Os cristãos protestantes se dividem porque têm
a liberdade de divergir. A diferença que caracterizou os séculos XVI e XVII foi
a aceitação de diferenças religiosas: "Não concordo com o que você
diz, mas defenderei seu direito de dizê-lo". No entanto, Lutero e os
reformadores iniciais não pensavam assim; Lutero e Loyola criam que a verdade
cristã mantinha as congregações unidas, sendo um instrumento de poder. Isso
levou à luta na Alemanha, na França, na Holanda e gerou a Guerra dos 30 Anos
(1618-1648), que começou como batalha religiosa com implicações políticas e
terminou como embate político com implicações religiosas. No final, foram
reconhecidas como expressões de fé cristã naquelas regiões o calvinismo, o
luteranismo e o catolicismo, que até puderam conviver no mesmo território,
pondo por terra o poder papal até então vigente. A chamada Paz de Westfalia de
1648 é considerada divisor de águas entre a era inicial da Reforma e o início
da Modernidade propriamente dita.
Denominação é termo inclusivo, oposto
a seita, que denota separação e exclusividade de cada organização. A
teoria denominacional da igreja defende que a verdadeira igreja não se
identifica com uma única estrutura eclesiástica que represente a Igreja de
Cristo; cada uma é uma forma diferente, tanto na adoração quanto na
administração, na ampla vida da igreja. Ninguém pode definir com precisão quais
são os eleitos de Deus. É possível haver divisões e, ao mesmo tempo, estarmos
unidos em Cristo, sendo o cristão identificado pela unidade de uma experiência
religiosa interna, a conversão. Esta visão denominacional da igreja, com
pouca aceitação na Inglaterra, teve aceitação nas colônias inglesas da América,
reconhecendo direito à diferença dos presbiterianos, congregacionais, batistas,
quacres e outros. Hoje há centenas de grupos cristãos no mundo, reunidos em
denominações ou sob outras formas, como a melhor alternativa surgida em
consequência à Reforma Protestante iniciada por Lutero em 1517.
A primeira geração de reformadores acreditava
que a ruptura havida na Igreja Cristã com o catolicismo seria temporária e que
protestantes e católicos entrariam em acordo, para que a Igreja voltasse a se
unir, desde que o Catolicismo aceitasse reformas mais profundas. O Concílio de
Trento, porém, frustrou a esperança, ao mudar muito pouca coisa e reafirmar
dogmas inaceitáveis pelos reformados.
A estruturação denominacional passou a ser a
tarefa da segunda geração de Protestantes. Para essa geração, é válido lembrar
o que disse Hugh Latimer, um bispo anglicano do século XVI: “Todos queriam
o bem, mas certamente eles não queriam a mesma coisa”. Havia uma vontade
de acertar – o bem mencionado – por parte de todas as lideranças de
reformadores, mas o resultado conseguido não foi uniforme, pois as mudanças
seguiram entendimentos teológicos diferenciados. A partir do século XVI, as
denominações começaram a se estruturar, embora a palavra denominação para
descrever um grupo religioso somente passasse a ser utilizada por volta de
1740, durante o início do reavivamento evangélico liderado por John Wesley e
George Whitefield.
Um dos fatores que diferenciaram uma
denominação de outra desde o início foi a forma de governo eclesiástico.
Três tipos tradicionais de organização da igreja protestante passaram a ser
usados: o episcopal, o presbiteriano e o congregacional. O modelo episcopal,
característica de luteranos e anglicanos, é usado principalmente por
denominações que consideram que a reforma se aplica mais à doutrina e à
liturgia e menos às estruturas da igreja. O modelo presbiteriano nasceu
com Calvino, com sua estrutura quádrupla de liderança de pastores, mestres,
anciãos e diáconos, baseada no Novo Testamento. Influente na América do Norte e
na Coreia da época moderna, o modelo tornou-se menos marcante no protestantismo
europeu. O modelo congregacional não enfatiza credos e confissões de
fé específicas, acreditando que essa exigência mina a independência da
congregação local; além da Igreja Congregacional, também os Batistas adotam o
modelo.
O Senhor Jesus Cristo previu, em sua oração sacerdotal proferida pouco antes da cruz, que a unidade da Igreja não seria tarefa fácil de ser mantida e orou pelos seus discípulos, para que a mantivessem. Além do Edificador da Igreja, também Paulo, apóstolo que muito contribuiu para a definição das diretrizes doutrinárias eclesiásticas, deixou orientações sobre o assunto. Vamos encerrar esta reflexão com a declaração paulina: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer” (1 Coríntios 1:10).