segunda-feira, 13 de julho de 2020

11. CATOLICISMO ROMANO X CATOLICISMO ORIENTAL


Em 1054, o Papa Leão IX, líder da Igreja Católica Romana, e o Patriarca do Oriente se excomungaram mutuamente, após um longo e complicado processo, originando o primeiro cisma oficial do Cristianismo. O Catolicismo Ortodoxo, menos conhecido e estudado que o Ocidental, é mais do que um “catolicismo sem papa”.

O sistema ortodoxo comporta hoje 15 igrejas distintas, a maioria na Europa Oriental, com uma fé e uma história comuns. A característica mais marcante é a presença do ícone no lugar da imagem tridimensional católica, pois o oriental entende que o homem foi criado à imagem de Deus e carrega um ícone de Deus dentro de si. Por isso, ao chegar ao templo, o adorador vai primeiro ao iconostasis, a parede de quadros que separa o santuário da nave, onde beija o ícone do santo de sua preferência.

Constantinopla foi fundada por Constantino como a "Nova Roma, Cidade do Imperador e do Senado", tendo sido levada para lá a capital do Império Romano. Teodósio, um dos sucessores de Constantino no final do século IV, foi o responsável pela oficialização do Cristianismo como religião do Estado do Império, bem como pela sua divisão oficial, após sua morte, criando o Império Romano Ocidental, com a capital em Roma, e o Oriental, com a capital em Constantinopla. Os dois segmentos ficaram nas mãos dos dois filhos de Teodósio. A partir de então, Oriente e Ocidente passaram a trilhar caminhos diferentes. Pouco menos de um século após, em meados do século quinto, a parte ocidental do império deixaria de existir, caindo nas mãos dos bárbaros germânicos; a parte oriental continuaria a existir por mais dez séculos, caindo Constantinopla nas mãos muçulmanas dos turcos otomanos.

No século sexto, o Imperador Justiniano deu origem ao estilo que combinava lei humana, fé cristã e filosofia helenística, a chamada arte bizantina. O exemplo arquitetônico maior foi a reconstrução da “Igreja da Sagrada Sabedoria de Constantino”, a Haja Sofia. Justiniano definiu o futuro da ortodoxia oriental, unindo império e igreja. Sua missão como Imperador foi assim por ele resumida: "Manutenção da fé cristã em sua pureza e proteção da Sagrada igreja católica e apostólica contra qualquer perturbação".

A presença e veneração do ícone na igreja acabou por provocar uma verdadeira idolatria, que com o tempo eclodiu na "Reforma Iconoclasta", com seu apogeu no século VIII, sob o domínio do Imperador Leão III. Após algum tempo, houve um equilíbrio no conflito. O cisma ocorreu em 1054, tendo por cenário Haja Sofia em Constantinopla. Após a separação oficial, com as pressões da Europa Católica Romana no Ocidente e do Islã no Oriente, um estreito corredor se abriu para o Norte, onde Boris, rei dos búlgaros, e Wladimir, Príncipe de Kiev e de toda a Rússia, abriram as portas para o catolicismo ortodoxo em toda região, tornando-se Moscou líder do mundo ortodoxo. Após a primeira Roma Romana, a segunda bizantina em Constantinopla, surgiu a terceira em Moscou, onde o Imperador atribuiu a si mesmo um título inspirado em Roma: o Czar Russo, que tem como origem o César Latino.

Sintetizando as diferenças entre o catolicismo ocidental e oriental, no primeiro a autoridade máxima é do papa no último não há uma autoridade máxima na igreja, sendo sua hierarquia mais alta um colegiado de bispos presidido pelo Patriarca de Constantinopla. O celibato é obrigatório para todos os sacerdotes católicos romanos, enquanto no oriental tal exigência é apenas para os bispos e liderança maior. O calendário gregoriano é o adotado por Roma e aqueles que a seguem, já que foi estabelecido pelo Papa romano Gregório no século XVI; a Igreja Oriental usa o calendário juliano, do Império Romano, que possui uma diferença de 13 dias em relação ao gregoriano. A cruz tradicional com apenas uma barra horizontal é romana e a ortodoxa possui 3 barras, uma menor para a inscrição (em latim INRI), outra maior para os braços e uma terceira, mais abaixo, para os pés. Ainda no Império Romano, o latim era usado no Ocidente e o grego no Oriente; na Igreja Romana, anteriormente era utilizado o latim na missa, hoje se emprega a língua local; os ortodoxos utilizam o idioma local. Com relação aos dogmas, a Igreja Ocidental introduziu a crença no purgatório, enquanto os orientais não a aceitaram, assim como outros dogmas romanos, como os ligados a Maria, por exemplo (virgindade eterna, imaculada concepção, ascensão aos céus, por exemplo).

O número de católicos no mundo em 2016 era calculado em 1 bilhão e oitocentos milhões, cerca de 18% da população mundial, dos quais cerca de 250 milhões são ortodoxos, principalmente localizados na Europa Oriental.  

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...