quinta-feira, 9 de julho de 2020

39. UMA AMÉRICA CRISTÃ


Lyman Becher, um pastor presbiteriano de formação puritana da Nova Inglaterra da primeira metade do século XIX, lutou em favor da visão de uma América cristã. Ele foi um dos fundadores da Sociedade Americana de Temperança, defendendo a abstinência contra as bebidas alcoólicas. Baseado em Isaías, ele afirmou certa vez que os cristãos deveriam aproveitar a oportunidade para "modelar o destino político e religioso da nação".

A visão de uma América cristã é dominante no Protestantismo norte-americano do século XIX. A independência americana foi feita com base em 13 estados, resultados das colônias iniciais. Em 30 anos, 9 novos estados foram criados e acrescentados aos Estados Unidos da América. O Oeste americano não era selvagem somente por causa dos povos nativos, mas também por causa dos brancos conquistadores que o desbravaram. Contribuíram para a divulgação do evangelho no Oeste as recém criadas sociedades missionárias e o avivamento entre as igrejas.

O Oeste era a grande realidade da época, oferecendo aos cristãos evangélicos o espaço para lançar os clamores do evangelho sobre a nação inteira. Na época de Lyman, surgiu a figura do pregador do evangelho no Oeste, muito bem representado pelo presbiteriano James McGreedy. A primeira "assembleia em acampamento" foi realizada no Kentucky, em 1800, após suas pregações em cidades da região, que motivaram o deslocamento de gente percorrendo até 260 quilômetros e trazendo provisões em carroças ou montados em animais. Existindo durante um bom tempo, esses eventos se transferiram posteriormente para locais urbanos, com auditório em praças de esporte, tendo Finney, Moody e Billy Graham como pregadores em épocas mais recentes. O grande problema que surgiu para diluir um pouco o entusiasmo das reuniões de campo foi a escravidão.

O primeiro grupo de 20 negros escravos chegou à América do Norte em 1619, um ano antes do Mayflower. Dois séculos após, na época de Lyman, o número de escravos chegava a dois milhões. Com a expansão para o Oeste americano, a escravidão passou a ser discutida amplamente, no sentido da sua manutenção ou extinção. Ao destruir sua cultura e quebrar sua organização social, a escravidão imposta pelo homem branco privou os escravos de sentirem que tinham um lugar no mundo. Tentaram então, com confusão e perplexidade, buscar um significado para sua existência no mundo do homem branco. Na Bíblia, os escravos conheceram o Deus da raça branca, tendo surgido o pregador negro com figura importante na igreja dos escravos, a chamada "instituição invisível". Jesus e o êxodo do povo israelita foram o personagem e o evento mais queridos dos escravos que, na falta de esperança nessa vida terrena, passaram a ansiar pela morte, quando Deus os livraria dos grilhões para um mundo mais livre e feliz na eternidade. Esse sentimento transparece nos hinos "negro spirituals" por eles criados. Alguns cristãos foram capazes de justificar a escravidão até com textos bíblicos durante a polêmica, ficando o Sul cada vez mais afastado do Norte e até mesmo do Oeste americano. “A Cabana do Pai Tomás”, de Harriet Beecher Stowe, filha de Lyman Beecher, foi uma obra literária importante no período.

Choques culturais surgiriam ao longo do século XIX, nos Estados Unidos e na Europa: a origem das espécies de Charles Darwin, a crescente industrialização e a formação de uma população urbana em grandes centros, vinda da zona rural, além da visão crítica da Bíblia surgida na educação de alto nível, foram movimentos que mudaram no Ocidente as formas cristãs de pensamento, tornando-as mais seculares. Seriam novos tempos difíceis de serem enfrentados.

ÍNDICE

Introdução 1.        O século apostólico 2.        Expansão, perseguição e defesa da fé 3.        Acusações e perseguição 4.        ...