. Para ele,
as revelações mostram o caráter racional do Cristianismo: crer no
messianismo de Cristo e comportar-se eticamente, que era o que Jesus e os
apóstolos pregavam, ambos com bases racionais.
A primeira geração
do século XVIII tinha pouca ligação com o passado cristão e deixou de lado
a revelação, crendo que mitos e milagres contrários à razão não são
verdadeiros. Criou-se o deísmo, a aceitação da existência de um ser
superior que, tal como o Supremo relojoeiro, criou seu relógio, deu corda nele
e deixou-o funcionando sem qualquer interferência. Voltaire e o enciclopedista
Diderot, na França, bem como os pais da nação norte-americana (Washington,
Jefferson, Franklin e outros), eram deístas. Procuravam ensinar os homens a
valorizar a razão, aceitando como verdade apenas o que pudesse ser verificado e
provado. O Catolicismo, fechado em si mesmo desde a Contrarreforma, refutou o
discurso deísta e proibiu seus livros; as denominações protestantes tentaram
dialogar com o deísmo, às vezes vencendo, mas muitas vezes perdendo a batalha e
seus soldados.
O racionalismo começou
a fazer parte da história da Igreja, mudando sua forma de ser, de pensar, de
crer e de exercer sua fé no Deus do Antigo e do Novo Testamento. Um Deus sem
ira, um homem sem pecado, o Reino dos Céus sem julgamento, o ministério de
Cristo sem cruz: esta foi a tese racional que o Cristianismo enfrentou diante
das mudanças que a Modernidade impôs ao mundo, principalmente em sua faixa
ocidental.
O “Século das Luzes”
opõe-se à “Idade das Trevas”, nome dado ao período medieval pelos participantes
do Renascimento. Iluminismo, racionalismo, cientificismo, positivismo,
materialismo e outros “ismos” fazem parte da utopia criada pela Modernidade,
crendo que o ser humano, por seus próprios meios, seria capaz de resolver todos
os problemas do mundo, de quaisquer naturezas. No século XXI, a Modernidade
Líquida, também chamada de Pós-Modernidade, mostra o que aconteceu após todas
essas mudanças: a Idade Moderna fez-se água, derreteu, e a frustração com tudo
isto tem sido muito grande.