segunda-feira, 13 de julho de 2020

14. ASCENSÃO E QUEDA DO PAPADO

Historicamente, é difícil definir-se quando começou a supremacia do Bispo de Roma sobre as demais autoridades católicas, dando origem à hierarquia chamada “papado”. A Igreja Católica Romana tem uma lista ininterrupta partindo de Pedro até o atual Francisco. Shelley aponta como primeiro papa Leão I, aquele que, fora dos portões de Roma, negociou com Átila, o Huno, evitando a destruição da cidade na invasão bárbara, numa época em que o governo imperial já mostrava sinais de fraqueza. Durante toda a história do papado, houve nomes mais e menos importantes; vamos nos fixar nos destaques de maior importância histórica.

No final do século sexto, Gregório, o grande, assumiu o papado numa época de grandes problemas. A Europa tinha sido devastada pela peste e ressurgia como uma fênix das ruínas de um império devastado, com o Cristianismo dando vida e ordem ao caos. Gregório não foi um teólogo profundo, mas reforçou muita das heterodoxias católicas já existentes: a penitência, a intermediação dos santos, as relíquias sagradas, o purgatório, a missa pelos que haviam morrido passaram a ter uma aceitação maior na igreja a partir do seu papado. Apesar de um início relutante, com uma vida piedosa e como nenhum outro papa anterior, ele governou a igreja e o mundo como o último estadista romano; ele tinha grande habilidade executiva, aliada à solidariedade pelas necessidades humanas. Roma estava em uma transição: tinha sido a cidade dos césares e se tornaria a cidade dos papas. Entre outros atos, Gregório enviou Agostinho para evangelizar a Inglaterra.

Apesar de exercerem grande poder e influência em todos os setores e atividades, os papas ainda eram submissos ao imperador, que era considerado o verdadeiro chefe da igreja. Esta situação persistiu até a eleição de um outro Gregório, o sétimo na hierarquia. Antes da coroação desse papa, os poderes espiritual e temporal (Igreja e Estado) estiveram indissoluvelmente unidos, com o segundo dominando o primeiro. Hildebrando foi eleito papa em 1.073, com o título de Gregório VII, numa época de situação confusa na Igreja: Papas controvertidos e com pontificados de curta duração o antecederam. Gregório VII implantou um programa de reformas que mudou radicalmente a relação existente entre a Igreja e a aristocracia até então praticada. O legado de Gregório VII para a Igreja seria uma época de ascendência do papado, que perduraria por toda a Idade Média. No princípio os imperadores romanos dominavam a Igreja e, as questões religiosas. Com o passar dos tempos houve um equilíbrio de poder, quando o predomínio era ocasional, dependendo da influência pessoal e da capacidade de cada papa ou imperador. Depois do papa Gregório VII, entretanto, a balança do poder pendeu para Roma, que dominou absoluta sobre os reis da terra. A partir dele, o título de Sumo Pontífice, antes exclusivo dos imperadores, passou a ser ostentado pelo bispo de Roma, situação mantida até hoje. Gregório VII, inaugurou uma era de poder sem precedentes ao papado, confrontando o espiritual e colocando-o acima do temporal. Duas armas estavam na mão do Papa para manter os príncipes e camponeses sob sua liderança na Idade Média: a excomunhão, que expulsava da igreja os infiéis deixando-os, segundo criam, sem salvação; o interdito, que suspendia as venerações públicas e retirava o sacramento de algumas regiões, mantendo apenas o batismo e a extrema-unção. Gregório tinha como ideal a criação de uma nação cristã sob o controle papal, onde o poder espiritual era supremo em relação ao poder temporal dos reis. O episódio marcante que ilustra tudo isso foi o do Imperador Henrique IV, excomungado por Gregório, humilhado diante dele, pedindo clemência e descalço na neve. "O sucessor de Pedro é o Vigário de Cristo: ele foi escolhido como um mediador entre Deus e o homem, abaixo Deus, mas além do homem; menos que Deus, mas mais que o homem; quem deverá julgar a todos e ser julgado apenas por um". Assim via Gregório seu relacionamento com os demais seres humanos, incluídos aí os imperadores. Com a implantação do Sacro Império Romano-Germânico, no século VIII, lentamente, os papas foram assumindo o poder, até que Inocêncio III ensinou à Europa a pensar nos papas como governantes universais.

O Grande Cisma do Papado, ou Cativeiro Babilônico, corresponde a um período de 72 anos, de 1378 a 1417, no qual Roma na Itália e Avignon na França dividiram o Catolicismo Romano em duas sedes diferentes, com dois papas e, em determinada situação, até mesmo três. Isso enfraqueceu ainda mais a estrutura da igreja.

Afirma o historiador Earl Cairns: “Cria-se que Cristo e os santos tinham alcançado tanto mérito durante suas vidas terrenas que o excedente estava guardado no tesouro celestial do mérito, de onde o papa poderia sacar no interesse dos fieis vivos. Isso foi formulado primeiramente por Alexandre de Hale no século XIII. Clemente VI declarou-o dogma em 1434”. A crença no tesouro celestial do mérito, bem como numa de suas chaves, a indulgência, foram práticas católicas que se intensificaram com a construção da Basílica de São Pedro, em Roma, nos séculos XV e XVI, que acabaram por provocar a Reforma Protestante, num período de extrema vulnerabilidade do Papado de Roma. 

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...