sexta-feira, 10 de julho de 2020

22. O EVENTO DA REFORMA

31 de outubro de 1517 foi o dia em que Martinho Lutero afixou suas 95 teses contra a venda de indulgências. As teses representavam um convite para o debate com seus alunos na Universidade de Wittenberg.

Como antecedentes da Reforma, lembramos inicialmente a ação do frade dominicano Johann Tetzel (1465-1519). O catolicismo defendia o dogma do purgatório, um lugar de tormento para onde as pessoas ia depois da morte, a fim de purgar seus pecados antes de sua ascenção para o céu. Tetzel vendia indulgências, ou seja, declarações escritas do papa para diminuir o tempo de permanência no purgatório. “Assim que a moeda cai no cofre, sobe a alma do purgatório” era o refrão da propaganda de Tetzel. As 95 teses de Lutero protestavam contra o abuso da venda dessas indulgências e contra a preocupação exagerada da igreja em relação à riqueza. Não foi uma série de declarações especialmente radicais, não contestavam a existência do purgatório ou o dogma das indulgências; no entanto, elas chegaram até o papa através do arcebispo local, gerando uma intensa reação no Catolicismo.

No século XVI, o clamor por “liberdade” era generalizado. Os camponeses clamavam por ela e não foi por acaso que aconteceram muitas guerras camponesas. Como havia muitas guerras, surgiram epidemias e pestes que dizimavam a população. As muitas mortes causavam medo. Naquele século também estava surgindo novo modelo econômico, o capitalismo incipiente; não se fazia mais riqueza a partir do trabalho na terra, mas com especulação financeira. Surgia, assim, o medo de se perder o pouco capital que se tinha.

Deus era a causa do maior medo e, para torná-lo favorável ao ser humano pecador, era necessário que se fizessem boas obras e se comprassem da Igreja indulgências, cujo valor substituía a penitência.

Desses medos e angústias participou Lutero. Por mais que se esforçasse para agradar a Deus, mais se descobria pecador, mais se sentia prisioneiro de seus temores. Lutero então descobriu que a justiça de Deus é diferente da justiça humana. Em Cristo, podemos estar na presença de Deus justificados pelo seu sacrifício vicário.

Após o evento, como consequência, Lutero queimou a bula papal que o ameaçava de excomunhão, o imperador do Sacro Império Carlos V convocou uma audiência na cidade de Worms, os aliados de Lutero o defenderam habilmente; Lutero compareceu pessoalmente à audiência, com a promessa de proteção. Ali ele disse: "Pela misericórdia de Deus, peço a vossa Majestade Imperial e vossos Ilustres Senhores, ou a qualquer um que tenha representatividade, que testifiquem e refutem meus erros, contradizendo-os com o Antigo e o Novo Testamentos. Estou pronto, se for melhor instruído, a me retratar de qualquer erro, e serei o primeiro a atirar meus escritos na fogueira."

A acusação não queria questionar razões, mas exigia retratação. Lutero respondeu: "Vossa Majestade Imperial e os Senhores Lordes exigem uma resposta simples. Aqui está ela, clara e direta. A não ser que, pelas Escrituras, eu esteja convicto do erro [...] e que minha consciência esteja cativa pela Palavra de Deus: não posso e não vou me retratar de nada, pois fazer isso contra a nossa consciência não é seguro nem é uma opção para nós. A esse respeito, tomo minha firme posição. Não posso fazer de outra forma. Ajudai-me, Deus. Amém."

As ideias de Lutero se espalharam por toda a Europa, impulsionadas pela imprensa recém-criada. Em muitos lugares, essas ideias encontraram ouvintes bem-dispostos. A evidente corrupção da Igreja Católica despertara em muitos o anseio por mudanças, e um renovado interesse pelo antigo conhecimento conduziu a uma redescoberta das Escrituras. 

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...