segunda-feira, 13 de julho de 2020

7. DOGMAS E CONCÍLIOS

Dogma é o ponto fundamental de uma doutrina religiosa, apresentado como certo e indiscutível; concílio é a reunião de dignitários eclesiásticos, (como bispos, por exemplo), presidida ou sancionada pelo papa no meio católico, para deliberar sobre questões de fé, costumes, doutrina ou disciplina eclesiástica. A Igreja reuniu-se em concílio sempre que algum ponto fundamental de sua doutrina foi contestado o longo dos séculos.

O Mistério da Trindade tem acompanhado a história da Igreja desde o seu início, permanecendo até hoje como controvérsia entre alguns grupos. Quando Constantino assumiu o Império Romano, ele encontrou conflitos e divisões internas em várias áreas, principalmente na religiosa, na qual os cristãos, um grupo que havia sido perseguido e que cresceu ao longo dos séculos, se dividiam, e a controvérsia estava justamente no entendimento da Trindade e da pessoa de Cristo. O Imperador queria dar nova vida ao Império debilitado e por isso precisou intervir para fazer com que os cristãos entrassem em acordo com suas próprias crenças.

Para resolver a Questão Ariana, Constantino convocou em 325 o Concilio de Nicéia, o primeiro Concílio Geral da história da Igreja. A polêmica havia surgido inicialmente em Alexandria, no Egito e, para resolvê-la de forma localizada, fora realizado um sínodo. O assunto, porém, tornou-se mais abrangente e Constantino resolveu assumir a controvérsia. Compareceram mais de 300 bispos, muitos deles ainda com marcas no corpo por causa da perseguição recém extinta, e o acontecimento se revestiu de muita pompa. Após os debates, a igreja condenou as ideias de Ário como heresia e aprovou-se a Doutrina Nicena, na forma de um credo, que dizia que Jesus era "o Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao pai".

Como podemos definir a Trindade? À luz da história, podemos entender que Deus revelou-se para Israel no Antigo Testamento; encarnou-se como o judeu chamado Jesus, que morreu e ressuscitou pela salvação do homem; e incorporou-se à igreja como o Espírito Santo em Pentecostes, participando da vida dos cristãos. Quem foi Jesus de Nazaré: um profeta, um rabino, um revolucionário social ou um sonhador errante? Essas são apenas algumas das opiniões geralmente dadas pelas pessoas sobre o Filho de Deus. Duas escolas teológicas davam, no início, explicações diferentes sobre a figura de Cristo: a Escola de Alexandria enfatizava a natureza divina e a de Antioquia sua natureza humana; a primeira começava no céu e se movia em direção à terra;  a segunda começava na terra e procurava o céu.

O Segundo Concílio Geral da Igreja se reuniu em Constantinopla em 381, sendo o Terceiro Concílio Geral de Éfeso realizado em 431. Vinte anos depois, reunidos em Calcedônia, houve um Quarto Concílio. Os quatro concílios lidaram com a pessoa de Cristo: em Nicéia, ele havia sido declarado completamente divino; em Constantinopla, ele foi entendido como totalmente humano; em Éfeso, a conclusão foi que Cristo é uma pessoa unida; em Calcedônia, Cristo foi entendido como humano e divino em uma só pessoa. Ário, Apolinário, Êutiques e Nestório foram, pela ordem, considerados hereges. Suas ideias, no entanto, continuaram vivas durante muito tempo: Nestório gerou a igreja nestoriana, ainda hoje com milhares de adeptos no Oriente; Apolinário foi base das igrejas monoteístas, que deram origem à igreja jacobita.

Afinal de contas, Quem foi Jesus de Nazaré? João, no início do seu evangelho, afirma que “no princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”, tendo usado a palavra "logos", pobremente traduzida como verbo ou palavra, mas com um sentido muito mais rico e amplo no grego original. Logos não se refere à oralidade da comunicação, mas à palavra ainda na mente, sem ser proferida - a razão; é  ainda o princípio racional que governa todas as coisas, a lógica divina responsável pela ordem do universo. O texto de João ecoa o princípio de Gênesis, quando Deus criou tudo por meio da sua palavra, conferindo ordem e racionalidade ao mundo. Na crença grega, havia um logos dentro de cada pessoa, a razão humana, e um logos que permeava o universo, a racionalidade que governa o mundo. O logos interior do ser humano capacita-o a agir em harmonia com o logos do universo. Jesus, na acepção de João, é esse logos, através do qual o indivíduo pode chegar à harmonia com Deus e com sua criação. 

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...