Shelley afirma: "A visão de Inocêncio
III do Cristo soberano que governava, por meio de seu Vigário todas as nações,
todo o conhecimento e toda graça nesta vida e na futura, encontrou um
formidável rival na imagem do Salvador, que disse que as raposas têm tocas, os
pássaros do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde deitar sua
cabeça. Onde, afinal, está o verdadeiro Cristianismo? Em uma instituição
sacramental ou num estilo de vida de abnegação?" O evangelho da
pobreza voluntária ganhou força por causa do ressentimento contra o sacerdócio
corrupto e negligente. Houve na Idade Média apelos para a reforma monástica:
Arnaldo de Bréscia, no norte da Itália, e Pedro Valdo, rico comerciante de
Lyon, na França, queriam purificar a igreja pelo retorno à vida simples dos
apóstolos.
Stephen Neill divide a história missionária da Idade Média, com o protagonismo
dos mosteiros, em dois períodos de 500 anos. No primeiro período, os monges
agiram atraindo os bárbaros para o cristianismo; no segundo período, Patrício
na Irlanda, Bonifácio na Alemanha, Cirilo e Metódio nas regiões eslavas tornaram
verdadeiras as palavras "cruce, libro et atro" (cruz, livro e arado),
resumo da atividade evangelística dos monges em seus mosteiros; as novas ordens
mendicantes transformaram europeus cristãos nominais em genuínos seguidores de
Cristo. A preservação dos textos seculares e cristãos foi tarefa dos mosteiros,
como o Vivarium, um tipo de organização amplamente imitado. Além disso, a ordem
franciscana liderou a tarefa de oferecimento de abrigo aos viajantes e de
assistência aos enfermos.
As maiores ordens monásticas a partir dos
Beneditinos de Bento de Núrcia e das Ordens de Cavaleiros foram:
·
A
dos Cluniacenses, em Cluny, na França, resultado de uma reforma da Ordem
Beneditina;
·
a
dos Cistercienses, em Citeaux, na França, também seguindo a mesma ordem;
·
a
dos Agostinianos, Ordem surgida como mendicante, seguindo as regras de
Agostinho;
·
a
dos Dominicanos, de Domingos Gusmão na Espanha, seguindo a mesma orientação
agostiniana, que acabou conduzindo a inquisição;
·
a
dos Franciscanos, de Francisco de Assis, na Itália, com regra original extraída
das Escrituras, fazendo votos de pobreza absoluta;
·
e
a Sociedade de Jesus, os Jesuítas, já na era da Reforma, formada por Inácio de
Loyola, em Roma, na Itália.
Além das citadas, outras ordens existiram, de
menor importância histórica.
Concluindo o assunto, a vida celibatária e ascética não é intrinsecamente mais piedosa do que a vida conjugal e social para o cristão. No entanto, por dez séculos, os monges, quase sozinhos, sustentaram o que havia de mais nobre e mais cristão na Igreja, embora de forma por vezes imperfeita. Bento de Núrcia, e mais que ele sua Regra, demonstra por sua biografia que o homem de Deus não poderia ter ensinado qualquer coisa sem antes a ter vivido.