Sobre o Catolicismo no final da Idade Média,
Earl Cairns afirmou: "Com os olhos presos no passado, tanto clássico
quanto pagão, e indiferentes às forças dinâmicas que estavam formando uma nova
sociedade (a sociedade italiana, da qual o papado fazia parte), (ele) adotou
uma forma de vida corrupta, sensual e imoral, embora culta e refinada".
Trento é uma cidade italiana, capital administrativa de província da região autônoma Trentino-Alto Ádige, com aproximadamente 116.000
habitantes atualmente. No século XVI, pertencendo ainda ao Império
Áustro-Húngaro, na região do Tirol, a cidade foi cenário de um importante concílio
da Igreja Católica, o Concílio Tridentino da Reforma Católica, ou da
Contrarreforma protestante, com reuniões que aconteceram entre 1546 e 1563.
De início, a igreja não reagiu diante da ameaça
protestante. Três décadas depois, percebendo a seriedade do movimento, o papa
Paulo III convocou O Concílio e reformou a atividade do ofício papal. Em três
ocasiões especiais, reuniu-se o Concílio de Trento, com forte representação
italiana, tendo sido a Igreja coagida a perceber que a liderança, tanto do Papa
como de cardeais, precisava cuidar das questões espirituais e deixar os
interesses mundanos de lado. Era preciso acabar com o suborno de autoridades, o
abuso das indulgências, a desobediência às leis eclesiásticas e a prostituição
em Roma. Tudo o que a Reforma Protestante propôs foi rejeitado, principalmente
a justificação pela fé e a salvação somente pela graça. Boas obras e a
cooperação humana foram reforçadas como complemento da justificação do pecado e
da salvação eterna. Papas e bispos como verdadeiros e únicos intérpretes da
Bíblia, os sete sacramentos e o sacrifício da missa foram mantidos, além dos
demais dogmas. Enfrentando a rebelião de quase metade da Europa, o catolicismo
conseguir reduzir a onda protestante a tal ponto que, no final do século XVI, o
protestantismo limitava-se aproximadamente ao terço norte da Europa, como
acontece atualmente. Grande parte do continente europeu, na parte central e
mediterrânea, manteve-se fiel a Roma. A grande expansão do Protestantismo
somente aconteceria no Novo Mundo inicialmente, principalmente na América do
Norte, espalhando-se posteriormente para o restante do continente americano,
bem como atingindo a Ásia, África e o Novíssimo Mundo, a Oceania. Segundo
Shelley, com relação ao resultado, "o trabalho do Concílio era
medieval, apenas a ira era nova". Outros papas também participaram das
reuniões, já que elas duraram 18 anos, como Júlio III, Paulo IV, Pio V,
Gregório XIII e Sisto V.
Após o Concílio, guerras e conflitos entre
católicos e protestantes se estenderam por décadas, culminando com a Guerra dos Trinta Anos, que dividiu a Europa e somente terminou em 1648, com a Paz de Vestfália e a demarcação dos territórios e fronteiras político-religiosas católicas e
protestantes. A igreja contou com apoio importante para a recuperação de
posições perdidas, principalmente a ordem jesuítica recém-criada, de
Inácio de Loyola, soldados ousados que iriam onde o Papa os enviasse, "fosse
de encontro aos turcos ou para o Novo Mundo, ou contra luteranos ou outros,
fossem infiéis ou infiéis".
No início do movimento, Lutero e Calvino achavam que a Igreja Católica adotaria suas ideias e se reformaria. Em Trento, vários protestantes estiveram presentes durante a segunda série de sessões do Conselho, mas não houve nenhum resultado prático satisfatório: Roma havia fechado as portas definitivamente para qualquer abertura, enclausurando-se, avessa a qualquer reforma maior, ou mesmo a adequações que seriam necessárias, diante de uma situação político-social europeia em profundas e radicais mudanças.