Quem eram os cristãos? Durante os três
primeiros séculos, a maioria dos crentes cristãos era formada por pessoas
simples e humildes, escravos, mulheres, comerciantes e soldados. Celsius, um
dos críticos do Cristianismo, caracteriza os cristãos como "pessoas sem
valor e desprezíveis, imbecis, escravos, mulheres pobres e crianças";
acrescenta ainda: "Essas são as únicas pessoas que eles conseguem
transformar em crentes". Contra esses críticos, surgiram os apologistas,
palavra grega que significa "defesa". Embora dirigidas inicialmente
aos imperadores, as apologias eram destinadas também às pessoas cultas.
Destacam-se aí nomes como Aristides, Justino Mártir, Taciano, Atenágoras,
Teófilo de Antioquia, o desconhecido autor da "Carta a Diogneto",
Melito, Irineu de Lyon, Tertuliano de Cartago, e outros. Por volta do século
terceiro, a igreja cristã começava a assumir proporções de “império dentro de
um Império”. O movimento constante em diferentes igrejas, os sínodos dos
bispos, as cartas levadas pelos mensageiros e a lealdade dos cristãos mostrada
aos seus líderes impressionavam até mesmo aos imperadores.
A fé cristã se espalhou de uma maneira
extraordinária por três razões: a convicção inabalável que movia os
cristãos; uma profunda necessidade no coração das pessoas, a qual podia ser
suprida pelo evangelho; a expressão prática do amor cristão através do cuidado
com os pobres, viúvas e órfãos, da visitas aos irmãos nas prisões e aos
condenados das minas, bem como dos atos de compaixão durante a crise,
terremotos ou guerras. Na segunda metade do século II, pelo menos em Roma e em
Cartago, a igreja começou a adquirir cemitérios para seus membros, as catacumbas.
A Era da Igreja Perseguida mostrou extraordinária expansão, antes que o
Cristianismo se deslocasse das catacumbas para as cortes imperiais.
Nos primeiros dois séculos, não havia empenho
das autoridades romanas em perseguir e silenciar os cristãos: "poucos
imperadores romanos eram vilões sanguinários". Houve perseguições
ocasionais e localizadas do Império, como a de Policarpo, bispo de Esmirna. O
povo romano via os cristãos como "um nobre exército de mártires".
As autoridades imperiais romanas não se importavam muito quanto à religião dos
povos conquistados; considerados uma seita do judaísmo, os cristãos foram
inicialmente tolerados. Havia, porém, uma diferença fundamental entre o cristão
e o judeu quanto ao proselitismo: os judeus não tinham a intenção de converter
ninguém ao judaísmo, mas os cristãos seguiam o "Ide" de Jesus. As
causas da perseguição começam com uma frase de Tertuliano: "Temos a
reputação de vivermos isolados". O chamamento do cristão à santidade
de vida tornava-o distinto de outros povos. Santo é separado, mas
também é diferente, e as pessoas diferentes são sempre vistas com
suspeita. Os ensinamentos cristãos referentes ao corpo como templo do Espírito
Santo trouxeram ao mundo antigo uma inflexível condenação da promiscuidade e um
chamado sagrado para a vida em família. A ética de vida cristã era uma crítica
à vida pagã do povo romano, mesmo sem se opor ostensivamente a ela. A
hostilidade aos deuses greco-romanos deu aos cristãos a alcunha de "inimigos
da raça humana". A recusa a um convite para um acontecimento social,
que normalmente envolvia alguma divindade pagã, levava o povo romano a
considerar o cristão como "rude e descortês". Os cristãos,
portanto, eram obrigados, por sua fé, a se afastarem das atividades econômica e
social do Império, adotando uma nova e revolucionária atitude em relação à vida
humana. Um reflexo disso era o comportamento cristão com relação aos escravos,
às crianças e às mulheres.
Vistos como "inimigos da raça humana" pelo paganismo romano e defendidos pelos apologistas cristãos, os cristãos espalharam a mensagem de Cristo em todas as regiões do Império, mas expuseram-se às implacáveis perseguições romanas.