quinta-feira, 9 de julho de 2020

37. EVANGELISMO E SOCIEDADE

A Inglaterra foi o berço da Revolução Industrial. Nos séculos XVIII e XIX, o sol nunca se punha sobre o império inglês, tão grande e abrangente era ele no mundo. Após a Revolução Francesa, medo e esperança se misturavam na Inglaterra. Havia ali tanto o trabalho da igreja anglicana como o protestante de várias denominações, além de grupos cristãos independentes convivendo e obedecendo ao "Ide" de Jesus. No começo, o grupo mais abrangente era o metodismo de Wesley e Whitefield.

A igreja anglicana, segundo seus historiadores, desde o seu início não se opunha ao papado enquanto doutrina, mas sim ao poder do Papa nos seus domínios. Daí o famoso Ato de Supremacia em 1534, no qual o Parlamento inglês declarou Henrique VIII “Senhor da Igreja da Inglaterra”, substituindo o poder papal. Posteriormente, esse Ato de Supremacia foi substituído por outro no reinado de Elisabete I, a principal responsável pela consolidação da Reforma Protestante na Inglaterra. Os Trinta e Nove Artigos estabelecidos por ela em 1563 definiram a doutrina anglicana, que assumiu uma visão própria frente às doutrinas calvinista, luterana e católica. Surgiram então os conceitos de  High Church (Igreja Alta) e a Low Church (Igreja Baixa). A Igreja Alta, que surgiu para atender os interesses da realeza e da nobreza, era caracterizada por se opor aos princípios essencialmente reformados, apreciando o legado tradicional católico da pré-reforma. A Igreja Baixa era essencialmente protestante, uma igreja reformada, herdeira das heranças puritanas e calvinistas; ela subvalorizava o episcopado, o sacerdócio, os sacramentos, bem como defendia o primado das Escrituras e da salvação unicamente pela fé, centralizando toda a sua espiritualidade em torno da Bíblia e a Sola Scriptura, em contraste com o reconhecimento que o Anglicanismo fazia da tradição e dos primeiros Concílios e escritos dos Pais da Igreja. Esse segmento atendia mais os anseios das classes média e popular. Ambas as alas seguiam a mesma crença em torno do Livro de Oração Comum, dos 39 Artigos da Religião e das Homílias Anglicanas. Na verdade, o Anglicanismo sempre nutriu, desde as suas origens, uma grande tensão interna.

Tendo sido anglicano durante toda a sua vida, John Wesley criou um sistema próprio de visão da atuação eclesiástica, a hoje conhecida como linha wesleyana. Para Wesley, a chave da reforma social era a conversão do indivíduo, que deve resultar em boas obras na sua atuação. Maldwyn Edwards afirmou sobre Wesley: “Ele achava que o indivíduo era responsável pelo bem estar social, e não o Estado. Era o dever e privilégio do rico ajudar o pobre, do entendido esclarecer o ignorante, do santo buscar o pecador. Ele colocava a sua inteira confiança no esforço pessoal e individual.” Os metodistas voltavam-se contra o jogo, a bebida alcoólica, o contrabando, o teatro e os lugares de divertimento popular, achando que, por causa dessas coisas, a Inglaterra se aproximava rapidamente da lascívia universal. Wesley sempre sugeria que o metodista ocioso ocupasse o seu tempo visitando os enfermos, lendo filosofia ou história da Igreja, ou fazendo alguma obra de caridade; assim, sobrariam poucas horas para os divertimentos mundanos. A excelência moral dos metodistas despertou o senso moral da Igreja da Inglaterra e, depois, de todo o país. Wesley não combateu os aspectos maléficos da Revolução Industrial, mas mostrou aos cristãos suas responsabilidades pessoais perante o problema. Sendo homem de visão larga, ele percebia a vantagem de dar serviço em vez de esmola para os necessitados. Muitas instituições (como orfanatos, lares para viúvas e escolas) também serviram para aliviar o sofrimento causado pela pobreza. A diligência, a economia, a generosidade para o trabalho de Deus eram por ele consideradas coisas sábias.

Impelidos pelos metodistas, os evangélicos dedicaram-se a causas sociais do povo negligenciado e oprimido. Roberto Raikes, redator e dono de jornal, influenciado pelo reavivamento wesleyano, é considerado o Pai da Escola Dominical. Conforme o historiador Green, “as escolas dominicais estabelecidas por Raikes foram o começo da educação popular”. Lord Oglethorpe voltou a sua atenção à Colônia de Geórgia, na qual ele investiu a partir de 1733 como refúgio para pobres devedores e protestantes oprimidos; na verdade, a possessão inglesa na América tornou-se uma colônia penal para aliviar as prisões inglesas da superlotação. William Wilberforce (1759-1833) era líder da Comunidade Clapham, sendo um homem de posses, de educação liberal e talentos incomuns, com sua eloquência natural. Com seus companheiros da Clapham, discutiam-se injustiças e erros do país, bem como se buscavam soluções para os mesmos. Era uma fraternidade admirável e, segundo um dos biógrafos de Willbeforce, "nunca houve nada igual até então na vida pública britânica". Várias sociedades surgiram a partir de Clapham, enfrentando desafios como missões, impressão da Bíblia, bem como a situação da pobreza e das prisões. Para chegar a bom resultado, além do discurso parlamentar, eles se valeram da criação da opinião pública e a pressão desta junto ao governo. Literatura, palestras, campanhas e toda a publicidade foram usadas para se chegar ao objetivo final do problema maior: acabar com o tráfico escravo, conseguido em 1807, até que a liberdade total dos escravos viesse em 1838, quatro dias antes da morte de Wilberforce. 

Grande foi a influência de Wesley e do metodismo na Inglaterra na Era da Modernidade.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...