Dogma é o ponto fundamental de uma doutrina
religiosa, apresentado como certo e indiscutível; concílio é a reunião de
dignitários eclesiásticos, (como bispos, por exemplo), presidida ou sancionada
pelo papa no meio católico, para deliberar sobre questões de fé, costumes,
doutrina ou disciplina eclesiástica. A Igreja reuniu-se em concílio sempre que
algum ponto fundamental de sua doutrina foi contestado o longo dos séculos.
O Mistério da Trindade tem acompanhado a
história da Igreja desde o seu início, permanecendo até hoje como controvérsia
entre alguns grupos. Quando Constantino assumiu o Império Romano, ele encontrou
conflitos e divisões internas em várias áreas, principalmente na religiosa, na
qual os cristãos, um grupo que havia sido perseguido e que cresceu ao longo dos
séculos, se dividiam, e a controvérsia estava justamente no entendimento da
Trindade e da pessoa de Cristo. O Imperador queria dar nova vida ao Império
debilitado e por isso precisou intervir para fazer com que os cristãos
entrassem em acordo com suas próprias crenças.
Para resolver a Questão Ariana, Constantino
convocou em 325 o Concilio de Nicéia, o primeiro Concílio Geral da história da
Igreja. A polêmica havia surgido inicialmente em Alexandria, no Egito e, para
resolvê-la de forma localizada, fora realizado um sínodo. O assunto, porém,
tornou-se mais abrangente e Constantino resolveu assumir a controvérsia.
Compareceram mais de 300 bispos, muitos deles ainda com marcas no corpo por
causa da perseguição recém extinta, e o acontecimento se revestiu de muita
pompa. Após os debates, a igreja condenou as ideias de Ário como heresia e
aprovou-se a Doutrina Nicena, na forma de um credo, que dizia que Jesus era "o
Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao
pai".
Como podemos definir a Trindade? À luz da
história, podemos entender que Deus revelou-se para Israel no Antigo
Testamento; encarnou-se como o judeu chamado Jesus, que morreu e ressuscitou
pela salvação do homem; e incorporou-se à igreja como o Espírito Santo em
Pentecostes, participando da vida dos cristãos. Quem foi Jesus de Nazaré: um
profeta, um rabino, um revolucionário social ou um sonhador errante? Essas são
apenas algumas das opiniões geralmente dadas pelas pessoas sobre o Filho de
Deus. Duas escolas teológicas davam, no início, explicações diferentes sobre a
figura de Cristo: a Escola de Alexandria enfatizava a natureza divina e a de
Antioquia sua natureza humana; a primeira começava no céu e se movia em direção
à terra; a segunda começava na terra e procurava o céu.
O Segundo Concílio Geral da Igreja se reuniu em
Constantinopla em 381, sendo o Terceiro Concílio Geral de Éfeso realizado em
431. Vinte anos depois, reunidos em Calcedônia, houve um Quarto Concílio. Os
quatro concílios lidaram com a pessoa de Cristo: em Nicéia, ele havia sido
declarado completamente divino; em Constantinopla, ele foi entendido como totalmente
humano; em Éfeso, a conclusão foi que Cristo é uma pessoa unida; em Calcedônia,
Cristo foi entendido como humano e divino em uma só pessoa. Ário, Apolinário, Êutiques
e Nestório foram, pela ordem, considerados hereges. Suas ideias, no entanto,
continuaram vivas durante muito tempo: Nestório gerou a igreja nestoriana,
ainda hoje com milhares de adeptos no Oriente; Apolinário foi base das igrejas
monoteístas, que deram origem à igreja jacobita.
Afinal de contas, Quem foi Jesus de Nazaré?
João, no início do seu evangelho, afirma que “no princípio, era o Verbo, e o
Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”, tendo usado a palavra
"logos", pobremente traduzida como verbo ou palavra, mas com um
sentido muito mais rico e amplo no grego original. Logos não se refere à
oralidade da comunicação, mas à palavra ainda na mente, sem ser proferida - a
razão; é ainda o princípio racional que governa todas as coisas, a lógica
divina responsável pela ordem do universo. O texto de João ecoa o princípio de
Gênesis, quando Deus criou tudo por meio da sua palavra, conferindo ordem e
racionalidade ao mundo. Na crença grega, havia um logos dentro de cada pessoa,
a razão humana, e um logos que permeava o universo, a racionalidade que governa
o mundo. O logos interior do ser humano capacita-o a agir em harmonia com o
logos do universo. Jesus, na acepção de João, é esse logos, através do qual o
indivíduo pode chegar à harmonia com Deus e com sua criação.