sexta-feira, 10 de julho de 2020

31. DENOMINACIONALISMO


Os cristãos protestantes se dividem porque têm a liberdade de divergir. A diferença que caracterizou os séculos XVI e XVII foi a aceitação de diferenças religiosas: "Não concordo com o que você diz, mas defenderei seu direito de dizê-lo". No entanto, Lutero e os reformadores iniciais não pensavam assim; Lutero e Loyola criam que a verdade cristã mantinha as congregações unidas, sendo um instrumento de poder. Isso levou à luta na Alemanha, na França, na Holanda e gerou a Guerra dos 30 Anos (1618-1648), que começou como batalha religiosa com implicações políticas e terminou como embate político com implicações religiosas. No final, foram reconhecidas como expressões de fé cristã naquelas regiões o calvinismo, o luteranismo e o catolicismo, que até puderam conviver no mesmo território, pondo por terra o poder papal até então vigente. A chamada Paz de Westfalia de 1648 é considerada divisor de águas entre a era inicial da Reforma e o início da Modernidade propriamente dita.

Denominação é termo inclusivo, oposto a seita, que denota separação e exclusividade de cada organização. A teoria denominacional da igreja defende que a verdadeira igreja não se identifica com uma única estrutura eclesiástica que represente a Igreja de Cristo; cada uma é uma forma diferente, tanto na adoração quanto na administração, na ampla vida da igreja. Ninguém pode definir com precisão quais são os eleitos de Deus. É possível haver divisões e, ao mesmo tempo, estarmos unidos em Cristo, sendo o cristão identificado pela unidade de uma experiência religiosa interna, a conversão. Esta visão denominacional da igreja, com pouca aceitação na Inglaterra, teve aceitação nas colônias inglesas da América, reconhecendo direito à diferença dos presbiterianos, congregacionais, batistas, quacres e outros. Hoje há centenas de grupos cristãos no mundo, reunidos em denominações ou sob outras formas, como a melhor alternativa surgida em consequência à Reforma Protestante iniciada por Lutero em 1517.

A primeira geração de reformadores acreditava que a ruptura havida na Igreja Cristã com o catolicismo seria temporária e que protestantes e católicos entrariam em acordo, para que a Igreja voltasse a se unir, desde que o Catolicismo aceitasse reformas mais profundas. O Concílio de Trento, porém, frustrou a esperança, ao mudar muito pouca coisa e reafirmar dogmas inaceitáveis pelos reformados.

A estruturação denominacional passou a ser a tarefa da segunda geração de Protestantes. Para essa geração, é válido lembrar o que disse Hugh Latimer, um bispo anglicano do século XVI: “Todos queriam o bem, mas certamente eles não queriam a mesma coisa”. Havia uma vontade de acertar – o bem mencionado – por parte de todas as lideranças de reformadores, mas o resultado conseguido não foi uniforme, pois as mudanças seguiram entendimentos teológicos diferenciados. A partir do século XVI, as denominações começaram a se estruturar, embora a palavra denominação para descrever um grupo religioso somente passasse a ser utilizada por volta de 1740, durante o início do reavivamento evangélico liderado por John Wesley e George Whitefield.

Um dos fatores que diferenciaram uma denominação de outra desde o início foi a forma de governo eclesiástico. Três tipos tradicionais de organização da igreja protestante passaram a ser usados: o episcopal, o presbiteriano e o congregacional. O modelo episcopal, característica de luteranos e anglicanos, é usado principalmente por denominações que consideram que a reforma se aplica mais à doutrina e à liturgia e menos às estruturas da igreja. O modelo presbiteriano nasceu com Calvino, com sua estrutura quádrupla de liderança de pastores, mestres, anciãos e diáconos, baseada no Novo Testamento. Influente na América do Norte e na Coreia da época moderna, o modelo tornou-se menos marcante no protestantismo europeu. O modelo congregacional não enfatiza credos e confissões de fé específicas, acreditando que essa exigência mina a independência da congregação local; além da Igreja Congregacional, também os Batistas adotam o modelo.

O Senhor Jesus Cristo previu, em sua oração sacerdotal proferida pouco antes da cruz, que a unidade da Igreja não seria tarefa fácil de ser mantida e orou pelos seus discípulos, para que a mantivessem. Além do Edificador da Igreja, também Paulo, apóstolo que muito contribuiu para a definição das diretrizes doutrinárias eclesiásticas, deixou orientações sobre o assunto. Vamos encerrar esta reflexão com a declaração paulina: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer” (1 Coríntios 1:10).

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...