segunda-feira, 13 de julho de 2020

3. ACUSAÇÕES E PERSEGUIÇÃO


Apesar de o povo romano julgar os cristãos como “um nobre exército de mártires” e de Roma ser tolerante com a religião dos povos conquistados, os três primeiros séculos da existência da Igreja foram nesta série denominados de “Era da Igreja Perseguida”, já que esse foi o fato marcante naquele início de ministério eclesiástico cristão no mundo. Houve pelo menos três motivos de acusações indevidas aos cristãos nos primeiros séculos: canibalismo, ligado à Ceia do Senhor, pelo início da ideia da transubstanciação; incesto, por chamarem suas reuniões de festa do amor (ágape) e tratarem-se como irmãos; ateísmo, por não terem imagens de seu Deus em suas reuniões.

As primeiras perseguições à Igreja vieram dos próprios judeus, como aquela que acabou causando as mortes de Estêvão e de Tiago, filho de Zebedeu, os primeiros mártires do Cristianismo. Paulo mesmo foi muitas vezes perseguido pelos judeus. As perseguições do Império Romano com relação à Igreja começaram com Nero, no ano de 64, com o incêndio de Roma. Os imperadores Cláudio, Domiciano, Trajano, Adriano, Marco Aurélio e outros foram perseguidores mais ou menos implacáveis dos cristãos, até meados do século III.

Para os povos conquistados, libertos por vezes de tiranos selvagens e sanguinários, a "pax romana" era uma segurança contra assaltos nas estradas, por exemplo, e isso gerou profunda gratidão ao espírito de Roma. O culto ao imperador nasce, portanto, primeiramente do culto à cidade de Roma, ao espírito de Roma, à estrutura do Império Romano, começando a deusa Roma a ser venerada em vários templos; a divindade era então vista como corporificada no imperador. Em meados do século terceiro, o Imperador Décio transformou em lei o que já acontecia antes, tornando oficial e obrigatório o culto a César, que passou a ser considerado como um teste de lealdade política para aferir a boa cidadania. Orar pelo imperador o cristão deveria fazer, mas nunca aceitaria orar para o imperador, como idolatria. O "culto ao imperador romano" foi a pedra angular da política imperial para manter a unidade do Império e talvez a maior causa de perseguição da igreja, já que a crença dos cristãos era sempre "Jesus é o Senhor".

Com Décio, Valeriano e Diocleciano, intensificou-se a perseguição, gerando um maior número de mártires e apóstatas no Cristianismo, até o surgimento de Constantino. Os três imperadores participavam da mesma preocupação fundamental com a unidade político-religiosa do Império. Havia duas finalidades na perseguição final: de um lado, destruir ou erradicar os aspectos institucionais e comunais da Cristandade.; de outro lado, forçar os cristãos, enquanto indivíduos ou como liderança, a participarem das formas tradicionais do culto romano pagão. A não participação no mesmo culto era entendida como não fazer parte da comunidade do Império como cidadão, encarado com crime de lesa-majestade.

Até o ano de 250 não existiu uma lei geral de perseguição, tendo sido a mesma ocasional e espalhada em diferentes regiões do Império. Nos últimos cinquenta anos, ela se intensificou, apoiando-se na legislação especial criada para isso, e grande foi o prejuízo das igrejas e comunidades cristãs, tanto na vida de mártires, quanto nas prisões e perdas de propriedades e literatura, confiscadas em nome do governo imperial. Constantino surgiu, no início do século IV, como um grande divisor de águas na história, criando editos de tolerância e de liberdade de culto para que o Cristianismo pudesse finalmente respirar mais aliviado na sua existência.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...