Apesar de o povo romano julgar os cristãos como
“um nobre exército de mártires” e de Roma ser tolerante com a religião
dos povos conquistados, os três primeiros séculos da existência da Igreja foram
nesta série denominados de “Era da Igreja Perseguida”, já que esse foi o fato
marcante naquele início de ministério eclesiástico cristão no mundo. Houve pelo
menos três motivos de acusações indevidas aos cristãos nos primeiros séculos: canibalismo,
ligado à Ceia do Senhor, pelo início da ideia da transubstanciação; incesto,
por chamarem suas reuniões de festa do amor (ágape) e tratarem-se como irmãos; ateísmo,
por não terem imagens de seu Deus em suas reuniões.
As primeiras perseguições à
Igreja vieram dos próprios judeus, como aquela que acabou causando as mortes de
Estêvão e de Tiago, filho de Zebedeu, os primeiros mártires do Cristianismo.
Paulo mesmo foi muitas vezes perseguido pelos judeus. As perseguições do
Império Romano com relação à Igreja começaram com Nero, no ano de 64, com o
incêndio de Roma. Os imperadores Cláudio, Domiciano, Trajano, Adriano, Marco
Aurélio e outros foram perseguidores mais ou menos implacáveis dos cristãos,
até meados do século III.
Para os povos conquistados,
libertos por vezes de tiranos selvagens e sanguinários, a "pax
romana" era uma segurança contra assaltos nas estradas, por exemplo, e
isso gerou profunda gratidão ao espírito de Roma. O culto ao imperador
nasce, portanto, primeiramente do culto à cidade de Roma, ao espírito de Roma,
à estrutura do Império Romano, começando a deusa Roma a ser venerada em vários
templos; a divindade era então vista como corporificada no imperador. Em meados
do século terceiro, o Imperador Décio transformou em lei o que já acontecia
antes, tornando oficial e obrigatório o culto a César, que passou a ser
considerado como um teste de lealdade política para aferir a boa cidadania. Orar
pelo imperador o cristão deveria fazer, mas nunca aceitaria orar para
o imperador, como idolatria. O "culto ao imperador romano" foi a
pedra angular da política imperial para manter a unidade do Império e
talvez a maior causa de perseguição da igreja, já que a crença dos cristãos era
sempre "Jesus é o Senhor".
Com Décio, Valeriano e Diocleciano,
intensificou-se a perseguição, gerando um maior número de mártires e apóstatas
no Cristianismo, até o surgimento de Constantino. Os
três imperadores participavam da mesma preocupação fundamental com a unidade político-religiosa
do Império. Havia duas finalidades na perseguição final: de um lado, destruir
ou erradicar os aspectos institucionais e comunais da Cristandade.; de outro
lado, forçar os cristãos, enquanto indivíduos ou como liderança, a participarem
das formas tradicionais do culto romano pagão. A não participação no mesmo
culto era entendida como não fazer parte da comunidade do Império como cidadão,
encarado com crime de lesa-majestade.
Até o ano de 250 não existiu uma lei geral de perseguição, tendo sido a mesma ocasional e espalhada em diferentes regiões do Império. Nos últimos cinquenta anos, ela se intensificou, apoiando-se na legislação especial criada para isso, e grande foi o prejuízo das igrejas e comunidades cristãs, tanto na vida de mártires, quanto nas prisões e perdas de propriedades e literatura, confiscadas em nome do governo imperial. Constantino surgiu, no início do século IV, como um grande divisor de águas na história, criando editos de tolerância e de liberdade de culto para que o Cristianismo pudesse finalmente respirar mais aliviado na sua existência.