quinta-feira, 9 de julho de 2020

36. CATOLICISMO REAFIRMADO

Com a Revolução Francesa e o progresso científico, surgiram novas esperanças para o povo francês. A queda da Bastilha iniciou uma era na qual se acreditou que a raça humana estava melhorando e sendo mais feliz. Direito de participação política, de votar e ser votado, bem como de ter liberdade de expressão era o sentimento comum do povo francês, aos poucos espalhando-se para o europeu, no final do século XVIII. No entanto, a Revolução, de certa forma, desviou-se de seus ideais. Na França, após o movimento, um rei foi executado, uma república foi estabelecida e a confusão reinou, até que, em um golpe de estado, Napoleão assumiu o poder, como Imperador, restaurando a monarquia, enquanto a França se mantinha em guerra contínua contra o resto da Europa.

Para o Cristianismo, no entanto, surgiram novos desafios e dúvidas intelectuais, com a teoria evolucionista, por exemplo, que dividiu seriamente os cristãos, os quais, diante das necessidades das massas urbanas recém surgidas, procuraram atender os pobres e oprimidos de perto com seus recursos, sem contar mais com o apoio do Estado, enquanto levavam o evangelho aos de perto e aos de longe. A tirania aristocrática ou principesca fora substituída por uma "tirania da maioria", consequência da democracia, que era controlada por humores instáveis em vez de uma liderança racional. A fé cristã passou a conviver com um evangelho democrático, mais baseado na glorificação do homem do que na de Deus.

O catolicismo considerou, com muitos receios, os movimentos populares daquela época, e continuou fechado em sua fortaleza medieval, reforçada a partir de Trento. Com a posição católica de repúdio a todas as mudanças surgidas, os revolucionários se voltaram contra a Igreja de Roma, quando milhares de sacerdotes foram afastados ou exilados e um novo calendário rompeu com o Cristianismo e substituiu a missa pelo "culto à razão". Em Notre Dame e nas procissões, a "deusa da razão" surgiu em lugar dos símbolos católicos, além da participação de jovens representando razão, verdade ou natureza. Apesar do acordo estabelecido por Napoleão com o Papa, que concedia alguns privilégios de volta à igreja, na França a Igreja de Roma perdeu para sempre o poder. A aliança entre trono e papado foi aos poucos sendo rompida por toda a Europa.

A Igreja Católica do século XIX nunca aceitou ou se adaptou ao pensamento vigente na época, que divorciou definitivamente a política da ética cristã. Nas terras italianas, constituídas na época por sete estados independentes (além dos territórios papais), um movimento de união levou Vitor Emanuel a ser proclamado Rei da Itália, em 1861, quando suas tropas atacaram Roma e a sede do governo foi transferida para lá. A cidade de Roma, que desde os tempos de Constantino havia sido série temporal e espiritual do Catolicismo, levou o Papa Pio IX a se sentir prisioneiro no Vaticano, quando as sedes da Igreja se viram envolvidas e incorporadas à capital italiana, situação somente resolvida no século XX, quando  Mussolini restabeleceu a soberania do Estado do Vaticano.

"O papa de Roma, como sucessor de Pedro, tem plena e direta autoridade sobre toda a igreja e seus bispos; além disso, pronunciando-se ‘ex-cathedra’, é infalível e imutável em suas decisões, sem necessidade do consentimento da igreja"; este é o dogma da infalibilidade papal, aprovado no tempo de Pio IX, em 1870, como resposta católica à Modernidade. Diante dos problemas que surgiram na Europa a partir da época da Revolução Francesa, Roma preferiu se esconder atrás do muro de um papado exaltado e infalível. Disse não a socialismo, racionalismo, liberdade de imprensa e de religião, escolas públicas, sociedades bíblicas, separação entre igreja e estado e outras imposições do progresso. A situação prevaleceu até o século XX, quando o Concílio Vaticano II mudou radicalmente muita coisa no Catolicismo Romano.


ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...