quinta-feira, 9 de julho de 2020

41. CRISTIANISMO E SOCIALISMO

Como todo movimento histórico, a Revolução Industrial trouxe benefícios e problemas para o convívio social. Uma das consequências foi o esvaziamento da população rural e o aumento da concentração urbana. O crescimento repentino das cidades e a multiplicação das máquinas trouxeram para o cristianismo um novo e complexo desafio: que comunhão há entre a luz e as sombras, entre a sede de um sindicato e um santuário de igreja? A França passou por uma revolução política, a Alemanha por uma revolução intelectual, a Inglaterra deu origem a uma revolução industrial

Muitos aperfeiçoamentos surgiram com as máquinas, mas o mais importante foi a utilização do vapor, através de James Watt. Atividades diferentes, como a produção de tecidos, as locomotivas e os navios, adotaram a energia a vapor. Pessoas deixaram suas cabanas, teares e campos para trabalharem na indústria. O tempo de Deus (kayrós), que dava ritmo à vida no campo, foi substituído pelo tempo do homem (kronos) no trabalho industrial. A riqueza do homem aumentou, mas muitos males foram trazidos para o trabalhador nas cidades europeias e americanas. Falta de condições mínimas de higiene e segurança causaram mutilações e mesmo mortes nos primeiros tempos das indústrias. Mulheres e crianças trabalhavam lado a lado com os homens, crianças de tenra idade e mesmo gestantes eram submetidas a regimes diários de 12 a 15 horas de trabalho. Moradias inadequadas em ruas estreitas e cheias de lixo eram ocupadas pelos trabalhadores, sem sistema de esgoto adequado.

A legislação foi lenta em adequar-se a essa nova realidade e os benefícios legais inicialmente eram só dos proprietários industriais, e não dos trabalhadores. O socialismo foi o primeiro ataque à filosofia capitalista. O problema maior da sociedade industrial na visão socialista concentrava-se na propriedade. A igreja, alijada do poder medieval pela modernidade, não tinha voz para se expressar. Karl Marx foi o profeta do socialismo, pregando a luta de classes e repudiando o cristianismo e a moralidade. O "Manifesto Comunista" de 1848 trouxe o fantasma do comunismo, do socialismo científico sobre a Europa e posteriormente sobre o mundo. O cristianismo ficou dividido entre patrões de um lado, empregados de outro e tendo que conviver ainda com a intermediação do sindicato.

William Booth, um pietista evangélico, iniciou um ministério dedicado aos pobres de Londres, tendo criado o Exército da Salvação. O ministério conviveu inicialmente com uma situação de milhares de mortos, muitos suicídios, prostituição, alcoolismo e indigência, num ambiente de muita pobreza causado pela Revolução Industrial. As novas massas urbanas haviam crescido sem o cuidado da igreja anglicana. Criou-se o chamado socialismo cristão. A Inglaterra aos poucos foi criando suas leis para proteção dos trabalhadores, embora muito distantes do ideal. Nos Estados Unidos, o evangelho social passou a ser buscado e debatido, tendo em Walter Rauschenbusch seu profeta maior. O perigo da questão social era a perda da verdadeira missão da igreja, que era vista basicamente como individual a partir de Reforma, mas os confrontos surgidos no século XIX mostraram que a igreja não podia ficar alheia aos problemas da sociedade.

Hoje, muitos temas ainda são debatidos e esperam por soluções mais satisfatórias. O socialismo teve sua oportunidade de atuação no mundo, gerando o regime comunista de governo, que não provou ser solução para o problema das desigualdades sociais; pelo contrário, só o agravou, criando ditaduras severas em diversas partes do globo, sendo definido pelo povo russo, após a queda da URSS, como um longo caminho que não leva a lugar nenhum. No entanto, ainda na nossa época, no final da segunda década do século XXI, ainda se convive com a utopia socialista, dividindo o mundo ocidental em conservadores e socialistas.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...