segunda-feira, 13 de julho de 2020

15. A CRUZ E O CRESCENTE

O século XII é a época da construção de grandes catedrais e do início das universidades. A versão arquitetônica das catedrais alia a razão humana (que busca os céus com seus arcos, pilares e camarários, buscando se elevar até o divino) com a luz de Deus (que desce para encontrar o homem, penetrando nas catedrais através das janelas coloridas de vidro chumbado). Escolas que existiam nas catedrais deram origem às universidades, revelando fome de conhecimento da vontade de Deus.

O século começa com grandes nomes de intelectuais, como Gerbert (posteriormente Papa Silvestre II), Pedro Abelardo, Bernardo de Clairvaux, até que, menos de um século depois, surgem as Universidades: de Paris, Orleans e Montpellier na França; Oxford e Cambridge na Inglaterra; Pádua e Bolonha na Itália. Eram inicialmente universidades sem "campus", que mudavam de endereço constantemente, usando como método didático o debate, perguntas e respostas, sugeridas pelo "Sic et Non", obra de Abelardo.

O escolasticismo buscava conciliar as doutrinas cristãs com a razão humana e organizar os ensinamentos da igreja. Viver "religiosamente de maneira estudiosa" foi a marca da educação medieval. Começando com os mosteiros beneditinos, passando por Carlos Magno, chegamos aos mestres escolares, no início de revolução intelectual que passa por Pedro Abelardo e chega a Tomás de Aquino; este pensador organizou os ensinamentos tradicionais da igreja numa grande estrutura, quase cósmica, objetivando com seu sistema uma perfeita harmonia entre as aspirações do homem e a luz da verdade de Deus.

Desenvolvendo-se nesse contexto intelectual medieval, o escolasticismo chegou a conclusões lógicas por meio de questionamento, exame e organização de detalhes dentro de um sistema lógico. O direito canônico estava para igreja, assim como o direito civil para o governo secular. O direito canônico estabeleceu os direitos, deveres e poderes de todas as autoridades da Igreja. Bolonha, na Itália, foi o centro de estudo do direito, tanto o civil romano quanto o canônico; foi o local onde trabalhou Graciano, autor de "A Concordância dos Cânones Discordantes", em 1140. Usando o direito canônico, Inocêncio III (o "Vigário de Cristo"), na sua consagração, baseou-se em Jeremias 1.10, que afirma: “Eu hoje dou a você autoridade sobre nações e reinos, para arrancar, despedaçar, arruinar e destruir; para edificar e plantar”. Com isso, tornou-se o papa de maior poder e influência de toda a Idade Média.

Difundidos no meio intelectual ocidental da época pelos árabes, Aristóteles (filósofo grego da antiguidade), Averróes (filósofo muçulmano) e Maimônides (filósofo judeu) espalhavam ceticismo na Universidade de Paris no século XIII; Tomás de Aquino (1224-1274) foi enviado da Itália para Paris. Ele era um monge dominicano “de mente brilhante, atividade incansável e disposição afável”, segundo Shelley. Aquino considerava a razão como o maior dos atributos humanos, demonstrando erudição e fidelidade à igreja. Assim sendo, ele examinou os escritos dos filósofos e reputou pontos, reconciliou outros com o Cristianismo, e  de seus estudos resultou sua maior obra, a "Suma Teológica", um resumo do conhecimento sobre Deus e sua Igreja. Nela ele faz distinção entre filosofia e teologia, entre razão e revelação.  Afirma não haver contradição entre elas, já que ambas são fontes de conhecimento e vêm do mesmo Deus. Segundo Aquino, a diferença entre elas está no método de busca da verdade. A razão pode provar a existência de Deus, o criador; a revelação nos leva ao conhecimento de Deus. Cristo obteve a graça da salvação, a igreja a comunica. A graça salvadora chega o homem pelo canal dos sacramentos divinos, sendo o Sacramento dos sacramentos a Ceia do Senhor com a transubstanciação. O pecado leva à contrição (dor pelo pecado), que leva a confissão ao sacerdote (médico espiritual), que aplica o remédio adequado e a absolvição. Finalmente vem a satisfação no ato de penitência. Aquino aceitava a indulgência e o "tesouro de méritos".

É possível conciliar razão e fé? O escolasticismo tentou discutir esse tema e encontrar explicações racionais para a fé que professavam os cristãos medievais, buscando harmonizá-la com a razão.


ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...