No final do século XV, quando as grandes
navegações revelaram a existência de terras no Novo Mundo, Lutero ainda estava
nos seus estudos iniciais na Alemanha e, portanto, a Reforma Protestante ainda
não tinha acontecido. Assim sendo, em comparação com o Catolicismo, ingleses,
franceses e holandeses levaram mais de um século para iniciar a pregação do
evangelho segundo os protestantes no Novo Mundo. Quando James I assumiu o trono
inglês em 1603, iniciando a dinastia dos Stuarts, os puritanos da Inglaterra frustraram-se
com o atendimento de apenas um item da Petição Milenar: a tradução e edição de
uma nova Bíblia em inglês, a ainda hoje famosa versão do Rei James (King
James version). Aumentou então o número de grupos separatistas, reunindo-se
em congregações que se isolaram do anglicanismo, assim como se intensificaram
as perseguições religiosas. Entre os muitos grupos formados, dois tiveram uma
formação única, com separação de segurança pelo crescimento do número de
membros, chefiados por John Smyth em Gainsborough e John Robinson em Scrooby.
Ambos fugiram juntos em 1608 para a Holanda, ficando o primeiro em Amsterdã e o
segundo em Leyden. O primeiro grupo deu origem, no ano seguinte, ao embrião que
originou a Primeira Igreja Batista Inglesa da história. O segundo, tendo ouvido
falar da colônia de Virgínia, da Nova Inglaterra, forneceu parte da tripulação
de cerca de uma centena de pessoas, que embarcou no navio Mayflower, em 1620,
os chamados "Pais Peregrinos" da nação Americana.
Por não terem conseguido implantar a linha
calvinista na igreja inglesa, como John Knox tinha feito na Escócia com o
presbiterianismo, os puritanos começaram a vislumbrar uma Nova Canaã no Novo
Mundo. Monarcas desejosos de reforma religiosa principalmente focada no aspecto
político que lhes interessava, além do egoísmo e da falta de visão da liderança
interna puritana, fizeram com que o movimento não atingisse seus objetivos nas
Inglaterra.
“E providenciarei um lugar para Israel, o meu povo, e os plantarei lá, para que tenham o seu próprio lar e não mais sejam incomodados. Povos ímpios não mais os oprimirão, como fizeram no início”. Esta mensagem, baseada em II Samuel, foi o sermão de despedida pregado por John Cotton, na partida da Inglaterra de mais de 400 imigrantes em 1630, rumo à Nova Inglaterra. Após muitas dificuldades iniciais, aos primeiros colonos foram acrescidos os novos peregrinos e milhares de outros que vieram em seguida, iniciando- se a colonização no Novo Mundo e trazendo para a América a fé cristã de diferentes denominações e grupos protestantes, com predominância inicial na região da Igreja Congregacional. Em 1648, quando a Paz de Westfalia foi assinada na Europa, nas colônias inglesas da América do Norte, os cristãos estavam pagando o alto preço pela unidade religiosa forçada. Na época, cerca de 25 mil puritanos já haviam migrado para a Nova Inglaterra, ali encontrando uma relativa liberdade religiosa que não existia na Bretanha, mas com uma uniformidade de conduta imposta. A promessa de política geral de tolerância religiosa trouxe os quacres para a Pensilvânia, os católicos para Maryland, holandeses para Nova York, além de grupos luteranos, suecos, huguenotes franceses, batistas ingleses e presbiterianos escoceses. A região que importou a velha política de uniformidade religiosa da Inglaterra foi a da Baía de Massachusetts, onde a visão de uma nova aliança entre Deus e o povo puritano buscava uma forma mais justa de governo civil e eclesiástico, no qual as discrepâncias quanto ao segmento das normas legais estabelecidas para a congregação eram severamente punidas. Isso gerou reações individuais e coletivas, como a de Anne Hutchinson e Roger Williams, este último responsável pelo aparecimento da Primeira Igreja Batista Norte-Americana em Rhode Island, território para onde fugiu.
Licenças para o estabelecimento das colônias
eram dadas pelo rei da Inglaterra, e a de Massachusetts foi perdida para a
coroa inglesa em 1684, quando o domínio religioso da colônia voltou a ser da
igreja anglicana. Na colônia de Massachusetts, voto e moralidade pública eram
controlados pela igreja com base em leis estabelecidas pelo governo e baseadas
na Bíblia. Essa tentativa puritana de legislar sobre a moralidade foi
contestada e anulada pela mentalidade americana no decorrer do tempo, que
passou a prezar a liberdade pessoal acima do caráter social. O próprio ímpeto
inicial dos puritanos da primeira aliança arrefeceu e, já na metade do século
XVII, surgiu a "Aliança pela Metade", bem menos exigente que é a
primeira. No início do século XVIII, a herança puritana se diluiu e coube ao
Grande Avivamento cuidar do despertamento espiritual da nação. A ala puritana inicial
preservou sua herança na legislação e nos costumes, mantendo a ética, mas
aceitando cada vez mais as ideias de liberdade que vinham da Europa.
Foi muito importante a contribuição puritana para a formação civil e religiosa da grande nação norte-americana. A mensagem de que, através do trabalho, poder-se-ia alcançar a graça e a salvação divina, consolidou uma visão ética e patriótica que contribuiu para a prosperidade dos colonos e do país, de um modo geral.