segunda-feira, 13 de julho de 2020

5. PATRÍSTICA E BISPADO


A Vulgata Latina, versão bíblica de Jerônimo, é bastante conhecida. Seu autor amava o Senhor Jesus, mas também conhecia e amava autores clássicos, como Cícero, Virgílio e Horácio. A voz dos apóstolos mal tinha silenciado quando a igreja enfrentou a necessidade de definir a fé de maneira a ser entendida por pessoas inteligentes. Deus fez os homens para pensar, de modo que às vezes a verdade avança enquanto os cristãos defendem o evangelho contra argumentos pagãos.

Tendo surgido numa ocasião em que esses conceitos imperavam, o Cristianismo foi forçado, pela necessidade dos homens e pela missão na igreja, para dentro do mundo do pensamento pagão. No século terceiro, o Cristianismo não era mais uma seita judaica menor, e homens de cultura e poder questionavam: "Qual o papel do Cristianismo nas questões dos homens e dos impérios?" No plano de Deus, a igreja vive em dois ritmos diferentes: separação e envolvimento; separação, porque o evangelho e a vida eterna não vêm dos homens, mas de Deus; envolvimento, porque Deus manda a sua igreja para o mundo para brilhar com luz e guiar os homens à verdade. Isso gera necessidade de se definir os limites entre uma ação e outra. Alguns cristãos resistiram aos esforços de estudiosos ortodoxos para conciliar a fé cristã com a filosofia grega. No século terceiro, Tertuliano perguntou: “O que Atenas e Jerusalém têm em comum?” Os cristãos conseguiriam resistir à filosofia grega ou poderiam recrutá-la como um aliado? Finalmente, Roma e o Império tornaram-se cristãos. O caminho da conciliação foi construído por aqueles professores cristãos que demonstraram que fé e filosofia podiam viver em harmonia quando ambos se curvam perante Cristo.

Desde o início, a teologia objetivava a refutação da heresia. Origines foi o primeiro teólogo a apresentar toda a estrutura intelectual da fé cristã. Orígenes e seu antecessor Clemente preservaram o humanismo do Cristianismo, tornando possível a carreira de outros grandes líderes cristãos que se seguiriam, demonstrando que o melhor da cultura clássica poderia ter lugar e futuro dentro da igreja. Participaram ativamente de um período da história chamado Patrística, o período dos Pais da Igreja.

Durante o Século dos Apóstolos, o Espírito circulava livremente pelas igrejas, fortalecendo os crentes, inspirando os profetas e exorcizando demônios. Surgiram dúvidas: se um cristão pecar gravemente depois receber o Espírito e de se submeter ao batismo, como deverá ter tratado? Montano levantou acusações contra a Igreja por criar heresias e foi violentamente contestado. A igreja pregava às nações, confrontando os hereges e articulando ortodoxia; numa época de pouco acesso a literaturas confiáveis e ainda antes que se completasse a canonização do Novo Testamento, aos poucos desenvolveu-se o poder do episcopado, e o prestígio dos bispos cresceu lentamente. No século I, havia dois tipos de líderes locais: um chamado de anciãos (presbíteros, bispos ou pastores), e outro chamado de diáconos. Já no início do século segundo, Inácio de Antioquia refere-se em suas cartas a um único bispo ou pastor em cada local, um corpo de presbíteros e um outro de diáconos. Aos poucos, esse pastor, assistido pelos anciãos e diáconos, tornou-se o modelo das igrejas. Até o final do século segundo, o modelo do tríplice ministério de Inácio difundiu-se bastante. Em alguns lugares, o bispo de uma cidade grande supervisionava as congregações dos arredores ao nomear presbíteros. No final do século segundo, o líder inconteste quanto aos assuntos da igreja era o bispo, posição fortalecida pelo conflito com as heresias, principalmente o gnosticismo. O historiador Hegésipo foi o primeiro a criar uma lista de bispos desde a época dos apóstolos: era o prenúncio do papado.

A sucessão de bispos da igreja católica desde os apóstolos garantia a continuidade da tradição e das doutrinas. Era o início do dogma católico da Sucessão Apostólica. A Reforma defendeu a restauração do Cristianismo primitivo e o retorno à Bíblia, contestando em parte a sucessão apostólica. Os católicos afirmavam que o Espírito guiava suas decisões de tal forma que o desenvolvimento da doutrina e da igreja não era fruto do trabalho dos homens através da sucessão apostólica, mas sim de Deus. Os modernistas deixam a questão em aberto, justificando mudanças que satisfaçam as necessidades posteriores, incluindo as dos nossos tempos. O surgimento do ofício episcopal criou respostas conflitantes e diferenças confessionais até o dia de hoje, dando margem ao denominacionalismo; no entanto, já no século III, sentiam alguns que o aparecimento do episcopado significou afastamento do Espírito dos dogmas da Igreja.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...