Como todo movimento histórico, a Revolução
Industrial trouxe benefícios e problemas para o convívio social. Uma das
consequências foi o esvaziamento da população rural e o aumento da concentração
urbana. O crescimento repentino das cidades e a multiplicação das máquinas
trouxeram para o cristianismo um novo e complexo desafio: que comunhão há entre
a luz e as sombras, entre a sede de um
sindicato e um santuário de igreja? A França passou
por uma revolução política, a Alemanha por
uma revolução intelectual, a Inglaterra deu origem
a uma revolução industrial.
Muitos aperfeiçoamentos surgiram com as
máquinas, mas o mais importante foi a utilização do vapor, através de James
Watt. Atividades diferentes, como a produção de tecidos, as locomotivas e os
navios, adotaram a energia a vapor. Pessoas deixaram suas cabanas, teares e
campos para trabalharem na indústria. O tempo de Deus (kayrós),
que dava ritmo à vida no campo, foi substituído pelo tempo do homem (kronos)
no trabalho industrial. A riqueza do homem aumentou, mas muitos males foram
trazidos para o trabalhador nas cidades europeias e americanas. Falta de
condições mínimas de higiene e segurança causaram mutilações e mesmo mortes nos
primeiros tempos das indústrias. Mulheres e crianças trabalhavam lado a lado
com os homens, crianças de tenra idade e mesmo gestantes eram submetidas a
regimes diários de 12 a 15 horas de trabalho. Moradias inadequadas em ruas
estreitas e cheias de lixo eram ocupadas pelos trabalhadores, sem sistema de
esgoto adequado.
A legislação foi lenta em adequar-se a
essa nova realidade e os benefícios legais inicialmente eram só dos
proprietários industriais, e não dos trabalhadores. O socialismo foi o primeiro
ataque à filosofia capitalista. O problema maior da sociedade industrial na visão
socialista concentrava-se na propriedade. A igreja, alijada do poder medieval
pela modernidade, não tinha voz para se expressar. Karl Marx foi o profeta do
socialismo, pregando a luta de classes e repudiando o cristianismo e a
moralidade. O "Manifesto Comunista" de 1848 trouxe o fantasma do
comunismo, do socialismo científico sobre a Europa e posteriormente sobre o
mundo. O cristianismo ficou dividido entre patrões de um lado, empregados de
outro e tendo que conviver ainda com a intermediação do sindicato.
William Booth, um pietista evangélico,
iniciou um ministério dedicado aos pobres de Londres, tendo criado o Exército
da Salvação. O ministério conviveu inicialmente com uma situação de milhares de
mortos, muitos suicídios, prostituição, alcoolismo e indigência, num ambiente
de muita pobreza causado pela Revolução Industrial. As novas massas urbanas
haviam crescido sem o cuidado da igreja anglicana. Criou-se o chamado socialismo
cristão. A Inglaterra aos poucos foi criando suas leis para proteção dos
trabalhadores, embora muito distantes do ideal. Nos Estados Unidos, o evangelho
social passou a ser buscado e debatido, tendo em Walter Rauschenbusch seu
profeta maior. O perigo da questão social era a perda da verdadeira missão da
igreja, que era vista basicamente como individual a partir de Reforma, mas os
confrontos surgidos no século XIX mostraram que a igreja não podia ficar alheia
aos problemas da sociedade.
Hoje, muitos temas ainda são debatidos e esperam por soluções mais satisfatórias. O socialismo teve sua oportunidade de atuação no mundo, gerando o regime comunista de governo, que não provou ser solução para o problema das desigualdades sociais; pelo contrário, só o agravou, criando ditaduras severas em diversas partes do globo, sendo definido pelo povo russo, após a queda da URSS, como um longo caminho que não leva a lugar nenhum. No entanto, ainda na nossa época, no final da segunda década do século XXI, ainda se convive com a utopia socialista, dividindo o mundo ocidental em conservadores e socialistas.