sexta-feira, 10 de julho de 2020

27. TRENTO E A REAÇÃO CATÓLICA

Sobre o Catolicismo no final da Idade Média, Earl Cairns afirmou: "Com os olhos presos no passado, tanto clássico quanto pagão, e indiferentes às forças dinâmicas que estavam formando uma nova sociedade (a sociedade italiana, da qual o papado fazia parte), (ele) adotou uma forma de vida corrupta, sensual e imoral, embora culta e refinada".

Trento é uma cidade italiana, capital administrativa de província da região autônoma Trentino-Alto Ádige, com aproximadamente 116.000 habitantes atualmente. No século XVI, pertencendo ainda ao Império Áustro-Húngaro, na região do Tirol, a cidade foi cenário de um importante concílio da Igreja Católica, o Concílio Tridentino da Reforma Católica, ou da Contrarreforma protestante, com reuniões que aconteceram entre 1546 e 1563.

De início, a igreja não reagiu diante da ameaça protestante. Três décadas depois, percebendo a seriedade do movimento, o papa Paulo III convocou O Concílio e reformou a atividade do ofício papal. Em três ocasiões especiais, reuniu-se o Concílio de Trento, com forte representação italiana, tendo sido a Igreja coagida a perceber que a liderança, tanto do Papa como de cardeais, precisava cuidar das questões espirituais e deixar os interesses mundanos de lado. Era preciso acabar com o suborno de autoridades, o abuso das indulgências, a desobediência às leis eclesiásticas e a prostituição em Roma. Tudo o que a Reforma Protestante propôs foi rejeitado, principalmente a justificação pela fé e a salvação somente pela graça. Boas obras e a cooperação humana foram reforçadas como complemento da justificação do pecado e da salvação eterna. Papas e bispos como verdadeiros e únicos intérpretes da Bíblia, os sete sacramentos e o sacrifício da missa foram mantidos, além dos demais dogmas. Enfrentando a rebelião de quase metade da Europa, o catolicismo conseguir reduzir a onda protestante a tal ponto que, no final do século XVI, o protestantismo limitava-se aproximadamente ao terço norte da Europa, como acontece atualmente. Grande parte do continente europeu, na parte central e mediterrânea, manteve-se fiel a Roma. A grande expansão do Protestantismo somente aconteceria no Novo Mundo inicialmente, principalmente na América do Norte, espalhando-se posteriormente para o restante do continente americano, bem como atingindo a Ásia, África e o Novíssimo Mundo, a Oceania. Segundo Shelley, com relação ao resultado, "o trabalho do Concílio era medieval, apenas a ira era nova". Outros papas também participaram das reuniões, já que elas duraram 18 anos, como Júlio III, Paulo IV, Pio V, Gregório XIII e Sisto V.

Após o Concílio, guerras e conflitos entre católicos e protestantes se estenderam por décadas, culminando com a Guerra dos Trinta Anos, que dividiu a Europa e somente terminou em 1648, com a Paz de Vestfália e a demarcação dos territórios e fronteiras político-religiosas católicas e protestantes. A igreja contou com apoio importante para a recuperação de posições perdidas, principalmente a ordem jesuítica recém-criada, de Inácio de Loyola, soldados ousados que iriam onde o Papa os enviasse, "fosse de encontro aos turcos ou para o Novo Mundo, ou contra luteranos ou outros, fossem infiéis ou infiéis".

No início do movimento, Lutero e Calvino achavam que a Igreja Católica adotaria suas ideias e se reformaria. Em Trento, vários protestantes estiveram presentes durante a segunda série de sessões do Conselho, mas não houve nenhum resultado prático satisfatório: Roma havia fechado as portas definitivamente para qualquer abertura, enclausurando-se, avessa a qualquer reforma maior, ou mesmo a adequações que seriam necessárias, diante de uma situação político-social europeia em profundas e radicais mudanças.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...