Lyman Becher, um pastor presbiteriano
de formação puritana da Nova Inglaterra da primeira metade do século XIX, lutou
em favor da visão de uma América cristã. Ele foi um dos fundadores da
Sociedade Americana de Temperança,
defendendo a abstinência contra as bebidas alcoólicas. Baseado
em Isaías, ele afirmou certa vez que os cristãos deveriam aproveitar a
oportunidade para "modelar o destino político e religioso da
nação".
A visão de uma América cristã é
dominante no Protestantismo norte-americano do século XIX. A independência
americana foi feita com base em 13 estados, resultados das colônias iniciais.
Em 30 anos, 9 novos estados foram criados e acrescentados aos Estados Unidos da
América. O Oeste americano não era selvagem somente por causa dos povos
nativos, mas também por causa dos brancos conquistadores que o desbravaram.
Contribuíram para a divulgação do evangelho no Oeste as recém criadas sociedades
missionárias e o avivamento entre as igrejas.
O Oeste era a grande realidade da
época, oferecendo aos cristãos evangélicos o espaço para lançar os clamores do
evangelho sobre a nação inteira. Na época de Lyman, surgiu a figura do pregador
do evangelho no Oeste, muito bem representado pelo presbiteriano James
McGreedy. A primeira "assembleia em acampamento" foi realizada no
Kentucky, em 1800, após suas pregações em cidades da região, que motivaram o
deslocamento de gente percorrendo até 260 quilômetros e trazendo provisões em
carroças ou montados em animais. Existindo durante um bom tempo, esses eventos
se transferiram posteriormente para locais urbanos, com auditório em praças de
esporte, tendo Finney, Moody e Billy Graham como pregadores em épocas mais
recentes. O grande problema que surgiu para diluir um
pouco o entusiasmo das reuniões de campo foi a escravidão.
O primeiro grupo de 20 negros
escravos chegou à América do Norte em 1619, um ano antes do Mayflower. Dois
séculos após, na época de Lyman, o número de escravos chegava a dois milhões. Com a expansão para o
Oeste americano, a escravidão passou a ser discutida amplamente, no sentido da
sua manutenção ou extinção. Ao destruir sua cultura e quebrar sua organização
social, a escravidão imposta pelo homem branco privou os escravos de sentirem
que tinham um lugar no mundo. Tentaram então, com confusão e perplexidade,
buscar um significado para sua existência no mundo do homem branco. Na Bíblia,
os escravos conheceram o Deus da raça branca, tendo surgido o pregador negro
com figura importante na igreja dos escravos, a chamada "instituição
invisível". Jesus e o êxodo do povo israelita foram o personagem e o
evento mais queridos dos escravos que, na falta de esperança nessa vida
terrena, passaram a ansiar pela morte, quando Deus os livraria dos grilhões
para um mundo mais livre e feliz na eternidade. Esse sentimento transparece nos
hinos "negro spirituals" por eles criados. Alguns cristãos foram
capazes de justificar a escravidão até com textos bíblicos durante a polêmica,
ficando o Sul cada vez mais afastado do Norte e até mesmo do Oeste americano. “A
Cabana do Pai Tomás”, de Harriet Beecher Stowe, filha de Lyman Beecher, foi uma
obra literária importante no período.
Choques culturais surgiriam ao longo do século XIX, nos Estados Unidos e na Europa: a origem das espécies de Charles Darwin, a crescente industrialização e a formação de uma população urbana em grandes centros, vinda da zona rural, além da visão crítica da Bíblia surgida na educação de alto nível, foram movimentos que mudaram no Ocidente as formas cristãs de pensamento, tornando-as mais seculares. Seriam novos tempos difíceis de serem enfrentados.