31 de outubro de 1517 foi o dia em que Martinho Lutero afixou suas
95 teses contra a venda de indulgências. As teses representavam um
convite para o debate com seus alunos na Universidade de Wittenberg.
Como antecedentes da
Reforma, lembramos inicialmente a ação do frade dominicano Johann Tetzel
(1465-1519). O catolicismo defendia o dogma do purgatório, um lugar de tormento
para onde as pessoas ia depois da morte, a fim de purgar seus pecados antes de
sua ascenção para o céu. Tetzel vendia indulgências, ou seja, declarações
escritas do papa para diminuir o tempo de permanência no purgatório. “Assim
que a moeda cai no cofre, sobe a alma do purgatório” era o refrão da
propaganda de Tetzel. As 95 teses de Lutero protestavam contra o abuso da venda
dessas indulgências e contra a preocupação exagerada da igreja em relação à
riqueza. Não foi uma série de declarações especialmente radicais, não contestavam
a existência do purgatório ou o dogma das indulgências; no entanto, elas chegaram
até o papa através do arcebispo local, gerando uma intensa reação no
Catolicismo.
No século XVI, o clamor por “liberdade” era
generalizado. Os camponeses clamavam por ela e não foi por acaso que
aconteceram muitas guerras camponesas. Como havia muitas guerras, surgiram
epidemias e pestes que dizimavam a população. As muitas mortes causavam medo.
Naquele século também estava surgindo novo modelo econômico, o capitalismo
incipiente; não se fazia mais riqueza a partir do trabalho na terra, mas com
especulação financeira. Surgia, assim, o medo de se perder o pouco capital que
se tinha.
Deus era a causa do maior medo e, para torná-lo
favorável ao ser humano pecador, era necessário que se fizessem boas obras e se
comprassem da Igreja indulgências, cujo valor substituía a penitência.
Desses medos e angústias participou Lutero. Por
mais que se esforçasse para agradar a Deus, mais se descobria pecador, mais se
sentia prisioneiro de seus temores. Lutero então descobriu que a justiça de
Deus é diferente da justiça humana. Em Cristo, podemos estar na presença de
Deus justificados pelo seu sacrifício vicário.
Após o evento, como
consequência, Lutero queimou a bula papal que o ameaçava de excomunhão, o
imperador do Sacro Império Carlos V convocou uma audiência na cidade de Worms, os
aliados de Lutero o defenderam habilmente; Lutero compareceu pessoalmente à
audiência, com a promessa de proteção. Ali ele disse:
"Pela misericórdia de Deus, peço a vossa Majestade Imperial e
vossos Ilustres Senhores, ou a qualquer um que tenha representatividade, que
testifiquem e refutem meus erros, contradizendo-os com o Antigo e o Novo
Testamentos. Estou pronto, se for melhor instruído, a me retratar de qualquer
erro, e serei o primeiro a atirar meus escritos na fogueira."
A acusação não
queria questionar razões, mas exigia retratação. Lutero respondeu: "Vossa Majestade Imperial e os Senhores
Lordes exigem uma resposta simples. Aqui está ela, clara e direta. A não ser
que, pelas Escrituras, eu esteja convicto do erro [...] e que minha consciência
esteja cativa pela Palavra de Deus: não posso e não vou me retratar de nada,
pois fazer isso contra a nossa consciência não é seguro nem é uma opção para
nós. A esse respeito, tomo minha firme posição. Não posso fazer de outra forma.
Ajudai-me, Deus. Amém."